A sétima edição do Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde terá como conferencista de abertura o professor titular do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE e ex-presidente da Associação Latino-americana de Sociologia. Pós-doutor pela Universidade de Nanterre, Paris X, Martins é Colaborador do Mouvement Anti-Utilitariste dans les Sciences Sociales (MAUSS) e da Revue du MAUSS (França). Membro dos conselhos editoriais das revistas Revue Culture et Société (Strasbourg – França), Política & Trabalho (Paraíba), Revista de Sociologia Política (Santa Catarina), Estudos de Sociologia (Pernambuco) e BIB da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS). Na sua atividade intelectual busca articular de forma interdisciplinar os estudos sobre a dádiva, buscando o diálogo permanente com a antropologia, com a política e com a psicologia.
Na manhã da segunda-feira, 10 de outubro, Paulo Martins vai abordar na conferência de abertura, o tema Epistemologias do Sul e seus impactos sobre as ações e políticas em saúde no Brasil. – ” As Epistemologias do Sul buscam explorar as perspectivas de construção de um conhecimento teórico e prático a partir das características singulares das sociedades pós-coloniais como a brasileira. O desenvolvimento destas epistemologias leva em conta a importância de se contextualizar os processos históricos e sociais de modo a revelar o conjunto de memórias e experiências coletivas que foram negligenciadas, abandonadas ou reprimidas pelo projeto colonial eurocêntrico e que foram desconsideradas pelo pensamento iluminista europeu. A contextualização do saber acadêmico tem particular importância para se visualizar as possibilidades de conexão da praxis teórica com os eventos práticos em sociedades em crise. Ou seja, além do elemento da contextualização do saber que resulta das Epistemologias do Sul é importante considerar os novos desafios intelectuais que emergem de sociedades em crise como a brasileira. A revisão do desenvolvimento dos estudos avançados em ciências sociais no Brasil , nas últimas décadas, é uma tarefa relevante para se conhecer os desafios contemporâneos de produção de um saber que apontem para novos horizontes sociais e humanos. As ciências sociais em saúde têm pela frente, logo, um desafio muito importante na atual conjuntura na medida em que elas se desenvolveram nas interfaces da teoria e da prática em saúde. Mas elas partiam do principio de democratizar as políticas de saúde num contexto de crescimento econômico. Há que se averiguar os novos desafios que tais ciências devem enfrentar num contexto de ameaça aos direitos democráticos e de des-desenvolvimento econômico e social”, explica o conferencista.
Sobre o trabalho que a Abrasco desenvolve, o professor Paulo Martins salienta que o papel fundamental da Associação para o desenvolvimento do SUS porém – “hoje, necessita atualizar seus entendimentos da saúde para vislumbrar as lutas e estratégias que deve adotar para preservar as conquistas obtidas ao longo dos anos. Há que se avaliar os avanços do SUS e também seus limites na organização de uma cidadania democrática na saúde, o que é decisivo neste contexto da crise. Há que se aprofundar o tema do empoderamento das populações humildes na construção das ações em saúde para fortalecer os ganhos obtidos até o momento. Mas tal empoderamento não pode se limitar a mobilizações políticas devendo considerar a consciência e o sentimento do cuidado, cuidado de si e cuidado do outro”, diz o sociólogo.