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APRESENTAÇÃO
Invenção brasileira, o termo Saúde Coletiva está hoje presente na agenda acadêmica e política de países da América Latina, do Caribe e da África. Trata-se, mais que tudo, de uma forma de abordar as relações entre conhecimentos, práticas e direitos referentes à qualidade de vida. Em lugar das tradicionais dicotomias – saúde pública/assistência médica, medicina curativa/medicina preventiva, e mesmo indivíduo/sociedade – busca-se uma nova compreensão na qual a perspectiva interdisciplinar e o debate político em torno de temas como universalidade, eqüidade, democracia, cidadania e, mais recentemente, subjetividade emergem como questões principais. Foi em torno desses temas e do desafio de formar profissionais atentos à corrente de novas idéias sobre os problemas de saúde, alguns antigos, outros produtos de mudanças recentes nos campos biomédico, político e social, que se organizou, em 1979, a Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco). Muitos começos poderiam ser pensados para se iniciar a narrativa de uma história tão recente quanto rica e complexa.
No momento de criação, sem dúvida, impôs-se a força do movimento sanitarista da década de 1970, para o qual contribuíram diversos fatores, tanto os relacionados a correntes de pensamento que se organizavam nos centros de pesquisa e ensino como os relativos às políticas nacionais de saúde e de ciência e tecnologia. Em um contexto de regime autoritário e luta pela democracia, o Brasil foi palco de intensos debates sobre o rumo das políticas sociais e o papel a ser desempenhado pelo Estado. Entre as expressões desse movimento de idéias, SAÚDE COLETIVA COMO COMPROMISSO 10 destaca-se a criação do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), em 1976, e de sua revista Saúde em Debate.
Essa e outras iniciativas devem ser lembradas como marcos de um processo que culminou com a constituição formal da Abrasco durante a I Reunião sobre Formação e Utilização de Pessoal de Nível Superior na Área de Saúde Coletiva, em setembro de 1979 (Belisário, 2002; Escorel, 1998; Escorel, Nascimento & Edler, 2005; Teixeira, 1985). Ao se considerar o contexto latino-americano, pode-se também relacionar a gênese da Abrasco ao desenvolvimento de perspectivas críticas à abordagem médica tradicional dos problemas de saúde no continente (Arouca, 2003). Alguns anos antes, em fins da década de 1960, fora realizada ampla pesquisa sobre educação médica na América Latina, coordenada pelo médico e sociólogo Juan César Garcia, com o apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e da Fundação Milbank. O trabalho estimulou, em diferentes países, a criação de cursos de pósgraduação em medicina social e a revisão das abordagens predominantes em centros universitários e institutos de Saúde Pública.
Em 1973, criou-se, sob o impulso dessas novas orientações, o primeiro curso de medicina social no continente – o Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) –, com apoio da Opas, da Fundação Kellog e da principal agência de fomento à pesquisa no Brasil daquele período: a Financiadora de Estudos e Projetos – Finep (Escorel, 1998; Garcia, 1972; Nunes, 1985, 1994)
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