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A difícil construção do diálogo das Ciências Sociais nas graduações em Saúde

Um diálogo feito entre diferentes na busca da construção de um campo de conhecimento fundamental às práticas de saúde. Essa compreensão perpassou a discussão realizada na mesa redonda Ensino de Ciências Sociais e Humanas nos cursos de graduação das profissões de Saúde, no VI CBCSHS, na manhã de 15 de novembro. O encontro contou com a participação dos professores Nelson Filice de Barros, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (FCM/Unicamp), Marcelo Castellanos, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) e Denise Coviello, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/SP). A coordenação foi da professora Mara Helena de Andrea Gomes, também da Unifesp.

O professor Nelson Filice iniciou sua fala discutindo a constituição do campo das ciências sociais em saúde dentro das escolas sociológicas e instituições nacionais e estrangeiras. “Enquanto no exterior os institutos de sociologias têm áreas próprias da saúde, nossa tradição, ao contrário, é de sermos cientistas sociais da saúde”. Por conta dessa construção histórica, evidencia-se principalmente o processo intervenção nas práticas e discursos sócio-médicos do que o de compreensão, o que amplia os embates entre as compreensões dos pensamentos médico-social e sócio-médico no campo das academias. “Estamos todo o tempo manejando uma identidade deteriorada, tanto no campo da saúde como no campo das Ciências Sociais”, disse Filice, ao destacar que percebe uma indiferenciação das humanidades no campo das ciências médicas, apesar de frisar a importância da construção desse conhecimento como fundamental para a compreensão contemporânea da Saúde.

Marcelo Castellanos vivenciou estas dificuldades enquanto foi professor em faculdades particulares na grande São Paulo e encontrou outro cenário quando ingressou no curso de Saúde Coletiva na Federal da Bahia, sobre o qual baseou sua apresentação. “Vejo um olhar desejoso dos alunos pelo conhecimento. Nunca é fácil o processo de formação, mas é um grande desafio”. Atualmente, as disciplinas de Ciências Sociais contam com 300 horas na grade curricular e a área já lidera algumas cadeiras de práticas integradoras. Para ele, os principais papeis das Ciências Sociais são trabalhar na relação entre teoria e práticas em Saúde Coletiva e articular a relação desses saberes com outras graduações e com a pós-graduação.

A busca por ações práticas dos alunos da área da saúde desde os primeiros semestres da graduação e o encontro com cadeiras teóricas é um dos elementos que a professora Denise Coviello acredita como sendo os dos geradores do desconforto sentido pelos docentes. A professora percebe diferentes reações das graduações de psicologia, enfermagem e medicina no contato com os conceitos da Antropologia que trabalha em sala de aula. Enquanto os alunos de enfermagem, na sua experiência, recebem bem a crítica aos modelos biomédicos, ao mesmo tempo eles evidenciam em seus discursos a aceitação dessas normas. Já na psicologia, percebe um diálogo mais questionador e maior distância na construção dos temas de saúde coletiva com a medicina. “Vamos sempre disputar com os grandes livros que os alunos acreditam ser mais importantes e temos de entender como hoje essa geração entende a produção de conhecimento num tempo marcado pela velocidade e pela superficialidade que pode ser encontrada na internet”. Denise destacou ainda a importância de os pares docentes de outras cadeiras reconhecerem a importância dos conhecimentos ministrados. “Isso diz muito do sucesso ou não do processo de consolidação do conhecimento por nós ensinado”.

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