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Admiração e informalidade marcam homenagem a Hesio Cordeiro

Uma tarde de encontros, lembranças e histórias. Num clima de cordialidade, carinho e admiração, parte significativa da comunidade científica da Saúde Coletiva prestigiou o professor Hésio Cordeiro na cerimônia de entrega do título de pesquisador honorário da Fundação Oswaldo Cruz na tarde da terça-feira, 26 de maio.

O ambiente da homenagem estava dado desde a entrada do Museu da Vida, onde foi montada a mostra “Permaneçamos Lutando: Imagens de um desagravo”, com fotos cedidas pelo Observatório História e Saúde, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), relembrando momentos de Cordeiro, dos tempos de graduação até sua atuação em debates no Congresso Nacional, e que seriam relembrados nas falas durante a cerimônia.

Doutor Honoris Causa pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz); Comenda Sergio Arouca, outorgada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM); Medalha de Cidadão do Estado, oferecida pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj); Comenda Oswaldo Cruz, concedida pelo Ministério da Saúde: foram inúmeras as homenagens já oferecidas a Cordeiro, todas listadas e lidas pelo cerimonial. Uma carta enviada por Arthur Quioro, Ministro da Saúde, e lida por Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz, dá a dimensão de tantas honrarias ao professor. “Homenagear Hésio Cordeiro é homenagear o campo da Medicina Social no Brasil, que trouxe um novo olhar às comunidades, ressaltando ainda a importância da cerimônia ser realizada na abertura das comemorações de 115 anos da Fundação.

Na sequência, Claudio Tadeu Daniel-Ribeiro, da Academia Nacional de Medicina e pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), ressaltou a importância desse reconhecimento para a própria Fiocruz, tendo em vista que o título é a maior deferência a pesquisadores que não compõem o quadro permanente da Fundação. “Essa ação é uma prova de fraternidade acadêmica, acolhendo em nossa instituição um ícone de grande carisma da Medicina Social, o que só enriquece a nossa casa.

O reconhecimento de pertencimento e de partilha na comunidade científica também foi abordado por Michel Reichenheim, vice-diretor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, fundado por Cordeiro no final da década de 1960. “Chegou o momento de dividirmos o senhor com outra instituição, e mesmo que isso gere algum pesar, nos orgulha muito. O senhor sempre será o guru e o mentor do que fazemos hoje no Instituto”.

Memórias de lutas e de vitórias: Na sequência, Nísia Trindade, Vice-presidente da Fundação, trouxe lembranças e momentos da história de Cordeiro, destacando o carinho celebrado pelos presentes. “Essa cerimônia começou aí no lado de fora, com a presença de seus ex-alunos e companheiros, o que traduz sua forma de tratar a todos, com informalidade e com um cuidado especial, o que se reflete neste momento”. A pesquisadora pontuou vários momentos do percurso científico e político de Cordeiro, do contato com o argentino Juan Cesar Garcia que serviu de inspiração para a fundação do IMS; o papel múltiplo de homem de ideias, seja na sala de aula, seja nas discussões legislativas, na construção institucional dos programas de pós-graduação e da Abrasco, até a chegada à direção do então Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social, no qual Hésio foi fundamental para romper com o conceito de cidadania regulada e fortalecer o campo de ações do que viria a formatar o Sistema Único de Saúde (SUS). “Apesar de não ter sido sua aluna, me sinto formada por esta tradição”, completou Nísia.

Os primeiros anos da criação do IMS e os trabalhos desenvolvidos junto ao Morro dos Macacos, que inclusive chegaram a ser questionados e alvo de Inquerito Civil Militar no tempo da Ditadura foram lembrados por Paulo Buss, diretor do Centro de Relações Internacionais em Saúde (CRIS/Fiocruz). Nessa época, Buss era médico pediatra recém formado e residente do Hospital Geral de Bonsucesso e, por indicação de um amigo, foi conhecer o novo Instituto, onde foi recebido por Cordeiro, Nina Pereira Nunes e José Luis Fiori, ingressando na segunda turma de mestrado do IMS. “Éramos jovens e entramos em contato com um universo de conhecimento novo. Líamos Foucault em francês, e ficávamos estupefados em ver cabeças como o Hésio, uma das pessoas mais importantes na construção do pensamento da Saúde Coletiva”, relembrou.

Outro momento central dessa história, nas palavras de Buss, foi a formação e atuação da terceira diretoria da Abrasco. “Éramos eu na Secretaria Executiva e uma diretoria formada por Francisco Campos, Tania Celeste, José Carvalheiro e Hésio, e por ele liderados, assumimos a luta da Reforma Sanitária num momento de efervescência e de revisão dos campos disciplinares”, reforçou o pesquisador, destacando também o papel de Hésio, na época à frente do INAMPS, e de Arouca, na presidência da Fiocruz, como figuras centrais para a redação do capítulo da Saúde na Carta Magna de 1988. “Eles tomaram nas mãos essa tarefa, e tomaram as diretrizes de um dos mais importantes documentos da Saúde na época, a Carta de Ottawa, e a colocaram na Constituição. Isso não é pouca coisa para um país latino-americano”.

Antes de conceder o diploma de Pesquisador Honorário, Paulo Gadelha ainda frisou a particularidade de Hésio Cordeiro em reunir em sua trajetória e história qualidades como rigor intelectual, firmeza militante e atenção no trato com todas as pessoas, independentemente de seus cargos e posições, declarando ter na gestão de Cordeiro como reitor da Uerj a inspiração para os congressos internos da Fiocruz.

Agradecimento e mais homenagens: Emocionado e com a voz embargada, Cordeiro agradeceu a presença de todos, as falas da mesa, e em especial a Michel Reichenheim por dar segmento à consolidação do nome do IMS no cenário acadêmico. “Esse foi o trabalho da minha vida, ter o trabalho acadêmico de consolidar a Saúde Coletiva, de pegar a Saúde Pública e introduzir os conceitos das Ciências Sociais. Vejo aqui muitos que comigo fizeram esse percurso. O Gadelha eu conheci aluno, e hoje estando ele à frente da Fiocruz é uma marca dessa trajetória. Agradeço a minha esposa, Maria José por ser parte desse caminho e a tantos amigos, como os irmãos Verani, ao Peco (Péricles Silveira Costa), ao Valcler, ao Santini (Luiz Antônio), a Tânia Celeste e tantos outros presentes. Vocês estão no meu coração e fizeram a beleza desse encontro”, falou o pesquisador.

Paulo Gadelha quebrou o protocolo e abriu ao plenário a oportunidade de falar, utilizada por importantes abrasquianos e militantes do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebes). José Carvalho de Noronha, presidente da entidade entre os anos 2000 a 2003, ressaltou o papel de Cordeiro ao colocar a questão da previdência social no centro do debate no período da transição da 8ª Conferência Nacional de Saúde até a redação da Constituição.

Já Arlindo de Sousa, presidente da Associação entre 1991 e 1993, relembrou a sagacidade de Hésio Cordeiro em situações políticas adversas, quando eles estavam sob vigilância da Ditadura e ainda assim conseguiram tocar projetos dentro da Uerj.

Lígia Bahia, atual membro da diretoria da Abrasco, saudou Cordeiro em nome do presidente Luis Eugenio de Souza, e destacou a importância de reeditar sua obra, vasta em número de artigos e que conta com dois livros centrais: A Indústria da Saúde no Brasil e Empresas Médicas.

Lucia Souto falou em nome do Cebes, declarando-se fã de Cordeiro por ser inspiração a todos ao mostrar em sua vida “que nada se faz sem ousadia e coragem intelectual, ao fazer o que nunca foi feito antes, dando condições para o surgimento da Reforma Sanitária brasileira e o verdadeiro milagre da formação do campo da Saúde Coletiva. Irei onde você estiver para te prestigiar e fazer dessas palavras o meu abraço”, sintetizando assim a vontade e os sentimentos de todos os presentes nessa tarde de homenagem, informalidade e história.

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