O jornal O Globo publicou na edição desta terça-feira, 7 de outubro, o artigo ‘Ação contra o câncer’, redigido pelas professoras Gulnar Azevedo – Pesquisadora do IMS/Uerj, e Estela Aquino – do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, onde coordena o MUSA – Programa Integrado em Gênero e Saúde. ‘Segundo tipo mais frequente no mundo, o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres, respondendo por 22% dos casos novos a cada ano. Se diagnosticado e tratado oportunamente, o prognóstico é relativamente bom. No Brasil, as taxas de mortalidade por câncer de mama continuam elevadas, muito provavelmente porque a doença ainda é diagnosticada em estádios avançados’, explica o site do INCA – Instituto Nacional de Câncer.
Confira o artigo na íntegra:
A cada dia cerca de 170 mulheres recebem o diagnóstico de câncer de mama no Brasil. O risco de ter a doença deve continuar aumentando em função, principalmente, das mudanças no estilo de vida das mulheres. Elas estão vivendo mais, adiaram a primeira gestação e diminuíram o número de filhos, fatores associados à ocorrência desta doença, mas que são ao mesmo tempo conquistas sociais.
Outros fatores de risco para o câncer de mama — como a obesidade após a menopausa e o consumo de álcool — têm sido alvo de ações de saúde pública por aumentar o risco de várias doenças e serem passíveis de controle por meio de ações preventivas voltadas para toda a população. O uso de terapia hormonal na menopausa igualmente aumenta o risco de câncer de mama, o que levou à recomendação de que sua utilização seja indicada quando estritamente necessária, por curto período de tempo e abaixo dos 60 anos.
Muitas mulheres morrem de câncer de mama e parte delas, se tratada oportunamente, poderia ter melhor evolução. As técnicas cirúrgicas são hoje menos invasivas e mutiladoras, e a indicação de terapia complementar — radioterapia, hormonoterapia ou quimioterapia — é mais precisa. Porém, para a efetividade do tratamento, é necessário iniciá-lo cedo.
Em países desenvolvidos, o aumento da sobrevida das pacientes decorre da maior consciência sobre a doença, da detecção precoce dos casos e do aprimoramento do tratamento. Os benefícios do rastreamento da doença em mulheres assintomáticas através de mamografia a cada dois ou três anos só foram confirmados para mulheres entre 50 e 69 anos.
Em 2012, a prestigiosa revista médica inglesa “Lancet” publicou uma revisão de vários estudos pelo Independent UK Panel on Breast Cancer Screening, concluindo que o rastreamento mamográfico reduz apenas 20% das mortes por esta neoplasia entre as mulheres assintomáticas quando comparadas a outras em que o diagnóstico foi feito logo após o aparecimento de sintomas. Ressalve-se que nos países onde os estudos foram conduzidos existe acesso oportuno a serviços de saúde de boa qualidade, o que minimiza as diferenças entre as mulheres incluídas no grupo com realização regular de mamografia e as que foram alocadas para o grupo controle.
Outro aspecto que desafia a organização de estratégias de controle do câncer de mama diz respeito ao sobrediagnóstico (detecção de casos entre mulheres assintomáticas que nunca evoluiriam para a morte ou complicações). A investigação diagnóstica e o tratamento envolvem procedimentos invasivos e sofrimento, que só se justificam se ocasionarem benefícios.
Por tudo isto, para diminuir a mortalidade e melhorar a qualidade de vida de todas as mulheres do país é preciso que o rastreamento mamográfico seja acompanhado do diagnóstico e tratamento precoces. É essencial que as mulheres tenham seus direitos respeitados e que recebam as informações necessárias para que possam compartilhar decisões sobre a própria saúde e exercer o controle social sobre as políticas públicas.