A jornalista Natália Cancian, da Folha de S. Paulo, produziu uma matéria sobre a intensa liberação de agrotóxicos no Brasil em 2018, o maior número em ao menos 13 anos: 450 registros. Em 2019, já são 74 produtos ligados a agrotóxicos – cerca de um por dia – com 58 já formalizados no Diário Oficial da União. Os abrasquianos Luiz Cláudio Meirelles, do GT Saúde do Trabalhador, e Fernando Carneiro, do GT Saúde e Ambiente, foram entrevistados. Leia trechos:
O problema é que o aumento na aprovação de agrotóxicos não vem acompanhado de ações de controle, afirma o agrônomo Luiz Cláudio Meirelles, pesquisador da Fiocruz e ex-coordenador de avaliação toxicológica da Anvisa. “Temos uma imensa carência no país de dados de monitoramento do impacto dos agrotóxicos, principalmente na saúde do trabalhador”, diz.
Dos 58 produtos aprovados neste ano e que já tiveram dados divulgados no Diário Oficial da União, 21 são considerados extremamente tóxicos; 11, altamente; 19, mediamente; e 7, pouco tóxicos. Já em relação ao perigo ao ambiente, um aparece como altamente perigoso, 31 como muito perigosos, 24 como perigosos e apenas dois como pouco. Os dados dos outros 16 produtos aprovados ainda não foram informados.
“Já existe uma recomendação pela ONU [Organização das Nações Unidas] a nível internacional para que agrotóxicos altamente perigosos sejam retirados do mercado”, diz Meirelles. “O Brasil precisava efetivar substâncias de menor risco, e não as altamente perigosas.” Ele cita como exemplo a atrazina, agrotóxico proibido na Europa, mas usado amplamente no Brasil. Há outros produtos cuja liberação divide especialistas e membros do setor. É caso do sulfloxaflor, ingrediente ativo liberado no fim de 2018 e alvo de restrições recentes nos Estados Unidos por causa de seu potencial de impactar a população de abelhas.
Atualmente, tanto Anvisa quanto Ibama dizem priorizar a análise de pedidos de registro de produtos biológicos, considerados de menor toxicidade. O problema, dizem os órgãos, é que a demanda para registro desses produtos ainda é baixa. Em 2018, de 450 registros, apenas 52 eram biológicos, ou cerca de 11%. Para Meirelles, o ideal seria que houvesse mais critérios que priorizem o interesse público. “Por que vou registrar um produto classe 1, que é extremamente tóxico, se tenho outro que tem a mesma função e é classe 3?”, compara.
“Enquanto na Europa se proíbe pulverização aérea e se fala em moratória para alguns produtos, aqui é libera geral”, critica Fernando Carneiro, do grupo de trabalho de saúde e ambiente da Abrasco, para quem o país deveria investir em políticas de redução de agrotóxicos.