“Temos evidências suficientes para mostrar que os efeitos dos agrotóxicos podem significar maior incidência de casos de Covid-19, agravamentos e óbitos. E também temos evidências de que estimular a agroecologia é um modo de prevenção de zoonoses”, afirmou Karen Friedrich, pesquisadora da Fiocruz e integrante do GT Saúde e Ambiente da Abrasco. Ela apresentou o relatório “Agronegócio e pandemia no Brasil: uma sindemia está agravando a pandemia de Covid-19?“, na semana passada (27/5), durante painel da Ágora Abrasco.
O documento produzido pelo GT Saúde e Ambiente da Abrasco, e apoiado pela International Pollutants Elimination Network (IPEN), traz dados sobre a relação entre o agronegócio e as condições de vida e saúde da população brasileira, seriamente afetada pela pandemia de Covid-19.
Fernando Bejarano, coordenador da IPEN na América Latina e Caribe, pontuou que a abordagem metodológica inovadora do relatório pode inspirar outros países da América Latina, e ainda reforçou o histórico da luta contra agrotóxicos no Brasil, apesar de todo o retrocesso recente, de liberação para novos tóxicos no país. “Em outros países chamamos de ‘pesticidas’, no Brasil chamam de agrotóxicos. E isso é uma luta política. Chamar de ‘pesticidas’ deixa o uso tolerável. E não podemos tolerar. As palavras pesam. Que o Brasil continue com a definição legal e política de ‘agrotóxicos’ “,pontuou.
Também estiveram presentes no evento Alan Tygel, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida e Gulnar Azevedo e Silva , presidente da Abrasco. Lia Giraldo, do GT Saúde e Ambiente da Abrasco, coordenou o evento. Assista:
A origem da pandemia: Ágora Abrasco recebeu Rob Wallace
A fim de explorar outros olhares sobre agronegócio e pandemia, o GT Saúde e Ambiente promoveu, também no mês de maio, um debate com Rob Wallace, epidemiologista norte-americano e autor da obra O livro Pandemia e Agronegócio – Doenças infecciosas, capitalismo e ciência . Wallace abordou a origem do coronavírus – e de outras zoonoses – , consequência do desmatamento, exploração dos recursos naturais e do modo como os seres humanos interagem com o planeta nos últimos séculos.
“Devemos rejeitar o “normal”, que nos trouxe essa bagunça. Alimentos não são objetos. A agricultura deve deixar de ser um processo industrial, para ser um processo natural. Devemos voltar a ter respeito por tudo que envolve comida – o solo, água, ar. Para impedir os patógenos mortais, devemos preservar as florestas e os ecossistemas, mantendo um equilíbrio ecológico. Apostar que o agronegócio, a principal fonte da pandemia, é a nossa solução, é errado. Nós podemos fazer muito melhor”, afirmou o pesquisador.
O painel A origem da Pandemia pela Covid-19 – relações com o agronegócio e o papel da Agroecologia na luta pela vida e saúde reuniu, além de Rob Wallace, Maria Emília Pacheco (Articulação Nacional de Agroecologia), João Pedro Stedile (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e João Arriscado (Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra). Gulnar Azevedo, presidente da Abrasco, e Fernando Carneiro, do GT Saúde e Ambiente, coordenaram o debate.
Assista ao painel “A origem da pandemia de Covid-19 – relações com o agronegócio e o papel da Agroecologia na luta pela vida e saúde” :