10 de dezembro de 2013
O jornal Correio Braziliense publicou nesta segunda-feira, 9 de dezembro, matéria sobre o trabalho do Samu – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, que completa 10 anos em 2013. Na reportagem, o epidemiologista Armando de Negri, que atualmente representa a Abrasco junto a Comissão Intersetorial de Trauma e Violência do Conselho Nacional de Saúde, falou sobre os problemas que o serviço enfrenta. Confira a reportagem na íntegra:
Desde que foi implantado no Brasil, dez anos atrás, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o Samu, não parou de crescer. Das 309 unidades móveis cobrindo 13% da população nacional, no início, passou para os atuais 3.041 veículos que atendem 72% dos brasileiros. Ninguém ousa questionar o sucesso da iniciativa, que esbarra, porém, no problema crônico da falta de leitos nas emergências de todo o país, onde o atendimento deve prosseguir. Constantemente, as macas do Samu ficam retidas nos hospitais, até que uma vaga surja para o paciente, impossibilitando as ambulâncias de continuarem atendendo os chamados de socorro.
“O Samu é um dos programas que trouxeram mais benefícios para a população. Hoje, é impossível imaginar a saúde pública sem ele. Pacientes que passavam mal ou sofriam acidentes morriam sem qualquer tipo de assistência. Agora, eles chegam vivos aos hospitais. Pena que o serviço foi implantado dentro de um sistema que já não tinha como dar conta da demanda naquela época”, explica Mauro Ribeiro, coordenador da Câmara Técnica de Urgência e Emergência do Conselho Federal de Medicina (CFM).
A crise no setor da saúde pode ser medida levando em consideração padrões adotados pelo próprio governo. De acordo com o Ministério da Saúde, deve haver de 2,5 a três leitos por mil habitantes. A média brasileira é de 2,4. Se analisado apenas o SUS, esse índice cai para 1,7. No caso de UTIs, o parâmetro é de um a três leitos a cada 10 mil pessoas. O Brasil tem 1,8 considerando a rede privada e 0,94 quando se trata apenas dos leitos públicos. Mais da metade do total de vagas em terapia intensiva, no entanto, está no Sudeste. A má distribuição dos serviços de emergência no país atinge, sobretudo, as regiões Norte e Nordeste.
“Temos crianças aqui no Rio Grande do Sul que têm de vencer 500, 600km para conseguir leito de UTI. O caso da boate Kiss ilustra bem a importância dessas vagas. Muitas vidas foram salvas, naquele episódio, porque o hospital local ficava a 3km da base aérea, então houve condição de transportar pacientes na mesma noite para a UTI em Porto Alegre”, exemplifica Fernando Suparregui Dias, presidente eleito da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib).
A falta de vagas em UTIs, de acordo com o coordenador-geral da Rede Brasileira de Cooperação em Emergências, Armando De Negri, também resulta em superlotação dos prontos socorros, onde os pacientes graves acabam alocados. O especialista considera que, dentro da situação financeira do país, o Samu funciona bem. Ele critica, porém, a falta de distinção entre leitos agudos e de UTIs. “Em outros países, já se usa essa classificação do agudo, resultando numa melhor radiografia da situação”, diz De Negri.
O Samu já protagonizou, em 10 anos de existência, problemas de desvio de destinação e de desperdício de dinheiro público. Um dos casos recentes, revelado pelo Correio, foi o uso de um helicóptero do Samu pela ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti (PT), para visitar Santa Catarina. Auditoria do Tribunal de Contas da União também apontou motolâncias adquiridas pelo Ministério da Saúde paradas. Mesmo problema foi verificado com 43 ambulâncias do Samu no Rio de Janeiro. “A gente lamenta quando ouve notícias como essas, mas podemos dizer que, de forma geral, o Samu trabalha corretamente, prestando um serviço relevante para a população”, defende Vanessa Rocha da Silva, coordenadora do núcleo do Samu no Plano Piloto, em Brasília. (RM e JC)