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Abertura do 9º Congresso Brasileiro de Epidemiologia reúne duas mil pessoas

Vilma Reis e Bruno Dias

Um auditório completamente lotado para prestigiar a solenidade de abertura do 9º Congresso Brasileiro de Epidemiologia da Abrasco – o Epivix, reconhecido como um dos mais consolidados encontros da área, a solenidade aconteceu neste domingo, 7 de setembro de 2014, no Centro de Convenções de Vitória, no Espírito Santo, e reuniu mais de duas mil pessoas.

As contribuições da Epidemiologia para a saúde da população estiveram em quase todos os discursos da mesa solene, composta por Ethel Maciel, presidente do congresso; José Tadeu Marino, secretário de Estado da Saúde do Espírito Santo; Reinaldo Centoducatte, reitor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES); Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde; Luis Codina, representando a Organização Panamericana de Saúde; Luis Eugenio de Souza, presidente da Abrasco; e ainda por Arthur Chioro, ministro da Saúde.

Bastante emocionada, a professora Ethel Leonor Noia Maciel, membro da Comissão de Epidemiologia da Abrasco e, atualmente vice-reitora da Universidade Federal do Espírito Santo, fez referência a todos os temas dos congressos anteriores, num apanhado histórico das oito edições. “Em sua nona edição, o Congresso Brasileiro de Epidemiologia chega a sua maturidade, desde o primeiro, em 1990, realizado em Campinas, até hoje, já são 24 anos de consolidação da Epidemiologia brasileira e as questões da equidade e da construção de uma saúde para todos têm sido o foco central das discussões epidemiológicas no Brasil”, lembra Ethel.

A presidente do congresso disse ainda que neste sete de setembro de 2014, mais um capítulo será escrito na história da Comissão de Epidemiologia da Abrasco, que elegeu as fronteiras da Epidemiologia contemporânea: do conhecimento científico à ação, como tema do Epivix. “Com este recorte temático queremos lançar luz sobre a inserção da Epidemiologia em sua contemporaneidade na abordagem do processo saúde-doença, tanto como disciplina firmemente compromissada com o sistema de saúde, lócus privilegiado para a efetiva prestação de serviços em Saúde para a nossa população”, explica Ethel.

Luis Codina, representante adjunto da OPAS/OMS no Brasil destacou a parceria do organismo com a Abrasco desde a fundação da Associação, que teve seu ato de fundação na sede da OPAS em 1979. Para ele, o 9º Congresso Brasileiro de Epidemiologia será fundamental para a internacionalização das evidências científicas e das propostas de políticas públicas produzidas no Brasil, importantes instrumentos a serem utilizados em outros países das Américas. Reforçou também o convite de celebração do aniversário de 35 anos da Associação, que será realizado em 23 de setembro, na sede da entidade, em Brasília. “Desde o início, buscamos o papel de facilitar da difusão do conhecimento e dessas experiências e já temos um novo encontro marcado daqui a duas semanas, em Brasília”.

José Tadeu Marino, secretário de saúde do Espirito Santo saudou o evento, o segundo encontro nacional da saúde pública realizado no Estado neste ano. “Recebemos no primeiro semestre o congresso do Conasems e agora sediamos este evento, que tenho certeza, será de extrema importância para a construção do Sistema Único de Saúde”.

O reitor Centoducatte agradeceu à Associação por “presentear a universidade nos seus 60 anos com a organização deste congresso”. Frisou a prioridade que a UFES vem tendo com os cursos da área da saúde, tanto pelo processo de interiorização dos mesmos, com a expansão do Centro Universitário do Norte do Espírito Santo, no município de São Mateus, como pela inserção de seus docentes na Comissão Científica e na programação do evento. Celebrou ainda o êxito do evento com um comentário espirituoso dirigido à presidente do Congresso, que é sua vice-reitora. “Ethel, pode ter certeza que o sucesso do pré-congresso e desta abertura irá tirar o suor que há pouco estava em suas mãos. Como reitor, gostaria de dizer que nossa comunidade acadêmica recebe o evento com alegria e exemplo”.

10% das receitas para o SUS: Em seu discurso na solenidade de abertura, Luis Eugenio de Souza, presidente da Abrasco, foi aplaudido duas vezes durante sua fala. A primeira demonstração dos congressistas veio quando Luis Eugenio fez referência ao Projeto de Lei de Iniciativa Popular n. 321/2013, o qual estabelece a aplicação de pelo menos 10% das Receitas Correntes Brutas da União em ações e serviços públicos de saúde. “Precisamos da ampliação dos recursos destinados à saúde, a começar pelos 10%. O Movimento Saúde + 10 conseguiu a assinatura de mais de dois milhões de assinaturas pedindo 10% da receita corrente bruta da União para a saúde, como garantia de que a saúde pública terá a segurança de financiamento”, destacou Eugenio.

Em seguida, Luis Eugenio pontuou que o programa Mais Médicos precisa ser ainda complementado pela política de carreira em Saúde, e mais uma vez foi aplaudido. Deu continuidade à sua fala lembrando as manifestações de 2013 e a agenda do Movimento da Reforma Sanitária “Os brasileiros foram para as ruas exigir um SUS para todos, um modelo de desenvolvimento nacional sustentável e inclusivo; foram pelo fortalecimento da participação social; pela integralidade da atenção à saúde com um padrão tecnológico adequado ao perfil epidemiológico da nossa população; por um modelo de gestão que favoreça a autonomia das regiões de saúde e a organização das redes de atenção, além da carreira para os trabalhadores da saúde e ainda por um financiamento adequado e estável”.

O presidente da Abrasco finalizou citando os homenageados deste 9º Congresso ‘cada nome representa a construção do SUS, vamos festejar o trabalho de Sergio Koifman, de Gilson Carvalho, de Eleutério Rodriguez Neto e vamos ainda, lembrar o legado de Cecília Donnangelo’.

Envolver a população na construção do SUS: O Ministro da Saúde Arthur Chioro lembrou aos presentes, logo no início do seu discurso, que é um sanitarista e professor de Saúde Pública, para saudar, na sequência, os 35 anos da Abrasco e a origem da Associação no movimento de redemocratização do país, além da inclusão, pela Abrasco, das novas graduações em Saúde Coletiva e o caráter de compromisso com a defesa dos princípios do Sistema Único de Saúde, sempre efetivo da Associação.

Chioro pontuou que, o título do Epivix, lembra o grande desafio de pavimentar as ‘pontes’ teóricas desta via do ‘conhecimento à ação’. “Este é um desafio cotidiano como ministro e de cada um aqui como pesquisador, professor, trabalhador da saúde pública. Assim como a Epidemiologia tem este desafio de trabalhar com a complexidade do conhecimento, construindo esta interdisciplinariedade, a gestão do SUS tem também enfrentado este desafio de lidar com a complexidade na saúde, nas relações intersetoriais e nas relações vivas com a sociedade”, ressaltou o ministro.

Para o final, ficou uma série de pontos que Chioro classificou como agendas centrais para o SUS. O primeiro ponto refere-se ao padrão de adoecimento e morte da população, ligando os novos riscos do modo de viver e consumir. Trazer para outro patamar a discussão de proteção, promoção e vigilâncias, assim como qualificar a atenção básica e, neste ponto, Chioro abordou os novos desafios do programa Mais Médicos. Ainda fazem parte da lista, a regulação do trabalho e formação em Saúde, a qualificação da gestão hospitalar, assim como as redes de atenção. Também foi pontuada a articulação entre público e privado no SUS “Precisamos refletir nas várias dimensões que este tema assume hoje: da regulação do setor ao cuidado compartilhado” frisou Chioro.

Homenagem: Ao fim da cerimônia, Ethel Maciel e Luis Eugenio renderam homenagens à Sergio Koifman, epidemiologista da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) falecido em 21 de maio último. A partir dessa edição, as conferências de abertura dos Congressos de Epidemiologia recebem o seu nome como marco de seu legado cientifico. Coube à professora Gulnar de Azevedo e Silva Mendonça, pesquisadora do Instituto de Medicina Social (IMS/Uerj) fazer um carinhoso relato sobre o papel de Koifman para área. “O Sergio foi um pioneiro, tanto nos estudos em epidemiologia do câncer como em epidemiologia ambiental. Acreditava no que fazia e fazia a gente acreditar no que faz. Ao comentar sobre seus alunos na ENSP, dizia que o importante era que eles voltassem para seus estados e aplicassem os conhecimentos em que investiam esforços e sonhos. A melhor lembrança que podemos ter dele era o largo sorriso, mesmo nos últimos 11 meses. Em nosso último encontro, estava feliz com a tese de um aluno sobre a sobrevida dos pacientes com câncer, justamente pela qualidade do trabalho em que ele – Sergio e o aluno – acreditaram possível. É com essa lembrança e carinho que quero dar um abraço na Rosalinda”, oferecendo esse gesto à esposa do professor Koifman, que recebeu das mãos de Ethel e Luis Eugenio uma placa que o homenageia por ter presidido o IV Congresso Brasileiro de Epidemiologia – EpiRio. O 9º Congresso Brasileira de Epidemiologia teve início na manhã da sexta-feira, dia 5, com a realização de curso, oficinas e reuniões. A programação prossegue até quarta-feira, 10 de setembro.

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