Dois temas foram destaque no lançamento da segunda parte do dossiê que teve como tema “Agrotóxicos, Saúde e Sustentabilidade” no debate na Cúpula dos Povos durante a Rio+20: o agronegócio e a agroecologia. O agronegócio foi citado como um modelo de agricultura política incapaz de suprir as necessidades da sociedade e do meio ambiente. Fernando Carneiro, integrante do GT Saúde e Ambiente da ABRASCO e coordenador da equipe que trabalha desenvolvendo o dossiê, destaca que o documento é um manifesto contra a hegemonia do agronegócio criou no Brasil. “Hoje o agronegócio é uma hegemonia plena: no executivo, considerando o crédito que tem a agricultura familiar; no legislativo, vide o que a bancada ruralista fez com o código florestal; no judiciário, onde não se investigam as mortes que o agronegócio causa; na mídia, pois raramente este tipo de crítica aparece na mídia, e; na ciência, já que os pesquisadores acreditam que pessoas contrárias ao modelo do agronegócio estão fazendo política e não ciência”, explicou.
Lia Giraldo Silva, pesquisadora do Departamento de Saúde Coletiva da Fiocruz Pernambuco e autora do dossiê, afirmou que a publicação aponta para temas interpolíticos. “Existe uma série de lacunas que a gente já identificou. Nesta segunda parte do dossiê nós trazemos pontos relacionados às políticas e às campanhas de mobilização social, porque este documento foi produzido por muitas mãos. Contamos não apenas com a contribuição de pesquisadores do campo da saúde coletiva, mas da agricultura e de representantes de movimentos sociais engajados nesse processo”, destacou.
“Os agrotóxicos não são mais um conjunto de problemas dos trabalhadores do campo e sim um problema da sociedade, pois são um dos pilares do modelo atual do agronegócio”, afirmou o agricultor Cleber Folgado, ressaltando que o desafio desse conjunto de pessoas e organizações que participam da Campanha contra os Agrotóxicos é somar. “Ao somar forças nos tornamos mais fortes e aos poucos podemos dar passos para mudar o modelo atual de agricultura. Podemos construir um modelo novo, que tenha uma lógica de produção de qualidade, para aumentar a qualidade vida das pessoas e dos trabalhadores.
Para Flávia Londres, autora de “Agrotóxicos no Brasil: um guia para ação em defesa da vida”, livro lançado durante o evento, “o agronegócio não é capaz de alimentar a sociedade e o modelo utilizado atualmente não funciona, pois está gerando exclusão e pobreza, além de esgotar e contaminar os recursos naturais”. Para explicar os problemas que este tipo de agricultura causa não só no Brasil, mas em outros países, a engenheira agrônoma Cláudia Gerônimo, representante dos “Amigos da Terra” da Guatemala, apontou os benefícios para a saúde do homem e do meio ambiente que uma nova agricultura baseada em princípios sustentáveis pode trazer. “Nós devemos pensar em novas formas de produção. Novas para nós que nos educamos com um sistema totalmente químico. Devemos entender a terra, entender a natureza, colocar os conhecimentos em prática, ter novas formas de produção de acordo com nossas necessidades que sejam sustentáveis, livres de produtos químicos e de contaminação”, enfatizou.
Os pesquisadores apontaram para três questões que serão foco da luta na “Campanha Contra os Agrotóxicos”: a proibição da pulverização com agrotóxicos, o fim da isenção fiscal para esses produtos e massificação do debate na sociedade. A principal conclusão do encontro foi que a agroecologia é a proposta de agricultura para o futuro. Para saber mais sobre a Campanha contra os agrotóxicos, acesse o site www.contraosagrotoxicos.org.
Durante o evento, realizado no âmbito da Cúpula dos Povos, a ABRASCO lançou a edição de junho da Revista Ciência & Saúde Coletiva, com o tema “Rio+20 e Saúde: que sustentabilidade queremos? (linkar o pdf com o release e conteúdo da revista), abordando os temas ambientais que afetam a saúde.