Mesa de Abertura. Da esquerda para a direita: Rômulo Paes de Sousa (Abrasco); Eduardo Melo (Observatório do SUS da ENSP/Fiocruz); Marco Menezes (ENSP/Fiocruz) e Fabiana Damásio (Fiocruz Brasília). Foto: Ascom – Fiocruz Brasília. Presidente da Abrasco, Rômulo Paes de Sousa. Foto: Ascom – Fiocruz Brasília. Conferência de Leonardo Avritzer (UFMG), mediada por Fabiana Damásio (Fiocruz Brasília). Foto: Ascom – Fiocruz Brasília. Mesa-redonda. Da esquerda para a direita: Sonia Fleury (CEE-Fiocruz); Rômulo Paes de Sousa (Abrasco); Eduardo Mello (Observatório do SUS da ENSP/Fiocruz) e a deputada federal Ana Pimentel (PT – MG). Foto: Ascom -Fiocruz Brasília. Público acompanha o seminário. Foto: Ascom – Fiocruz Brasília. Oficina realizada durante o seminário. Foto: Ascom – Fiocruz Brasília.
A Abrasco e o Observatório do SUS da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fiocruz (ENSP/Fiocruz) realizaram nesta quinta-feira (13), na Fiocruz Brasília, na capital federal, o seminário “O SUS e a Agenda Legislativa Federal”. O evento, com transmissão ao vivo pelo canal no YouTube da ENSP, reuniu durante todo o dia especialistas e parlamentares para discutir os desafios e perspectivas para o Sistema Único de Saúde (SUS) no âmbito do Congresso Nacional.
Durante a mesa de abertura, o diretor da ENSP, Marco Menezes, destacou a importância da atividade. “Construir uma agenda, uma parceria da Fiocruz e da Abrasco, é necessário para que se possam pautar questões importantes no parlamento. A discussão com o parlamento e com a sociedade é fundamental para o Sistema Único de Saúde (SUS)”, declarou.
‘O Presidencialismo de Coalizão na Conjuntura Atual’
Após a mesa de abertura, a partir das 9h30, o professor Leonardo Avritzer ministrou a conferência “O Presidencialismo de Coalizão na Conjuntura Atual”, que foi mediada pela diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio. O pesquisador iniciou suas considerações explicando a teoria do “presidencialismo de coalizão”, um sistema político no qual o presidente é eleito ao receber a maioria absoluta dos votos, mas não tem maioria no parlamento, o que ocorre no Brasil desde 1989.
Ao elencar as mudanças nesse sistema político ao longo dos últimos anos, o pesquisador destacou o crescimento da direita e alguns indicadores de desequilíbrio na dinâmica do poder, com a perda de capacidade do governo de pautar propostas no legislativo e o aumento das despesas com emendas parlamentares, fatos que denotam um enfraquecimento do poder executivo e um fortalecimento do Congresso Nacional.
Além disso, ao falar dos desdobramentos para a saúde, Avritzer indicou a dificuldade de governos progressistas sustentarem a agenda para qual foram eleitos, pois com o aumento de poder do legislativo e o sequestro de atribuições do executivo, o “centrão”, que pende para a direita, tende a ditar as tendências.
“Se você tem um governo progressista, com agenda progressista, o presidencialismo de coalizão começa a ser um problema, pois é uma política centrista. Dessa maneira, começa a ocorrer uma despolitização das políticas públicas como o SUS”, afirmou.
‘O Panorama do SUS na Agenda Legislativa Federal’
Na sequência, a partir das 10h30, teve início a mesa “O Panorama do SUS na Agenda Legislativa Federal”, com o objetivo de apontar as principais pautas legislativas da saúde e propor reflexões sobre o cenário atual. Os convidados foram a deputada federal Ana Pimentel; o presidente da Abrasco, Rômulo Paes de Sousa; e a professora e pesquisadora do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE/Fiocruz), Sonia Fleury. Eduardo Melo foi o responsável pela mediação.
O presidente da Abrasco, em consonância com o que foi debatido na conferência do professor Leonardo Avritzer, abordou o crescimento do legislativo, o sequestro do orçamento através das emendas parlamentares e as tensões com o judiciário e o executivo. Para Rômulo Paes, essa situação não é sustentável e prejudica políticas públicas no âmbito da saúde.
“Até que ponto é sustentável essa situação para o Congresso? Esvaziar em demasia o executivo, com risco de falência da política pública…Especialmente porque a política de saúde compõe a identidade de um governo de esquerda que busca a melhoria do bem-estar da população empobrecida. Diante de um eventual sucesso dessa política, qual terá sido o papel do legislativo, além dos discursos protocolares? Esta situação de descalibragem não é sustentável. Teremos que encontrar outra forma de equilíbrio de poderes nesse país”, concluiu.
As dinâmicas de poder, disputas e a forma como as pautas da saúde são conduzidas na Câmara dos Deputados foram justamente os tópicos abordados pela deputada federal Ana Pimentel (PT – MG). A parlamentar detalhou ainda os trabalhos que foram realizados nos últimos dois anos na Comissão de Saúde. Um dos problemas identificados é o esvaziamento da discussão nas comissões, o que enfraquece pautas relevantes para o SUS.
“Existe um esvaziamento das comissões e a disputa política passou a ser no plenário. Como fazer política se as comissões não estão debatendo política? Há o comprometimento do novo presidente da Câmara [Hugo Motta (Republicanos – PB) de retomar o papel das comissões e pautar a urgência só quando necessário”, detalhou.
Sonia Fleury também analisou o atual contexto político brasileiro e o sequestro de competências do executivo pelo legislativo. Para a pesquisadora, o executivo precisa pensar não apenas em governança, mas em governabilidade.
“Existe uma Hipertrofia do legislativo, hiper politização do judiciário e enfraquecimento do executivo. A saída é pensar em governabilidade e não em governança. Governança tem relação com o arranjo político que se faz para governar; e governabilidade tem relação com a legitimidade, um atributo da sociedade. O governo precisa, então, mobilizar a população”, explicou.
‘Agenda Legislativa para o Fortalecimento do SUS’
As atividades desta quinta-feira (13) são fruto do projeto “Agenda Legislativa para o Fortalecimento do SUS”, que conta com recursos de emenda parlamentar da deputada federal Ana Pimentel (PT – MG). Coordenador do Observatório do SUS da ENSP/Fiocruz, Eduardo Melo detalhou as ações que serão desempenhadas nessa parceria entre a Abrasco e a Fiocruz.
“Um acompanhamento da agenda legislativa relevante e estratégica para o SUS e é um projeto que pretende acompanhar as agendas e subsidiar o debate dentro do parlamento, para que consigamos avançar e evitar riscos e retrocessos a essa grande política pública brasileira, que é o SUS”, explicou.
Além do evento desta quinta-feira (13), a parceria entre o Observatório do SUS da ENSP/Fiocruz e a Abrasco conta com uma série de seminários, realizados em 2023 e 2024, que abordaram desafios estruturais do SUS: carreiras, regionalização e financiamento.
Clique aqui e confira os relatórios finais dos seminários!