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1000 dias sem Marielle Franco

Hara Flaeschen

“Nós, trabalhadores e militantes da Saúde Coletiva, que fazemos esforços diários para preservar vidas, nos sentimos aviltados diante da matança de jovens negros por instituições do próprio Estado, exatamente as que deveriam cuidar da segurança pública”. Essas palavras poderiam ter sido publicadas pela Abrasco neste dezembro de 2020, diante do assassinato de Emily e Rebeca, de 4 e 7 anos, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Mas foram publicadas pela Associação em março de 2018, após a execução de Marielle Franco e Anderson Gomes. 1000 dias depois, não há respostas suficientes sobre o crime.

A vereadora do Rio de Janeiro e o motorista foram assassinados em 14 de março de 2018, no centro da cidade, em uma emboscada. Algumas pessoas envolvidas no caso foram presas. No entanto, ainda não se sabe quem foi o mandante e, tampouco, por quais motivos tiraram a vida da mulher negra, favelada, bissexual, ativista dos direitos humanos e eleita com mais de 40 mil votos para ocupar um cargo na Câmara Municipal da cidade.

No dia seguinte ao assassinato, a Abrasco repudiou, em nota, a execução sumária de Marielle e Anderson, e associou o episódio às denúncias que a vereadora fez das arbitrariedades cometidas pelas “forças militares de intervenção” que ocupavam a cidade do Rio de Janeiro, na época. “A coragem de Marielle representa a vontade da maioria dos brasileiros de se contrapor a um governo [governo Temer] que foi imposto ao nosso país e que tem contribuído para que a população, de forma geral, mas principalmente a população de mulheres e homens negros desse nosso país, se sinta ainda mais insegura”.

Em julho de 2018, a imagem de Marielle Franco, sorrindo, dava as boas vindas aos cerca de 8 mil participantes do 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva – o Abrascão -, em uma enorme tenda no campus da Fiocruz, em Manguinhos. A vereadora foi homenageada na abertura do evento, um grito coletivo – e engasgado pela indignação – dos pesquisadores, estudantes, professores e trabalhadores da saúde presentes: é preciso se levantar contra a barbárie.

Em uma entrevista à Comunicação da Abrasco, Anielle Franco, irmã de Marielle, afirmou que a mãe delas não desejava a candidatura da primogênita. “Coração de mãe”, disse. Mas era o que Marielle queria: “Ela era filha do mundo e estava muito feliz. A gente a perdeu, Marielle não volta mais, mas estamos nos acalentando, agora é seguir com sabedoria e calma, mas é tudo muito pesado”. A dor dos familiares, e sua luta por justiça, ultrapassou todas as barreiras físicas e subjetivas. O nome ganhou as ruas, circula pelo globo, ecoa nos ouvidos daqueles que sonham com uma sociedade mais justa. Mais que nunca, filha do mundo: um símbolo de resistência.

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