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A ciência se despede de Mervyn Susser

Bruno C. Dias

As ciências da saúde computam mais uma triste perda nesse ano de 2014. Aos 92 anos, o médico epidemiologista Mervyn Susser faleceu em 14 de agosto, em sua casa, nos Estados Unidos. Junto com sua mulher, a pesquisadora Zena Stein, Susser foi um dos responsáveis pela consolidação de um novo olhar sobre a saúde.

Nascido na África do Sul, desde os primeiros momentos de sua formação, Susser foi influenciado pelas primeiras experiências voltadas para a atenção primária e saúde comunitária, na década de 1940 e 1950. Junto com Zena, abriu uma clínica na comunidade negra de Alexandra, região de Joanesburgo, para prestar assistência médica aos não-brancos em um momento em que eles eram basicamente ignorados pelo sistema de saúde. A partir dessa experiência, publicou um dos primeiros estudos relacionando saúde e injustiça social – A assistência médica em uma comunidade do Sul Africano, em 1955, na revista The Lancet.

O reconhecimento de seus estudos rendeu convites para trabalhos no Departamento de Medicina Preventiva e Social da Universidade de Manchester, onde atuou como diretor médico para a Saúde Mental para a cidade de Salford, na Inglaterra, e na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Columbia, nos EUA, até o final da década de 1970, quando fundou Gertrude H. Sergievsky Center, com a missão de explorar as origens do desenvolvimento de distúrbios neurológicos. Ele dirigiu o instituto até o início da década de 1990.

Ao longo dos anos, desenvolveu estudos fundamentais em epidemiologia do ciclo vital, epidemiologia genética, epidemiologia dos transtornos de neurodesenvolvimento, e saúde global. Na eclosão das mortes causadas pela AIDS, também foi um dos primeiros a se debruçar para entender os mecanismos de transmissão e retornou suas atenções ao continente africano, desenvolvendo, sempre ao lado de Zena, estudos e contribuindo para construir capacidade científica para melhorar a resposta ao HIV/AIDS na África do Sul, Lesoto, Namíbia e Suazilândia e contribuir para a formulação de políticas públicas. O reconhecimento da atuação do casal na luta contra a AIDS e o apartheid motivou a cessão de seus nomes a um auditório da Universidade de Durban, na África do Sul, em cerimônia presidida por Nelson Mandela.

Uma de suas últimas contribuições científicas foi a obra “Eras in Epidemiology: The Evolution of Ideas”, que descreve a evolução histórica da epidemiologia e que, na opinião de Sandro Galea, atual chefe do departamento de epidemiologia da Mailman School of Public Health, de Columbia, irá moldar o campo nos próximos anos.

Para Kenneth Camargo, membro da Comissão de Ciências Sociais e Humanas em Saúde da Abrasco e pesquisador do Instituto de Medicina Social (IMS/Uerj), a produção de Susser deve ser lembrada e celebrada por toda a comunidade científica internacional. “Encontrei pela primeira vez os doutores Mervyn Susser e Zena Stein em 1995, no Congresso de Epidemiologia que a Abrasco realizou em Salvador, quando ele proferiu um conferência brilhante, que serviu de base ao artigo publicado em duas partes, no American Journal of Public Health, e que mais tarde desenvolveria no “Eras in Epidemiology” Tornei a encontrá-los anos mais tarde, em 2004, em Durban, África do Sul, e mais uma vez em 2006, em Nova Iorque, num seminário em Columbia. Para minha surpresa, ambos lembravam de nosso encontro prévio, e me fizeram várias perguntas sobre a saúde pública brasileira”.

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