Cinco moradores de Rio Preto foram internados no Hospital Ferreira Machado (HFM), em Campos, com suspeita de intoxicação por agrotóxico. Os casos foram registrados entre a tarde de terça-feira (12/11) e manhã desta quarta-feira (13/11). Dois agricultores morreram. Dois homens continuam internados. Equipes da secretaria de Saúde e da Defesa Civil percorreram as casas das vítimas e fizeram uma trabalho de orientação com os moradores do distrito.
Na casa de Eraldo Luiz Gomes Pinto, de 65 anos, a dor da perda é sentida não só pelos familiares, como pelos vizinhos e amigos de casas próximas. O agricultor deixou esposa e nove filhos. Segundo a filha, Marília Gomes, o pai sempre trabalhou na roça cortando cana para os animais, mas Eraldo chegou a lidar diretamente com agrotóxico na propriedade onde trabalhava.
“No sábado ele começou a se sentir mal, ficou até no soro das 11 horas, até as duas da tarde. Ele sempre reclamava de dores de cabeça e na garganta. Na terça meu pai começou a passal mal novamente, eram três horas da tarde quando ele começou a sentir câimbras, e a febre chegou a 39 graus, na ida para Campos vomitou muito. Ele ficou internado até morrer por volta das 20h30”, contou.
No atestado de óbito constava como causas de morte insuficiência respiratória e crises convulsivas reentrantes. O corpo do agricultor foi sepultado na tarde desta quarta no Cemitério de Rio Preto. As equipes da Secretaria de Agricultura e da Defesa Civil também foram a casa da outra vítima, identificada como Josete dos Santos, de 51 anos. No local a família foi orientada a não usar o tanque de lavar roupas para limpar utensílios domésticos e outras coisas, como as roupas de crianças.
A viúva, Margarete Gama, contou à imprensa que o marido aplicava agrotóxico no pasto para matar o mato, mas que o agricultor usava equipamentos de segurança, como máscara e bota. “Ele chegou da roça era umas duas horas da tarde reclamando de câimbras, pediu até para que eu passasse um remédio nas pernas dele para melhorar a dor. Achei estranho porque ele estava bebendo muita água. Enquanto isso estávamos tentando um carro para levar ele até o hospital, porque aqui estava sem ambulância”, comentou.
Foi a nora, Franciele Rocha, que procurou ajuda para levar o sogro até o HFM. “Ele só conseguiu ser atendido por um médico cinco horas depois de começar a se sentir mal. No hospital fez vários exames e vomitou muito”, falou. A responsável pela Unidade de Saúde Básica (UBS) de Rio Preto, Ilza Carvalho, informou que apenas um paciente foi à unidade pedir atendimento. “Ele já chegou aqui vomitando muito e inconsciente. Nós aplicamos soro e demos remédio para enjôo. Depois ele foi levado para o Ferreira Machado. Fiquei sabendo que agora ele está em estado grave na UTI da unidade”, informou.
Outras três pessoas continuam internadas no Setor de Doenças Infectocontagiosas do HFM. Um homem está na UTI em estado grave, outro homem está estável e o bebê não teve o estado de saúde divulgado. De acordo com o secretário de Defesa Civil de Campos, Henrique Oliveira, o órgão foi avisado que seis animais também haviam sido contaminados, mas a informação não se confirmou. Sobre a contaminação da água por causa do agrotóxico o secretário explica: “Não há risco de contaminação, está descartado. Nós fomos as casas das pessoas que foram contaminadas, lares onde moram mais de seis pessoas, onde todos compartilham da mesma água e mais ninguém foi atingido. Vale dizer também que a venda de agrotóxico só pode ser realizada se o comprador tiver uma receita de um agrônomo”, explicou.
O subsecretário de Saúde do município, Dante Pinto Lucas, disse que os casos foram informados a pasta, porque os pacientes apresentarem os mesmos sintomas e isso fez com que a secretaria ficasse em alerta. “Um médico vai ficar de plantão 24 horas na UBS para atender e informar a população. Foram coletadas amostras e realizada a necropsia em São Paulo para saber a causa das mortes. O manuseio do veneno em dia de sol muito quente e o vento podem ter agravado a situação”, esclareceu.
Dante faz uma alerta para a população do distrito sobre o uso da água. “Por medida de preventiva vamos encaminhar carros pipas. Mas o setor de captação da Águas do Paraíba fez coleta de amostras e não identificou contaminação na água”, salientou. Sobre a falta de ambulância para atender as vítimas o subsecretário informou que a unidade que estava na UBS quebrou, mas outros dois veículos foram encaminhados a Rio Preto para atender a população. “Nesta quinta-feira equipes de várias secretarias da Prefeitura de Campos vão estar aqui em Rio Preto para atender os moradores. Os donos das propriedade onde os homens trabalhavam também serão ouvidos”, finalizou.
NOTA DIVULGADA NO SITE DA PREFEITURA
A Prefeitura informou que vai distribuir água potável aos moradores que utilizam poços artesianos, para evitar que essas pessoas tenham qualquer contato com essa água, até que saiam os resultados das amostras.
O Superintendente da concessionária Águas do Paraíba, Mário Fazza, garantiu que os laudos realizados pela empresa nesta quarta não apontam qualquer contaminação da água fornecida pela concessionária. E orienta os moradores que somente utilizem água fornecida e tratada por Águas do Paraíba.
O diretor de Vigilância em Saúde, Charbell Kury, diz que todas as providências estão sendo tomadas, inclusive, com o pedido de necropsia e encaminhamento de amostras de sangue para análise toxicológica ou outras doenças infecciosas.
AS VÍTIMAS
A Secretaria Municipal de Saúde divulgou os nomes das possíveis vítimas de intoxicação. Eraldo Luiz Gomes Pinto e Josete da Silva dos Santos, que vieram a óbito, além de Jorge Gama Lage e Randal Pessanha. Já assessoria de imprensa do HFM confirmou através de nota na manhã desta quinta, o estado de saúde dos pacientes. Jorge Gama Laje, 53 anos, e Randal Pessanha, 26 anos, eles estão internados no isolamento do setor de Doenças Infecto Parasitárias (DIP). O estado deles é estável. Um bebê de 11 meses, de Rio Preto, deu entrada no HFM no dia 12/11, com febre, vômito e diarreia. O bebê ficou em observação e teve alta na manhã de ontem (13/11). A Secretaria de Saúde está acompanhando o caso.
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