Um dos principais centros culturais de São Paulo, o Sesc Pompeia vem sofrendo ataques em sua página no Facebook desde a semana passada por receber, na semana que vem, a filósofa estadunidense Judith Butler. Ela participa do seminário “Os fins da democracia – Estratégias Populistas, Ceticismo sobre a Democracia e a Busca por Soberania Popular”, promoção conjunta entre Berkeley e a USP, no qual estão previstas as participações de outros tantos professores oriundos de diferentes universidades, como Humboldt Universität, Boğaziçi University, Université de Paris VII, Universidade de Buenos Aires, que acontece entre os dias 7 e 9 de novembro. Além de participar do seminário, a filósofa vem ao Brasil para lançar seu último livro, Caminhos divergentes – judaicidade e crítica do sionismo, obra que faz uma crítica ao sionismo político dialogando com filósofos como Emmanuel Levinas, Hannah Arendt e Walter Benjamin. Uma das principais teóricas dos estudos queer, Butler também exerce grande influência em outros campos teóricos e disciplinares como a Ética e a Filosofia Política. É autora de, entre outros, Problemas de gênero – Feminismo e subversão da identidade, Relatar a si mesmo – Crítica da violência ética e A vida psíquica do poder – Teorias da sujeição.
Judith Butler é doutora em Filosofia pela Universidade de Yale, professora na Universidade da Califórnia, Berkeley, onde leciona no Departamento de Literatura Comparada e no Programa de Teoria Crítica, é autora de 15 livros, dos quais seis traduzidos no Brasil por diferentes editoras.
Confira aqui programação completa do seminário Os Fins da Democracia.
Butler é uma das mais importantes intelectuais americanas no campo dos estudos de gênero, é considerada uma das responsáveis por uma mudança radical no cenário dos estudos de gênero, a teoria que defende que a identidade de gênero e a orientação sexual não estão automaticamente associados ao sexo biológico. “A noção de ‘ideologia de gênero’ só quer oferecer um ponto de vista polêmico. Esses grupos [conservadores] não entendem que o que se defende é que a justiça social não vai ser construída sem o fim da discriminação de gênero. Eu acho um grande erro censurar os estudos de gênero por um medo de que isso possa reduzir o sexo biológico”, disse ela em entrevista de 2015.
O Seminário reunirá pesquisadores e pesquisadoras norte-americanos, latino-americanos e europeus que, como nós, professores brasileiros e brasileiras, desenvolvem um trabalho intelectual cuja premissa é a liberdade de pensamento, a possibilidade de crítica, e a capacidade de colocar em debate questões relevantes para o conjunto da sociedade. Essa liberdade, no entanto, está ameaça por grupos que pretendem impedir a vinda de Butler ao Brasil, a realização do seminário e o livre diálogo de ideias.
Nós, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco, manifestamos publicamente nosso apoio integral à vinda da professora Judith Butler ao Brasil e o exercício de sua liberdade de expor seus argumentos, proposições e discussões, por não acreditarmos em cerceamentos. Uma mordaça sobre sua fala é uma ameaça para todos e todas nós, cuja vida acadêmica e intelectual não pode prescindir desta liberdade.