As ameaças à democracia e aos direitos, expressas nos cortes profundos aos investimentos em saúde, educação e desenvolvimento científico, foram a força motriz para as reflexões acadêmicas e políticas que construíram a programação científica e cultural do 8 º Simpósio Brasileiro de Vigilância Sanitária, que começa amanhã (23/11), com atividades do pré-simpósio, em Belo Horizonte.

Luiz Quitério, presidente da Comissão Científica, apelidou o evento de “Simbravisa da resistência” – e, às vésperas do evento, Ana Cristina Souto, presidente do Simpósio, reafirma a palavra de ordem que guiará os trabalhadores, estudantes e pesquisadores reunidos: ” Resistência! Resistiremos à privatização da saúde e aos ataques cotidianos direcionados ao financiamento e à organização de nosso Sistema Único de Saúde. Queremos encontrar formas de enfrentamento”, afirmou.

Ana convoca os trabalhadores, estudantes e pesquisadores que estarão presentes no 8 º Simbravisa a buscarem essas formas de enfrentamento, desbravando os desafios apresentados pela conjuntura. Leia entrevista na íntegra:

1) O que os simposiastas devem esperar do 8º Simpósio Brasileiro de Vigilância Sanitária? 

Esperamos que o 8 º Simbravisa reflita o contexto sociopolítico que estamos vivendo nesses últimos três anos, desde o último evento do GTVISA [em Salvador, 2016] . Durante o processo de preparação deste Simbravisa, estivemos sob fortes ameaças, em especial a partir dos resultados da última eleição presidencial. São muitos os retrocessos que estamos vivenciando. Na área da saúde os ataques são cotidianos, em especial ao financiamento e à própria organização de nosso Sistema Único de Saúde. E a Vigilância Sanitária, como parte do SUS, é fortemente atingida.

A Abrasco, o GT de Vigilância Sanitária (GTVISA) e as comissões organizadoras têm a expectativa de que este Simbravisa, apesar das dificuldades, produza uma ampla discussão técnica, cientifica e política sobre a Vigilância Sanitária e a Saúde Coletiva. Também esperamos que sejamos capazes de refletir como essas investidas contra os nossos direitos atingem a formação e os direitos dos trabalhadores da saúde, como atingem a nossa produção cientifica.  E, sobretudo, queremos encontrar formas de enfrentamentos e resistência à essas condições impostas.

2) Como você avalia a programação científica?

A programação científica é sempre muito bem cuidada pela Comissão Científica. Em relação às edições anteriores, o 8º Simbravisa talvez tenha menos atividades que dialoguem diretamente com o campo da Saúde Coletiva, pois fez-se necessário que a programação fosse mais voltada para as experiências da Vigilância Sanitária, ainda que com capacidade reflexiva e crítica. As incertezas que permeiam a nossa democracia produziram momentos de reflexões acadêmicas e politicas muito ricas no processo de construção do evento como um todo – momentos de crises também produzem respostas criativas – entretanto, essas mesmas incertezas também tornaram este Simbravisa o mais difícil de se construir.

A escolha do tema da Conferência de Abertura “Guimarães Rosa, Democracia, Direitos Humanos e Desastres: onde estão as intercessões?”, certamente introduzirá importantes questões que serão debatidas nos três dias seguintes do evento. Não poderíamos deixar de destacar, em nosso encontro, os impactos dos desastres da Vale e da Samarco na saúde e meio ambiente, no estado de Minas Gerais: as tragédias também refletem a conjuntura. As atividades científicas do primeiro dia do evento foram elaboradas com o propósito de analisar os descaminhos da vigilância sanitária, e as do segundo e terceiro dias, os caminhos e as possíveis saídas.

3) Como a “resistência”, palavra bastante utilizada pelas comissões organizadoras, se relaciona com o tema do evento? 

O que nos conduziu à escolha do tema “Democracia e Saúde: caminhos e descaminhos da vigilância sanitária” foi a necessidade de expressar nossos posicionamentos frente a esses ataques. É a primeira vez que a vigilância sanitária situa-se como subtema nos Simbravisas:  essa disposição das palavras foi para destacar que, sem democracia e sem direitos, não teremos saúde, tampouco Vigilância Sanitária.  Compreendemos também que será um momento oportuno para realizarmos um amplo debate sobre os descaminhos que estamos passando e analisar os caminhos já trilhados nas últimas três décadas.

A nossa palavra de ordem é resistência! Resistiremos à privatização da saúde, resistiremos aos ataques dirigidos ao SUS. Resistiremos à atual gestão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que, pela primeira vez, negou apoio ao Simbravisa – embora alguns de seus técnicos continuem colaborando com o simpósio e com o GTVISA. Mas, também resistindo, encontramos outros caminhos e parcerias. Nesse sentido, gostaria de agradecer à Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, pelo apoio de seus técnicos e pelo patrocínio. Também à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde e à Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte. À Diretoria e à Secretaria Executiva da Abrasco e às companheiras e companheiros do GTVISA. Todos essenciais na realização deste 8º Simbravisa, que logo começará.

O nosso homenageado, Guimarães Rosa, no inspira a percorrer sertões, e mesmo nos deparando com veredas, precisamos compreendê-las e ultrapassá-las. Convocamos a todos os simposiastas para, de 24 a 27 de novembro, adentrarem conosco nas veredas da Vigilância Sanitária.

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