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Agronegócio e pandemia no Brasil: uma sindemia está agravando a pandemia de Covid-19?

Hara Flaeschen

O Brasil se aproxima de meio milhão de mortes por coronavírus, e já se sabe que a doença é mais letal para as populações vulnerabilizadas – negros, indígenas, trabalhadores pobres e precarizados – e, ao mesmo tempo, aprofunda as desigualdades sociais. Neste fluxo que se retroalimenta (a pandemia, a iniquidade e a morte), pesquisadores do GT Saúde e Ambiente da Abrasco, em parceria com a International Pollutants Elimination Network (IPEN) acrescentam mais um fator: o agronegócio.

O documento “Agronegócio e pandemia no Brasil: uma sindemia está agravando a pandemia de Covid-19?”, lançado em 27 de maio, demonstra que além da agroindústria aumentar as chances de novas zoonoses – com destruição de habitats naturais -, também deixa as pessoas mais vulneráveis a doenças do tipo. Isto é porque o uso de agrotóxicos nos alimentos afeta o sistema imunológico, enquanto o consumo de ultraprocessados intensifica doenças e agravos não transmissíveis.

As mazelas do agronegócio e a Covid-19  

“A incidência e a letalidade da Covid-19 é conhecida por ser maior entre as pessoas com diversas doenças crônicas, incluindo distúrbios como obesidade, diabetes, câncer, desordens pulmonares e demência. Assim, de forma sinérgica, o ‘modelo de produção do agronegócio’ não só aumenta o risco de emergências de vírus zoonóticos, mas também aumenta a exposição a agrotóxicos que, em conjunto com condições como a má nutrição, aumenta a vulnerabilidade aos danos à saúde”, afirmam os pesquisadores.

O relatório analisa e contextualiza a pandemia no Brasil, apresentando alguns retrocessos que precederam a crise sanitária, e que, agora, impactam diretamente a saúde das brasileiras e brasileiros – como o uso de agrotóxicos e o desmonte das medidas de proteção social. Há uma linha do tempo da “desregulamentação” dos agrotóxicos no país, sinalizando todos os atos de 2019 e 2020 – do legislativo e executivo – que facilitaram o consumo e comercialização dos químicos. Também há uma sessão com estudos epidemiológicos brasileiros sobre os danos dos tóxicos à saúde.

Além disso, há dados que relacionam o modelo produtivo agroindustrial, à desigualdade, sinalizando que a concentração de terras (1% da população no Brasil possui 45% das terras) forçou o deslocamento de milhões de pessoas para grandes cidades, onde vivem em áreas de moradia precária, com subempregos, e mais vulneráveis ao coronavírus. “O acesso inadequado à terra pela posse precária e a produção agrária extrativista e químico-dependentes são fatores que contribuem para a degradação das terras, destruição de florestas e da biodiversidade, bem como aumento da pobreza, violência e êxodo rural”, diz a publicação.

Quem produziu o relatório?

O Grupo Temático Saúde e Ambiente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) é um grupo de pesquisadores que, desde 2000, se reúnem para discutir articulação entre a saúde com o ambiente, os processos produtivos, o saneamento e a justiça ambiental. Uma de suas principais produções é o Dossiê Abrasco: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde.

Quem apoiou o relatório?

O IPEN é uma rede de organizações não governamentais que atuam em mais de 100 países para reduzir e eliminar os danos à saúde humana e ao meio ambiente causados por produtos tóxicos. Este relatório foi produzido como parte da Campanha do IPEN para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável sem substâncias tóxicas. Conheça mais.

Clique para ler o relatório completo

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