Neste domingo, as atividades do primeiro dia oficial do 14º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (14º Abrascão) foram encerradas pelo Grande Debate “A democracia em transe: debatendo as crises dos regimes democráticos no ocidente”, atividade que ocupou a plenária principal do evento. O debate ficou por conta da abrasquiana, pesquisadora do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz Antonio Ivo de Carvalho (CEE-Fiocruz) e uma das sanitaristas que criaram a Abrasco, Sonia Fleury; do diretor executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO) e professor da Universidade de Buenos Aires (UBA), Pablo Ariel Vommaro; e da médica, professora, sanitarista e deputada federal (PT-MG), Ana Pimentel. A conversa foi conduzida pela pesquisadora e vice-presidente da Abrasco, Carmem Leitão.
Antes da atividade ter início, a Abrasco realizou homenagens póstumas aos pesquisadores e sanitaristas Javier Uribe Antônio e Francisco de Assis Machado. Na sequência, Carmem Leitão destacou a importância do encontro e sua relação com o movimento da Reforma Sanitária, que formulou a relação direta entre democracia e saúde. “A Abrasco abraça a perspectiva de uma democracia ampla e uma democracia que se direciona à justiça social. A palavra democracia sempre é destaque nos Congressos organizados pela Associação”, explicou.
A pesquisadora Sonia Fleury inaugurou o debate e também reforçou a noção de que saúde e democracia não se dissociam. Integrante do movimento da Reforma Sanitária, Fleury participou ativamente da criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e acompanhou o processo de redemocratização do Brasil, bem como a Constituinte. A professora elencou antigos desafios que envolvem a democracia e trouxe novas problemáticas que surgem, como o avanço do neoliberalismo, movimentos autoritários e desafios no âmbito da comunicação digital – as big techs e os algoritmos. Uma das perguntas disparadoras do debate enunciadas pela abrasquiana foi: “quanta desigualdade suporta uma democracia?”.
A partir desse questionamento, Fleury lembrou que as políticas públicas e os sistemas de saúde universais, como o SUS, estão em risco e que é preciso fazer um combate articulado. “A saúde está em ameaça e as políticas de proteção social também. A nossa luta é sempre uma luta global pelo sistema democrático e pelos direitos sociais e humanos. Vivemos isso num momento em que há predomínio do capital financeiro sobre todas as outras formas de capital, que tem implicado em grandes transformações”, registrou.
O professor Pablo Vommaro deu continuidade ao Grande Debate e abordou a situação de crises e constantes ameaças aos regimes democráticos na América Latina. O pesquisador mencionou a situação da Colômbia, do Brasil e da Argentina e refletiu sobre os processos que fragilizam a democracia. Vommaro ratificou que qualquer análise desses contextos não pode desconsiderar o quão complexos são esses fenômenos, com diversas crises que se atravessam, o que ele chamou, com base em diversos autores, de “policrise”.
“Essa crise da democracia é mais profunda. Possui atravessamentos econômicos, políticos, culturais, psicológicos entre outros. A noção de policrise permite compreender a dinâmica do mundo contemporâneo através da articulação de crises entrelaçadas”, explicou.
A última apresentação foi a da deputada federal Ana Pimentel (PT-MG). A parlamentar abordou o atual contexto político brasileiro e defendeu que o que se chama de “crise entre o executivo e legislativo” é na verdade uma estratégia da extrema direita de criar uma falso embate, enquanto esse grupo político tenta passar agendas neoliberais, com medidas de austeridade e de enfraquecimento de políticas sociais. Essa iniciativa tenta esconder o que a parlamentar chamou de crise do neoliberalismo.
“O que está em crise, de fato, é a legitimação do neoliberalismo. O neoliberalismo, nos termos em que se colocou para responder às demandas sociais, não deu certo. Desde de 2008 isso foi, aos poucos, abrindo uma fissura social. O neoliberalismo disse às pessoas que se elas se esforçassem e corressem atrás, teriam sucesso. A resposta aos estados nacionais foi que bastava desconstruir políticas públicas para viver numa sociedade melhor – mais financeiração seria melhor. E o que aconteceu foi o oposto. Quanto mais o neoliberalismo se aprofundou, mostrou a sua face mais perversa com o aumento da pobreza e desigualdade”, registrou.
Veja aqui o Grande Debate na íntegra:
O 14º Abrascão continua até o dia 3 de dezembro no CICB, em Brasília!

14° Abrascão em Brasília!
Criado em 1986, o Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva é um dos mais importantes fóruns científicos da área da Saúde Coletiva. Carinhosamente conhecido como Abrascão, acontece a cada três anos.






