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Abrascão 2018: Alimentação saudável e valorização do pequeno produtor

Daniela Lessa / Portal Fiocruz

Inês Rugani é professora associada do Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro / Foto Abrasco

Sustentabilidade, saúde, solidariedade e, claro, sabor são alguns dos preceitos da organização da alimentação durante o 12º Congresso Brasilerio de Saúde Coletiva, o Abrascão 2018, que será realizado de 26 a 29 de julho na Fiocruz. A integrante do Grupo Temático Alimentação e Nutrição da Abrasco, Inês Rugani, conta que a organização do evento prioriza a parceria com pequenos produtores agroecológicos e defende escolhas em favor de um sistema alimentar mais justo e solidário em detrimento do hegemônico no Brasil, cuja tônica é industrial e geradora de desigualdades. Ela, que também é professora do Instituto de Nutrição da Uerj e integrante da Comissão Científica do Abrascão, aposta, ainda, na construção de uma aproximação maior entre esses produtores e instituições participantes do evento. Tudo isso, sem deixar de garantir o pleno atendimento dos participantes durante o Congresso.

1 – Que tipo de instalações serão criadas para servirem de espaços de alimentação? Qual a capacidade delas? Onde elas serão instaladas? Serão espaços permanentes ou temporários?

Ainda estamos desenhando como será esse mosaico de opções de alimentação no campus. A ideia é usar os restaurantes que já existem, otimizar o atendimento deles, e criar dois pólos de instalações temporários, tipo feiras. Uma será no estacionamento próximo à Escola Politécnica e a Ensp e outro será naquele onde serão montadas as tendas do evento, próximo ao campo de futebol. Nestes dois espaços serão oferecidas alimentação agroecológica e refeições tradicionais, que valorizam a cultura alimentar. Estamos estudando ainda a capacidade de atendimento dos parceiros que estamos contactando para avaliar se precisaremos criar mais pólos além desses dois.

2 – A alimentação durante o Abrascão terá uma proposta diferenciada, com produtos saudáveis, orgânicos etc. Poderia comentar o porquê de o congresso decidir por essa proposta? Essa é uma tradição do Abrascão?

A cada edição de eventos da Abrasco temos procurado garantir o máximo de coerência entre o que discutimos em termos de promoção da saúde e alimentação saudável e o que oferecemos durante os eventos. Uma experiência muito positiva nesse sentido foi a Conferência Mundial de Promoção da Saúde, na qual a Abrasco atuou na organização, em Curitiba, onde oferecemos comida de verdade: arroz, feijão, salada…refeição completa para todos os participantes. Outro exemplo foi o Congresso de Epidemiologia, que aconteceu recentemente e que teve toda uma preocupação da equipe local em garantir que fosse oferecida comida saudável nos restaurantes e nas cantinas.

3 – Quais serão os parceiros para o oferecimento desse tipo de alimentação? A organização está buscando parcerias com pequenos produtores e outros atores do campo?

Sim, esses são os parceiros prioritários. Tivemos uma reunião com as pessoas que atuam na feira agroecológica que acontece regularmente no entorno da Ensp. Então, MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), Via Campesina e Rede Carioca de Agricultura Urbana são os movimentos com os quais estamos em contato prioritário para a organização da oferta de alimentação. Sabemos que o volume de refeições que teremos que disponibilizar é muito grande e esses parceiros estão nos ajudando a identificar outros, de outras feiras, além de pessoas que trabalham com cultura alimentar e que possam nos atender também. O que a gente sabe é que queremos valorizar esses perfis: os pequenos produtores, camponeses e pessoas que trabalham com agricultura urbana. E ampliar, na medida da necessidade, para que possamos garantir não só a valorização desses perfis de produtores, mas também o atendimento pleno dos participantes. A avaliação desses movimentos é de que precisaremos de muitas barracas ao mesmo tempo para atender o público no horário de pico, que será na hora do almoço.

4 – É um objetivo da organização que essas parcerias rendam frutos de longo prazo para a relação entre a Fiocruz e esses fornecedores? Se sim, de que tipo?

Uma parte das pessoas com quem estamos conversando já tem uma relação sólida com a Fiocruz por meio dessa feira que acontece regularmente. Temos, sim, a expectativa e o desejo, de que essa experiência deixe um legado positivo com possibilidades para além das que já existem. O desafio posto, e que estamos amadurecendo para ser uma realidade no futuro, é sobre a possibilidade de apoiar pequenos agricultores para fornecerem alimentos para os restaurantes que funcionam na Fiocruz. Essa iniciativa depende do termo de referência e da forma de contratação, mas a aproximação desses fornecedores/produtores com os estabelecimentos é um processo que está acontecendo em várias instituições de ensino superior. Esperamos que cada vez mais as instituições comprometidas com a saúde façam essa escolha de política pública de compra institucional. Então, esse é um exemplo de possibilidade de parceria futura. Um outro legado interessante seria que mais instituições passassem a realizar feiras regulares de produtos agroecológicos e orgânicos dos pequenos produtores e dos camponeses, como já existe na Uerj, na UFRJ e na própria Fiocruz.

5 – A Fiocruz já possui iniciativas e parcerias na área da alimentação saudável, como o projeto Terrapia. Elas serão envolvidas na produção do evento? De que forma?

Sim. Representantes do Terrapia participaram na última reunião e estão envolvidos em todo o processo de concepção de como vai ser essa grande feira que vamos fazer para atender o Congresso.

6- Com essa iniciativa, há a expectativa de se divulgar a existência de outras alternativas alimentares para a sociedade? Acreditam que isso pode ser um incentivo à alimentação saudável?

Sim. Acreditamos que para além de garantir que as pessoas se alimentem bem durante a evento, queremos proporcionar vivências positivas de alimentação saudável, compartilhada e solidária para demonstrar que um sistema alimentar mais justo e sustentável é possível. Assim, a escolha por realizar feiras que envolvam agricultores agroecológicos, pequenos agricultores e camponeses tem tudo a ver com a ideia de defender um sistema alimentar diferente do hegemônico no Brasil e em várias lugares do mundo, um sistema alimentar que realmente produza vida, e não injustiça e morte.

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