Qual modelo de desenvolvimento não irá reproduzir a exclusão de minorias e promoverá a proteção dos ecossistemas? Essa foi a questão central do debate proposto pela Ágora Abrasco “Vigilância Popular da Saúde e Ambiente da Covid 19” que aconteceu nesta quinta-feira (30), com transmissão ao vivo pela TV Abrasco. O evento reuniu lideranças de territórios e especialistas para trocar experiências e pensar caminhos de atuação conjunta e coletiva. A coordenação foi de Marcelo Firpo, pesquisador do Neepes/Fiocruz e integrante do GT de Saúde e Ambiente, da Abrasco.
O representante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Eriki Terena, abriu o debate relembrando que epidemias entre povos originários não é algo novo, usadas, inclusive, como armas biológicas de extermínio dessa população. A falta de políticas públicas para monitorameto, acompanhamento e produção de dados sobre as populações minoritárias também foi pontuada pela representante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Maria das Graças. Ela relembrou que não foi à toa que o primeiro óbito pela Covid-19 no Brasil, em março do ano passado, foi de uma mulher negra: a empregada doméstica Cleonice, de 63 anos, que contraiu a doença dos patrões que retornaram de férias na Itália.
Na falta de dados oficiais, diversas organizações se juntaram à CONAQ para produzir dados que evidenciassem a situação das comunidades quilombolas durante a pandemia. Foram identificados mais de 5.329 casos confirmados da doença nas comunidades participantes do levantamento. Esse número pode ser ainda maior devido à dificuldade de acesso a testes e a subnotificação.
Para a representante do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP), Josana Pinto da Costa, o caminho para a falta de apoio do Estado foi a proposta de ações voltadas para a comunidade, solidariedade e valorização das plantas medicinais. Durante a pandemia, comunidades que antes já viviam isoladas viram essa sensação de apartamento se fortalecer: “Não há dados, não há testes, as pessoas adoecem e se curam na própria comunidade”, afirma.
A resposta para esse isolamento proposta pela representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Rede de Médicos Populares (RMP) Ana Paula Dias, foi promover ações de vigilância popular da saúde e combater a desinformação com ações pontuais nas redes sociais e também nas ruas.
Já as Comunidades Catalisadoras (ComCat) fortaleceram as redes e ações comunicação popular, como trouxe Theresa Williamson. Para cobrir a falta de dados específicos sobre as comunidades, foi criado o Painel Unificador Covid-19 nas favelas. A ferramenta permite o monitoramento e a disseminação de informação sobre casos de Covid-19 nas periferias.
Fernando Carneiro, pesquisador da Fiocruz Ceará e integrante do GT de Saúde e Ambiente, da Abrasco, expôs que o desafio no momento é se apropriar do conceito de vigilância popular e estruturar, nesse campo, novas práticas e métodos que se afastem da herança militar e se aproximem de metodologias territorializadas que permitam a participação das pessoas.
A transmissão pode ser conferida pelo player abaixo.