Com depoimentos de antigos amigos e de jovens que se inspiram em seu legado, a Ágora Abrasco expôs toda a intensidade da trajetória acadêmica, política e militante de Hesio Cordeiro, falecido no dia 8 de novembro. Médico, sanitarista, professor e militante da saúde coletiva, Hesio foi lembrado por se destacar nas áreas em que atuou sempre deixando uma marca, especialmente nos debates da Reforma Sanitária e da construção do Sistema Único de Saúde.
Militante, formulador e articulador
José Luís Fiori abriu o painel contando emocionado sobre sua parceria com Hesio desde o primeiro encontro, o convite para a formação do mestrado no Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IMS/UERJ) e o trabalho em conjunto. Fiori destacou especialmente o lado agregador de Hesio, que conseguia manter o grupo unido e sem competições, engajado no crescimento do IMS. E juntamente com essa capacidade de trabalhar em grupo, outra característica de nosso homenageado foi destacada por Lucia Souto, presidente do Cebes, que conheceu Hesio ainda na Faculdade de Medicina da UFRJ: “A principal característica do Hesio para mim era a ousadia intelectual”.
Mas a ousadia de Hesio Cordeiro não significava de forma alguma uma atuação afobada ou ansiosa. Militante que lutou contra a ditadura, o sanitarista também carregava a paciência como qualidade na atuação política, como destacou seu amigo Nelson Rodrigues dos Santos (Unicamp): “Nunca vi o Hesio perder a cabeça, ficar desesperado, abandonar e voltar depois. Ele nunca deixou. Era aquele que ia devagar e sempre!”. Nelson, ou Nelsão, como é chamado carinhosamente pelos amigos, relatou experiências de décadas de atuação ao lado de Hesio, e destacou também a atuação do companheiro também na formação de entidades como o Cebes a Abrasco, a qual Hesio presidiu entre 1983 e 1985.
E o lado político de um militante que não desistia precisava de mais uma característica para conseguir implementar as propostas que defendia. Jairnilson Paim (UFBA) destacou exatamente este ponto em sua fala: “O Hesio era um grande articulador, uma pessoa capaz de formular iniciativas importantes e principalmente tinha uma grande capacidade de negociação”. Tais articulações não se limitavam ao Brasil, como destacou Jairnilson. Hesio buscava diálogo com especialistas da América Latina, da América do Norte, de todos os lugares possíveis para ampliar e aprimorar suas formulações.
Fortalecimento da pesquisa e legado vivo para futuras gerações
E se foi fundamental para a consolidação dos SUS em sua atuação militante, Hesio também atuou no fortalecimento da pesquisa na UERJ, onde foi Reitor entre os anos de 1992 e 1995. A diretora do IMS/UERJ, Claudia Lopes destacou essa fase: “Hesio teve um papel muito importante como reitor da Uerj. Participou da reformulação da universidade ampliando o papel dela na área de pesquisa”.
Já os mais jovens destacaram o legado vivo de Hesio, que continua influenciando a realidade de trabalhadores da saúde, como destacou Rhayana Nunes (ABLASC): “Hesio continua impactando a formação de vários trabalhadores da saúde coletiva. Se preocupou em educar e formar!”. Tal preocupação também está na fala de Vinícius Ximenes (RNMMP), que destacou a coerência de Hesio unindo teoria e prática: “O Hesio tem uma biografia bem interessante e é bom ver como a vida dele reflete na obra dele!”.
Com tantos relatos que trazem memória do passado e apontam para a importância de construções futuras, a presidente da Abrasco, Gulnar Azevedo, e o vice presidente, Reinaldo Guimarães, sintetizaram o sentimento de todos e todas em mais essa homenagem ao apontar que certamente Hesio Cordeiro estava presente na Ágora. Como é da cultura quando um importante militante nos deixa, fica o registro: Hesio Cordeiro! Presente!
Assista a íntegra da homenagem na TV Abrasco: