Diante dos impactos das mudanças climáticas, que em 2024 resultaram em graves enchentes no Rio Grande do Sul e em uma seca prolongada em diversos estados, além de mais de 180 mil focos de incêndios florestais no Brasil, especialistas em saúde coletiva e políticas ambientais participaram de mais uma edição da Ágora Abrasco. Desta vez, o debate foi para discutir os desafios que os eventos climáticos extremos impõem à saúde e ao meio ambiente.
Trazendo o olhar da meteorologia, o evento contou com a participação de Renata Libonati, Professora Assistente no Departamento de Meteorologia da UFRJ. Renata destaca que os últimos 12 meses foram os mais quentes já registrados na história e que os eventos climáticos extremos estão mais intensos, mais frequentes, passaram a atingir novas localidades e em diferentes épocas do ano. “Nós observamos que, entre 2000 e 2018, mais de 48 mil pessoas morreram em decorrência de eventos como ondas de calor. Esse número é 20 vezes maior que o número de mortes por deslizamentos de terra em todo o Brasil, se olharmos o mesmo período”, reflete.
A meteorologista também aponta que pessoas negras e pardas têm risco relativo maior do que pessoas brancas quando levamos em conta os eventos climáticos extremos, como ondas de calor. “Essas pessoas apresentam um risco que vai de 8% até 44% mais do que pessoas brancas, se olharmos cidades como Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belém e Manaus”.
Para o Coordenador do Centro de Estudos Amazônia Sustentável (CEAS) da USP, Paulo Artaxo, estamos vivendo uma epidemia associada às mudanças climáticas cujos impactos para a saúde da população são graves: “Não só através dos eventos climáticos extremos, mas também com cenários como estamos vendo na Amazônia, com secas absurdas e sem precedentes. Por exemplo, hoje, o rio Madeira está com 75 centímetros de profundidade, isso é algo que nunca havia ocorrido antes e que leva moradores a percorrerem quilômetros só para terem acesso à água potável”, reflete.
Carlos Machado, integrante do Conselho Deliberativo da Abrasco e Coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde da Fiocruz, aponta que esses eventos extremos resultam no aumento e sobreposição de riscos. “Os danos provocados por eles, assim como as doenças e agravos, afetam multidimensionalmente a saúde, o sistema de saúde, a qualidade de vida e o meio ambiente, aprofundando iniquidades ambientais e em saúde, que devem piorar no nível global e nacional neste cenário”, reflete. Para o pesquisador, combater essas iniquidades deve ser prioridade em todo o planeta.
O evento aconteceu na tarde de quinta-feira (03), em transmissão ao vivo pela TV Abrasco, e contou com abertura de Rômulo Paes, presidente da Associação e pesquisador da Fiocruz Minas, exposições de Carlos Machado (ENSP/Abrasco), Renata Libonati (UFRJ) e Paulo Artaxo (USP), com mediação de Nelson Gouveia (USP e GTSA da Abrasco).