“Tava durumindo, Cangoma me chamou
Tava durumindo, Cangoma me chamou
Disse: levanta povo, cativeiro já acabou
Disse: levanta povo, cativeiro já acabou…”
(Clementina de Jesus)
A abolição não foi completa, a escravidão é contemporânea. O Estado brasileiro teve participação direta na instituição da escravização: lapidou e legitimou instrumentos de opressão. Nas sucessivas reformas do Estado Brasileiro, os princípios democráticos não se efetivaram.
De 1940 até 1980, o Brasil deixou de informar nos censos se as pessoas eram Pretas, Pardas, Fulas, Gege, Benguela, Mina, Rebolo, Congo, entre outras origens africanas. O Estado cortou o cordão umbilical de parte da população com a África, os testemunhos foram desautorizados e excluíram essa conexão das memórias oficiais. A “escrevivência” do povo negro não encontrou acolhimento nos livros da história oficial.
Coube à população negra viver à própria sorte, sem qualquer justiça ou reparação. O Estado colonial perpetuou-se no genocídio, ecocídio, epistemicídio, dispositivos de racialidade e de apagamento. A população negra é a mais acometida por doenças cardiovasculares, diabetes e outros agravos evitáveis. O neoliberalismo impede a implementação de ações afirmativas e a mobilidade social ascendente da população negra, cujos corpos sofrem represálias nos aeroportos, na Câmara Legislativa, no Judiciário, nas universidades, nos serviços de saúde, nas ruas.
A história e as narrativas seguem em disputa. O povo negro se constituiu como coletivo, territórios de resistências, quilombos, ressignificando a luta por direitos à terra, trabalho, cultura, educação, habitação, tradições ancestrais, saúde. Nesse contexto, a branquitude (e o seu projeto de país anti-negro) não pode ser subestimada e precisa ser reconhecida nas ossadas do Cais do Valongo e dos cemitérios dos Aflitos.
A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) marca o reconhecimento histórico do holocausto da escravização, cujas iniquidades impactaram negativamente a saúde da população negra. Aos 13 de maio de 2023, a Abrasco busca se firmar como instância antirracista e democrática, socialmente comprometida e historicamente referenciada.
AMANHECER LIVRE, PERMANECER LIVRE e com dignidade.