Nos dias 7 e 9 de fevereiro de 1911, nasce em Lanús, província de Buenos Aires, Argentina, Hector Julio Paride Bernabó, que viria a se tornar conhecido como Carybé. Veio ao mundo no dia 7, mas este só foi informado oficialmente da chegada no dia 9, data que consta no seu registro. Talvez em virtude dos dois aniversários por ano tenha nascido sua índole festeira. É o caçula dos 5 filhos de Enea Bernabó e Constantina Gonzales de Bernabó. Enea, natural de Fivizzano, região da Toscana, Itália, tinha espírito aventureiro e correu o mundo. Começou suas andanças aos dezessete anos, quando foi para os EUA, e não parou mais.
Pintor, escultor, muralista, ilustrador, desenhista, ceramista, entalhador, foi ainda jornalista, historiador, pesquisador. Carybé aportou pela primeira vez na Bahia em 1938, e entre ida e vindas, chegou definitivamente em Salvador em 1950 onde viveu até sua morte. Impulsivo e de grande afetividade e emoções foi amigo e parceiro, na realização de obras, do fotógrafo francês Pierre Verger, também radicado em Salvador, do escritor Jorge Amado e do compositor Dorival Caymmi, entre outros ilustres baianos. A Bahia tornou-se sua inspiração e abrigo. Sua obra refletiu os detalhes da miscigenação, da cultura e em especial da sua gente e a maior parte do seu trabalho de Carybé destacou cores e movimentos de pessoas, quer no trabalho, quer nas ruas, nas danças, nas festas, etc.
É a partir dessas características de suas obras que a Abrasco espera realizar o 7º Simpósio Brasileiro de Vigilância Sanitária entre os dias 26 a 30 de novembro de 2016. As variadas cores e movimentos da obra caryberiana certamente refletirá o intenso e caloroso debate durante o 7º Simbravisa, sob tema será “O SUS e seu Sistema Nacional de Vigilância Sanitária” .
A obra escolhida representa a população brasileira nas suas diversidades que deve ter seus direitos à saúde e qualidade de vida garantidos, acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS) e também garantida a proteção da sua saúde pelo Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS). Também remete o pensamento às pessoas e grupos que lutam pela construção desses sistemas, quer trabalhadores, dirigentes e sociedade civil organizada. Como referiu Jorge Amado – ‘Baiano verdadeiro não é o que nasce mas o que renasce na Bahia’. Assim foi Carybé.
A Coordenadora da Comissão Cultural deste 7º Simbravisa, Daniella Guimarães de Araújo, redigiu o texto ‘A Bahia que nos protege’ que rende homenagens não só para Carybé, mas ainda outros grandes nomes da arte baiana – um capítulo especial da arte no mundo. Confira:
‘Conta a história que Carybé era amigo de Verger, Amado e Caymmi.
“Baianos fundamentais ” que retrataram o mar e suas jangadas , mulheres, religiosidades, capoeiras, a tradição do povo comum.
As cores, labores e suores.As danças e os amores.
Amigos do firmamento azul e do oceano azul.Dos muitos orixás.Do molejo das ondas , do atabaque dos terreiros, dos sambas do corpo e da alma. Obás de Xangô.
Carybé vicejava como o artista múltiplo que era.
Verger, fotógrafo francês e antropólogo.
Amado escrevia romances inesquecíveis.
Caymmi tocava e cantava.
Tudo era Bahia. Tudo é Bahia, em sua brasilidade comum .
Bahia dos nossos inícios, das nossas descobertas.
Da comida gostosa e quente, dos deuses e deusas africanos .
Dos pescadores e suas redes e maresias. Do Cheiro da baía de todos os santos. De meu pai Xangô, da benção de mãe Iemanjá.
Ai baianas e baianos. Ardor de sol na pele escura.
Delícia das pimentas. Capoeiras e feiras.
Hoje, metade de mim é Bahia.
E reverenciando alguns homens baianos , convidamos as mulheres para cantar.
As mulheres de Itapuã no início do século 19, compravam seus peixes na mãos dos pescadores de Itapuã.
Limpavam, embalavam e seguiam de balaio na cabeça até Salvador, para vender os peixes, sustento de suas famílias.
A Bahia tem a força das mulheres Ganhadeiras de Itapuã.
Cantem para nós, mulheres Ganhadeiras de Itapuã .
Homenageiem Carybé e seus amigos, homens que tanto amaram este povo brasileiro, este povo baiano.
Homenageiem os trabalhadores da saúde deste Brasil.
A Bahia, território deste 7º Simbravisa , é múltipla e intensa, feminina e masculina. É rede e é pesca. Música, pintura e poesia.
No Simbravisa, a vigilância sanitária e seu conjunto de ações protetoras da saúde, também são muitas, reflexo deste país diverso e enorme.
No embalo destas redes baianas, nós da saúde coletiva buscamos fortalecer a vigilância sanitária, fortalecer o Sistema Único de Saúde – o SUS.
Nosso alimento.
A benção Senhor do Bonfim.
Obrigada Caribé.
Obrigada amado Jorge Amado.
Obrigada Verger.
Obrigada Dorival Caymmi.
Esse empréstimo de belezas faz a vida melhor.
Que os deuses e deusas dessa terra nos inspirem.
Salve o acarajé! Salve a procissão dos navegantes! Salve a trezena de Santo Antônio! Salve o Mugunzá!
Salve Axé de Opô-Afonjá! Salve as ondas verdes do mar!
Mãe menininha , salve! Salve Gabriella Cravo e canela! Salve dona Flor! Salve Jubiabá!
Salve Carybé! Salve a puxada da rede!
Ganhadeiras de Itapuã, cantem, cantem…
Homens e mulheres, a puxada da rede é nossa.
“Minha jangada vai sair pro mar…vou trabalhar…meu bem querer…”
Vamos juntos.
Na espera dos peixes, a vida avança…
É a Bahia que nos protege.
Axé!’