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“É na diversidade que se constrói a democracia”: Abrascão 2022 debate interseccionalidade e políticas públicas

Letícia Maçulo

Especialistas apontaram caminhos para uma reconstrução democrática que abarque a diversidade. Foto: Fernando Gomes/Abrasco

A diversidade é um dos temas principais do 13º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. Para alinhar expectativas e formular propostas para maior acolhimento das diferenças no Sistema Único de Saúde, o Abrascão 2022 recebeu especialistas para debater a importância da diversidade na construção da saúde na reconstrução democrática. Diante dos desmontes e ataques ao financiamento dos sistemas de saúde e de educação sofridos nos últimos anos, o Grande Debate da última terça-feira (22), foi central para acolher demandas das populações vulnerabilizadas e traçar estratégias para uma retomada democrática que inclua a população brasileira e toda sua diversidade.

A abertura do debate deu o tom: um toré indígena marcou o início. O ritual, característico das nações indígenas que vivem no Nordeste do país, une dança, religião, canto e homenagens aos animais e à natureza, com pisadas ritmadas que marcam a apresentação. “O toré carrega a identificação de nosso povo, é nossa identidade. Quem nos vê pisar nos reconhece.”, afirma Txale Fulkaxó, que completa “Nós pisamos, cantamos, soltamos o ar e nos movemos conforme os elementos. Para nós, entre o céu e a terra não há uma separação e sim uma conjunção.”

A apresentação foi seguida pela fala de Ubiraci Pataxó, da Aldeia de Coroa Vermelha, que trouxe o olhar do cuidado em diversidade. Ele, que é cuidador de pessoas e aprendiz de Pajé, reforçou a importância do resgate da nossa história ancestral e do afastamento da visão do colonizador para que possamos reescrever nossa história. “É preciso que a gente mantenha o contato e o contato não seja apenas teórico, mas na prática. Nós existimos em vocês e vocês existem em nós, e assim, nós resistimos.”, completa.

Após a fala de Ubiraci, o toré prosseguiu pelos espaços do Centro de Convenções, enchendo o Congresso com seus cantos, gritos inspirados em sons de animais da fauna brasileira e pisadas fortes e imponentes.

Expandindo o olhar para a América Latina, María del Rocío Sáenz, da Universidade de Costa Rica, foi a primeira debatedora. Em sua fala, reforçou que a construção da democracia em saúde requer a compreensão e a ação sobre as injustiças e uma investigação sobre as causas das causas. “As instituições reproduzem os contextos e os valores da sociedade. Nós somos parte desses valores e os instrumentamos. Se fizermos isso de forma acrítica, viramos parte desses processos de desigualdade.”, afirma.

A professora Helena Cortês, professora da Universidade de Pelotas, mulher trans e pesquisadora de políticas públicas, reforça a importância de espaços de escuta e de formulação de políticas que comportem corpos diversos e que se ancoragem no cuidado em perspectiva interseccional. “Precisamos de mais participação de pessoas LGBTQIA+ em todos os setores. Precisamos trazer para o centro do processo o sujeito e suas especificidades As construções das nossas políticas são feitas aqui, nestes espaços, com as conversas e discussões que temos, buscando construir saúde na perspectiva da diferença.”, afirma. “É na diversidade e na diferença que a gente constrói políticas públicas e democracia”, afirma.

Os grandes debates do Abrascão 2022 estão sendo transmitidos pela TV Abrasco, confira.

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