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Agora vamos falar sério sobre saúde? – Artigo de Claudia Collucci

Comunicação Abrasco

A colunista e repórter especial de Saúde do jornal Folha de S.Paulo, Claudia Collucci, publicou no último dia 7 um artigo no qual convida os dois candidatos que estão na disputa pela Presidência da República a discutirem abertamente os principais problemas da saúde pública brasileira.

O (mau) tratamento dado aos pacientes com câncer pelo SUS; o excesso de cesáreas praticados no país; o combate à epidemia do crack; a questão do aborto; o subfinanciamento, e utilização de recursos públicos nos serviços privados são alguns dos temas que a jornalista inquere Dilma Roussef e Aécio Neves.

O artigo ainda cita o estudo “A saúde nos programas de governo dos candidatos à Presidência da República”, de autoria dos abrasquianos Ligia Bahia e Mario Scheffer, e destaca que nenhum candidato se dispôs a refazer as contas do setor nem questionar as beneses oferecidas ao setor privado em detrimento da saúde pública.

Confira o artigo aqui ou leia na íntegra abaixo.

Senhores candidatos à Presidência, neste segundo turno das eleições, vamos falar sério? Vamos sair do discurso do marketing eleitoral e encarar de frente o principal problema do país, a saúde? Vamos sair do velho blá-blá-blá e propor seriamente algumas metas sanitárias e assistenciais?

O que vocês têm a dizer sobre o pífio atendimento dado aos pacientes com câncer que dependem do SUS e que muitas vezes morrem sem sequer ter um diagnóstico fechado? Por que têm de esperar meses para conseguir consulta com especialista, depois mais tanto de tempo para fazer exames e depois outro tanto para obter o tratamento necessário?

O que vocês pretendem fazer para evitar que 60% dos cânceres sejam diagnosticados tardiamente no país?

E sobre o fato do Brasil ser o país com maior índice de cesáreas do mundo (52%)? O número ultrapassa os 83% nos hospitais particulares, que atendem majoritariamente pacientes com planos de saúde. Enquanto o índice recomendado pela Organização Mundial de Saúde é de 15%, ele chega a 90% em algumas maternidades renomadas das principais capitais do país, como São Paulo.

Alguma ideia de como reduzir isso?

E a descriminalização do aborto, tema bicho-papão dos debates eleitorais? O que vocês propõem para evitar mas mortes como as de Jandira Magdalena dos Santos, de 27 anos, no Rio de Janeiro, e Elizângela Barbosa, de 32 anos, em Niteroí, sejam evitadas?

E sobre o consumo do álcool e de outras drogas? Um estudo da Fiocruz mostrou que, só nas capitais, 370 mil pessoas são usuárias de crack. Esse número corresponde a 0,8% da população das capitais e a 35% dos consumidores de drogas ilícitas nessas cidades. Além disso, 14% do total são crianças e adolescentes, o que equivale a mais de 50 mil usuários.

Passaria horas citando outros exemplos, mas vamos direto ao ponto central que já abordei na coluna da semana passada: o subfinanciamento. E também a distorção do financiamento da saúde no país, onde os gastos privados são maiores que os públicos.

Nos países desenvolvidos, e com sistemas universais de saúde, mais de 70% dos gastos do setor são públicos. No Brasil, apenas 44% vêm de recursos públicos.

Mas, como bem lembram os professores Mario Scheffer (USP) e Ligia Bahia (UFRJ), tão importante quanto revelarem a política de financiamento, seria a declaração dos candidatos sobre como possíveis novos recursos passarão a circular no sistema de saúde, ou seja, como serão utilizados.

“Nenhum candidato se propôs a refazer as contas da saúde, a começar pela renúncia fiscal no cálculo de imposto de renda da pessoa física e jurídica, empréstimos do BNDES, subsídios e isenções tributárias a planos de saúde; desonerações da indústria farmacêutica e dos hospitais filantrópicos; enfim, os diversos incentivos econômicos que favorecem a expansão do setor privado, sem nenhuma contrapartida ao sistema universal.” E aí, vamos falar sério?

Leia também Boa saúde pública não cairá do céu, artigo de Claudia Collucci sobre o tema da saúde nas eleições no primeiro turno, publicado em 30 de setembro.

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