A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) esteve presente no primeiro dia do Fórum Social Mundial. Com o tema “Outro Mundo é Possível: Democracia, Direitos dos Povos e do Planeta” o evento, que está na sua 22ª edição, ocorre de forma presencial e híbrida de 23 a 28 de janeiro na capital gaúcha.
Com a mesa “Impactos da Saúde Ambiental, Saúde do Trabalhador e Saúde Indígena decorrentes do garimpo na região Amazônica” a Abrasco esteve representada pelos grupos temáticos de Saúde do Trabalhador e Saúde e Ambiente. A mesa foi coordenada pelos abrasquianos Hermano Albuquerque de Castro (GT Saúde e Ambiente / FIOCRUZ) e Maria Juliana Moura Corrêa (GT Saúde do Trabalhador / FIOCRUZ e Ministério da Saúde).
A pesquisadora Maria Juliana Moura Corrêa abriu a manhã argumentando que o atual cenário retratado pela mídia em Roraima do sofrimento dos Yanomamis é o resultado de uma omissão dos últimos quatro anos do governo brasileiro que negligenciou não apenas os povos originários, mas também a população negra, ribeirinha e os povos das águas e das florestas.
Para Corrêa, a contaminação dos rios e dos solos pelo mercúrio e por agrotóxicos, a insegurança alimentar e o risco da subsistência dos povos que vivem na floresta – nas áreas rurais e nas cidades – devem ser enfrentados por meio de políticas intersetoriais e territorializadas. A abrasquiana defendeu que medidas perenes baseadas na cooperação entre diferentes setores do Ministério da Saúde e entre os Ministérios, em aliança com os demais entes da federação, apoiarão na resposta da crise não apenas em Roraima, mas em todos os territórios com populações vulnerabilizadas.
Diogo Rocha do GT Saúde e Ambiente e pesquisador do Núcleo Ecologias, Epistemologias e Promoção Emancipatória da Saúde (NEEPES da FIOCRUZ) apresentou o mapa de conflitos produzido pelo NEEPES em articulação com as populações afetadas por atividades predatórias na região do Médio Tapajós. Para o pesquisador, a ausência de políticas públicas nos territórios explorados por agentes produtores de conflitos induz um ciclo vicioso de degradação ambiental, pauperização, cooptação e violência.
Para o abrasquiano e pesquisador da FIOCRUZ, o garimpo não é uma atividade isolada, mas integra um complexo sistema econômico e político da Amazônia que, articulado com o capital internacional, se reproduz por meio da corrupção, da lavagem de dinheiro e do tráfico de drogas na conflagração dos territórios.
Hermano Albuquerque de Castro, do GT Saúde e Ambiente argumentou a urgência de acabar com a supremacia branca para a superação da crise e que o protagonismo de pessoas indígenas na nova composição do governo federal é um passo histórico e importante nessa direção.
O abrasquiano afirmou ainda que precisamos ir além das ações de saúde pública e de assistência: “Precisamos debater um modelo econômico para a Amazônia”, analisou.
Ao final da oficina, um relatório foi produzido e será entregue ao Conselho Nacional de Saúde que se reúne nesta quarta-feira, também no Fórum Social Mundial.
* Maurício Polidoro é vice-coordenador do GT Saúde e Ambiente e membro do GT Saúde da População LGBTQI+ da Abrasco.