No último domingo (26/5) o quadro “Revista em Debate”, da Rádio Globo, promoveu um debate entre André Burigo, do GT Saúde e Ambiente da Abrasco, e Reginaldo Minaré, consultor em Tecnologia da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, sobre o atual cenário de agrotóxicos no país. A discussão foi mediada por Vanessa Riche, apresentadora do programa.
Reginaldo Minaré defendeu que o uso de agrotóxicos – na agricultura mundial – é fundamental, e afirmou que o aumento da liberação dos químicos no mercado não interfere no aumento do uso, já que os agricultores usam de maneira “parcimoniosa” e só quando necessário: “O agricultor não utiliza o agrotóxico em sua lavoura por ter mais ou menos produtos no mercado, é porque ele tem necessidade de combater as pragas e ervas que infestam a lavoura. Se pudesse jogar água benta na lavoura e ir dormir, ele faria isso, porque seria um custo menor pra ele .Comprar agrotóxico é muito caro, o agricultor utiliza exatamente no momento que ele precisa – se não não teria esse gasto”. Minaré acredita também que a energia que se gasta combatendo agrotóxicos poderia ser direcionada para a especialização de técnicos para um manuseio mais seguro.
André rebateu: “É um mito, não é verdade que o agrotóxico é necessário”. O pesquisador apontou que existem muitas experiências em nosso país que não utilizam venenos na plantação: “Em 2012, por exemplo, o Brasil ficou em segundo lugar em um concurso da FAO, ao apresentar a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, que foi esvaziada no governo Temer e agora no governo Bolsonaro. Os resultados dessa política são reconhecidos pela FAO como uma experiência exitosa e exemplar”. Além disso, o uso indiscriminado de agrotóxicos – como acontece hoje no Brasil – não é recomendado em nenhum lugar do mundo: “Por um lado se libera mais agrotóxico, se estimula o uso de mais agrotóxicos em nosso país, e por outro se esvazia ações que permitam a gente analisar os impactos disso. Se não há impacto de agrotóxicos, se não é uma questão tão grave, porque esvaziar as ações que estimulam pesquisas – isentas, sem conflitos de interesses com as empresas, para revelar os impactos?”.
Outra questão levantada pelo abrasquiano é que as empresas que produzem os químicos não são responsabilizadas judicialmente pelos danos que estes causam – não ressarcem ao Sistema Único de Saúde, por exemplo, os custos do tratamento de quem é intoxicado no contato direto e indireto com as substâncias. Também não são responsabilizadas pela mortalidade das abelhas, pela contaminação das águas e do solo, pelo adoecimento das pessoas no campo: “Os pesquisadores que integram a Associação Brasileira de Saúde Coletiva estão muito preocupados, sabemos que a liberação acelerada de agrotóxicos vai resultar em agravamento da situação da saúde”.