Oficialmente, o 2º Congresso Brasileiro de Política, Planejamento e Gestão em Saúde começou cantando, e a canção escolhida foi a ‘Balada do Louco’. Quem puxou o coro baixinho do auditório lotado foi o Grupo Persona Grata do Centro de Convivência Providência de Belo Horizonte e depois de Mutantes veio ainda ‘Negro gato’ e ‘Lig Lig Lé’, mas foi só quando o público percebeu que do fundo palco estavam vindo os primeiros acordes de ‘Estrela d’Alva’. O coro ganhou fôlego e já pareciam todos bastante familiarizados com a surpresa cultural da solenidade de abertura. No final da apresentação, a mulher mascarada com chapéu vermelho e vestida em preto e branco fala para a plateia “o mundo tem a cabeça quebrada, como faremos para remendar?”
Algumas das respostas viriam na sequência. Após a composição da mesa da solenidade e a fala das autoridades, o presidente da Abrasco, Luis Eugenio Portela avaliou a conjuntura nacional a luz das pautas da Saúde. Lembrou que durante o Abrascão há quase um ano, este congresso foi pensado para este ano num ‘momento de iluminação’ para renovar o desafio para a saúde coletiva brasileira de seu compromisso social. Luis Eugenio fez um apanhado do que se vê hoje pelo país: greve de bancários, greve de trabalhadores do Correios, com greve dos professores do Rio de Janeiro – massacrados pela truculência policial e refere-se a eles como sinais da ascensão dos movimentos sociais.
Autoridades compõem mesa de abertura da solenidade
Mais Médicos: O presidente da Abrasco falou ainda da polêmica do programa Mais Médicos “O SUS entrou na agenda política de nosso país de tal forma que obrigou o governo federal a tomar medidas emergenciais para dar respostas a essas mobilizações. As medidas emergenciais são bem-vindas, mas nós sabemos que são paliativas e precisam ser acompanhadas de medidas estruturantes para que de fato o SUS avance nos anseios da população por uma saúde de qualidade se concretize”. Para fechar seu discurso, Luis Eugenio agradeceu a presença de todos e voltou ao início da solenidade “quero lembrar que, assim como disseram nossos companheiros que se apresentaram aqui no início dessa solenidade, o SUS está de cabeça quebrada. Mas nós vamos consertar” (confira aqui o discurso de Luis Eugenio na íntegra).
Os homenageados:
Francisco de Assis Machado: Um dos mais respeitados sanitaristas do País. A construção do SUS e as lutas pela melhoria da saúde pública dos brasileiros fazem parte da trajetória de “Chicão. (na foto acima, com o professor Cornelis von Stralen).
Hesio Cordeiro: Sanitarista, ex-presidente da Abrasco, estava no grupo pioneiro que formulou a ideia de um sistema unificado que se transformaria no SUS. (na foto, cumprimentando a professora Eli Iola)
Eleutério Rodriguez Neto: Um dos líderes do Movimento Sanitário brasileiro. Participou da criação do Cebes e foi vice-presidente da Abrasco. Como Secretário Geral do Ministério da Saúde participou da organização da 8ª Conferência Nacional de Saúde. (na foto, representado pelas netas e esposa)
Aspas das autoridades:
Cornelis Van Stralen (presidente do Congresso): “O SUS está sendo construído pelos profissionais da saúde e pelos usuários, mas ainda sem o total apoio da sociedade. Nós viemos aqui para analisar melhor onde estamos e o que precisa ser feito, temos uma visão clara, mas falta estratégia. Espero que este Congresso contribua para isso.”
Eli Iola (presidente da Comissão Científica do Congresso): “Temos aqui grandes responsabilidades, na formulação e reflexão e ainda, responsabilidades de tomarmos decisões. Neste momento delicado, precisamos fazer a uma só voz a indicação de caminhos indispensáveis para a construção do SUS.”
Oscar Feo (coordenador-adjunto da Alames): “Agradeço que a Abrasco tenha aberta as portas de sua casa para este dia de grande produtividade latino-americana. É muito importante ver noBrasil o resgate dos conceitos da Universalidade, Igualdade e Integralidade da Saúde como um projeto possível, vamos retomar a luta da saúde pública.”
Ana Costa (presidente do Cebes): “O Cebes saúda a Abrasco por este congresso, embora seja apenas o segundo, faz parte de nossa caminhada, de mais de 40 anos, mas na maior parte das vezes, uma caminhada vitoriosa. Entretanto, nos deparamos agora com impasses como este do financiamento, mas o povo brasileiro está respondendo e por isso mesmo temos aí o Saúde + 10, com certeza, sairemos daqui muito mais fortalecidos.”
Adelmo Leão (Vice-presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais): “Conseguimos aqui em Minas Gerais 600 mil assinaturas para o Saúde + 10 diante deste movimento, lembro de Paulo Freire: O valor das palavras está em fazermos delas a nossa prática. Estamos juntos nesta luta.”