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Parcerias entre ciência, gestão e sociedade civil apresentam resultados no enfrentamento da Covid-19

Thereza Reis

Experiências locais feitas a partir das trocas entre diferentes profissionais e instituições, com forte integração entre serviços e universidades e  parcerias nas ações de vigilância epidemiológica e atenção primária à saúde. O resultado é a redução dos índices de contágio, ocupação de leitos e óbitos e o fortalecimento e reconhecimento do Sistema Único de Saúde.  Esse aprendizafo esteve presente nas falas do painel “Experiências locais no enfrentamento da Covid-19” , realizado e transmitido pela Ágora Abrasco em 30 de julho. A sessão contou com as participações de Ana Cristina Vidor, gerente de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis (SMS/Florianópolis-SC); Cristiana Toscano, professora do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás (IPTSP/UFG), que apresentou ações desenvolvidas pelo munípio de Rio Verde (GO); Eliana Honain, Secretária Municipal de Saúde de Araraquara (SP); e Luna Arouca, do Projeto Redes da Maré, do conjunto de favelas da Maré, no Rio de Janeiro (RJ). A coordenação da sessão foi de Geraldo Lucchese, representante da Abrasco no Conselho Nacional de Saúde e integrante do GT Vigilância Sanitária (GT VISA/Abrasco).

Ana Cristina Vidor falou sobre o início da pandemia em Florianópolis (SC), que coincidiu com aumento nos casos de sarampo e da circulação de pessoas no carnaval. E contou que as ações de vigilância epidemiológica foram intensificadas, já que o município não concordou com o que preconizavam estado e governo federal, com ações só para internados.

A gerente da vigilância epidemiológica valorizou a parceria com as universidades e explicou a utilização de plataforma de rastreamento de telefones celulares, feito a partir de check-ins realizados pelas pessoas. No cruzamento de dados, se há caso positivo, as pessoas que estiveram nos mesmos locais recebem mensagens para a realização de testes. Ana Cristina Vidor considera a flexibilização nas medidas de restrições prematura. “Até a metade de maio, estávamos até numa situação confortável, mas agora estamos em uma situação complicada de controle”, afirmou.

Gestão e ciência em diálogo:

Fruto do monitoramente e acompanhamento do grupo técnico constituído para atuação em Rio Verde e região, no oeste de Goiás, Cristiana Toscano apresentou a adoção de um lockdown intermitente, uma ‘estratégia empírica’, como a professora definiu, com 14 dias de fechamento e 14 dias de abertura. A estratégia se deu como resposta ao surto do novo coronavírus entre os trabalhadores do setor frigorífico do município, que movimenta mais de 7-0% da renda local, e que foi também agravado pela  flexibilização precoce. 

Além da estratégia do lockdown, Cristiana Toscano, que também compõe o Grupo Estratégico Internacional de Experts em Vacinas e Vacinação da Organização Mundial da Saúde (SAGE/WHO, em inglês), contou que o município adotou medidas assertivas de testagem, busca ativa de contatos e isolamento, além da ampliação da rede assistencial, do aumento no número de leitos com a construção de hospital de campanha. O horário de funcionamento das Unidades Básicas de Saúde também foi ampliado. 

Com essas ações e um acompanhamento de modelagem computacional bem calibrada, Toscano mostrou que a cidade está no caminho certo no enfrentamento da pandemia, com projeção da  tendência de estabilização no número de caso no município.

A parceria da vigilância epidemiológica e da atenção primária e o apoio das universidades, como a Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), Universidade de Araraquara (UniAra) e a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP USP) foram os pontos altos da fala de Eliana Honain. A secretária municipal de saúde de Araraquara contou que foram instalados comitês, um de enfrentamento e outro científico, para trabalharem nas respostas à pandemia no município.

Entre as estratégias adotadas na cidade estão ações de teleatendimento, protocolos de manejo clínico, expansão do horário de atendimento nas unidades de saúde e testagem. “No início, os exames enviados ao Instituto Adolfo Lutz (em São Paulo) estavam demorando muito. Fizemos uma parceria com a Faculdade de Farmácia da Unesp, que passou a realizar os exames para o município”. A diminuição no tempo facilitou as ações de bloqueio de casos positivados e identificação de comunicantes, de acordo com o que explicou a secretária.

Outro ponto abordado por Eliana Honain foi a indicação de internação precoce, para pessoas a partir de 45 anos com comorbidades no município. “Identificamos muitas pessoas na faixa entre 40 e 60 anos nos primeiros óbitos. Criamos o protocolo e os pacientes ficam internados em observação no hospital de campanha e, caso precisem, vão para suporte de ventilação. Levamos, inclusive, o protocolo para outros municípios da região”, pontuou.

Sociedade civil que age e cobra:

Luna Arouca, coordenadora do Espaço Normal da Redes da Maré, instituição da sociedade civil que atua no conjunto de favelas da Maré, no Rio de Janeiro, nos contou sobre a situação da pandemia em regiões vulneráveis, com condições estruturais que dificultam a ventilação, a falta de saneamento básico e água. Luna Arouca explicou o projeto “Maré diz não ao coronavírus”, que realiza ações de segurança alimentar, geração de renda, apoio a artistas locais e presta atendimento à população. O projeto, com foco na favela e com todas as desigualdades sociais escancaradas, é “um leque de serviços que fortalece o acesso à saúde”, ressaltou a coordenadora.

Luna Arouca contou das ações desenvolvidas, das parcerias para testagem, das ações de telemedicina e da inauguração do centro de isolamento, que funcionará ao lado de uma das unidades de saúde, atendendo pessoas com vulnerabilidades que não conseguem fazer o isolamento em casa. Além disso, a coordenadora explicou que foi feito um levantamento paralelo ao da prefeitura nas favelas da Maré e que “a cada dez pessoas sintomáticas da Maré, só três tiveram acesso ao teste”, concluiu.

Assista à sessão na íntegra:

 

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