Nos dias 11 e 12 de março, o Ministério da Saúde promoveu em Brasília o Seminário para concepção e criação do Memorial da pandemia de Covid-19. A Abrasco, representada pelo vice-presidente Rômulo Paes de Sousa, participou da primeira mesa de trabalhos sobre “O que representou a pandemia para o mundo e o país – como o brasil reagiu à Covid-19”. A mesa também contou com a participação dos senadores Humberto Costa e Randolfe Rodrigues, da liderança do Grupo de Mulheres do Brasil, Luiza Trajano.
Os senadores Humberto e Randolfe apresentaram as conclusões da CPI da COVID-19 que evidenciaram o conluio organizado por integrantes do governo federal, desde o surgimento da pandemia até o final de 2022, em que interesses políticos e econômicos se misturavam, contribuindo para a crise de gestão que se instalou no enfrentamento da doença.
Luiza Trajano acentuou que a sociedade civil aumentou a sua relevância, apresentando soluções que supriram em parte a fraqueza do governo federal na coordenação e articulação no enfrentamento da Covid-19. O representante da Abrasco reiterou o compromisso da Associação com o projeto de construção do Memorial. Rômulo Paes apresentou as conclusões do Dossiê Abrasco: Pandemia Covid-19. O trabalho contou com a colaboração de 132 abrasquianos que analisaram a pandemia de março de 2020 até setembro de 2022. A pandemia foi declarada como encerrada pela OMS em maio de 2023. As conclusões foram:
- “O Brasil foi um dos países mais severamente atingidos por essa emergência sanitária catastrófica. Em março de 2022, o Brasil concentrava menos de 2,7% da população mundial. Contudo, nessa mesma data, era responsável por mais de 10,7% das mortes por COVID-19 no mundo.
- O governo federal realizou uma gestão inadequada, de 2020 a 2022, no enfrentamento da doença. Contribuíram para o resultado desastroso: (a) baixas testagem, isolamento de casos e quarentena de contatos; (b) uso de uma abordagem clínica, e não populacional, para enfrentar a pandemia; (c) desestímulo ao uso de máscaras; (d) promoção de tratamentos ineficazes; (e) atraso na compra de vacinas e desestímulo à vacinação; (f) falta de liderança do Ministério da Saúde na articulação dos entes federados e com subsistema complementar; e (g) falta de uma política de comunicação unificada.
- Contudo, poderia ter sido pior se não fosse a resiliência do SUS, das ações dos poderes legislativo e judiciário, das instituições produtoras de vacinas no Brasil (Fiocruz e Butantan), dos servidores e servidoras públicos de todo país, de muitos governos estaduais e municipais, das organizações da sociedade civil e dos brasileiros e brasileiras que não subestimaram a doença e buscaram na ciência o caminho para melhor enfrentá-la.”
Dentre as 27 recomendações em termo de políticas, a Abrasco destacou:
- Renovar o contrato social entre governo e sociedade, de modo a reconstruir a confiança e abraçar uma visão abrangente dos direitos humanos;
- Fortalecer o SUS como sistema público universal, garantindo um financiamento adequado e sustentável;
- Restabelecer o pacto federativo do SUS, assentado no federalismo cooperativo entre União, estados e municípios;
- Aumentar a resiliência SUS para que seja capaz de enfrentar emergências sanitárias sem prejudicar suas demais funções.
Texto: Rômulo Paes para a Comunicação Abrasco