O aborto ocupa novamente a agenda da imprensa no Brasil e no mundo. esta semana, na Alemanha, o Frankfurter Allgemeine Zeitung, um dos maiores diários do país, afirma que o vírus zika “esquentou o debate sobre a proibição do aborto” no Brasil e cita casos de mulheres que optaram por abortar “mesmo que ainda não haja uma comprovação entre a epidemia de zika e o concomitante número crescente de casos de recém-nascidos com microcefalia”.
Em menos de dois meses um grupo de investigadores, advogados e ativistas brasileiros vai interpor uma ação no Supremo Tribunal Federal brasileiro para que o aborto seja autorizado em caso de microcefalia do feto, uma diminuição do perímetro craniano associado ao vírus Zika. Débora Diniz, do Grupo de Bioética da Abrasco e representante do grupo, destaca que na argumentação que apresentará ao STF, o Estado é apresentado como “responsável pela epidemia do Zika”, por não ter erradicado o mosquito que o transmite.
A Abrasco tem acompanhado a publicação de artigos sobre o assunto e destaca a opinião de Fátima Oliveira, que publicou em 19 de janeiro, no jornal mineiro O Tempo, o artigo “Microcefalia: a República cala e permite a imolação das grávidas” onde alerta – “Numa epidemia que não sabemos quanto vai durar, empurrar milhares de mulheres para o aborto clandestino e inseguro é inominável! É o que a República está fazendo: reforçando o caráter de classe na criminalização do aborto, pois só penaliza as pobres, em geral negras, que sem dinheiro recorrem aos piores lugares, colocando em risco a saúde e até a vida. Está em vigor uma tabela nacional para aborto/microcefalia: aplicação de cloreto de potássio em clínica privada: R$ 2.000 + R$ 3.000 pelo aborto em si. Há uma segunda opção: pagar a aplicação do cloreto de potássio em serviço privado e realizar o aborto no SUS. E há o Cytotec, ainda nas mãos do narcotráfico no Brasil. Eis o cenário no qual se movem as mulheres que, após diagnóstico de feto com microcefalia, decidem interromper a gravidez. Há novos problemas clamando solução, e temos de aturar um ministro da Saúde sem repertório científico e humanitário a divagar sobre uma hipotética vacina“.
No dia 28 de janeiro, a socióloga Jacqueline Pitanguy escreve no jornal O Globo que a “interrupção da gravidez como opção de mulheres atingidas pelo vírus não tem sido colocada, com a devida relevância, na discussão sobre essa calamidade nacional“, em artigo intitulado “Zika e o direito ao aborto“.
Ainda Agora, com a nova atribuição, Suzanne usará seus 30 anos de experiência na área para tentar fomentar, entre governos e órgãos multinacionais, as pesquisas e políticas públicas adequadas no combate ao zika e na compreensão de sua relação (ainda incerta) com a microcefalia. A jornalista Thais Lazzeri entrevistou a médica para a revista Época, para a reportagem, Suzanne disse – “Estamos todos atrás de respostas. Por isso, estamos pedindo que as mulheres grávidas ou que desejam engravidar se protejam vestindo roupas longas, usando repelentes, dormindo com coberta e, como todo mundo, eliminando os focos de proliferação do mosquito. É tudo o que pode ser feito agora“.
No último dia de janeiro, a jornalista Cláudia Collucci, da Folha de São Paulo, alerta em reportagem que grávidas brasileiras estão fazendo aborto sem confirmação de microcefalia – “Grávidas com diagnóstico de infecção pelo vírus da zika estão recorrendo ao aborto clandestino antes mesmo da confirmação se o feto tem ou não microcefalia. Os preços do procedimento em clínicas particulares variam entre R$ 5.000 e R$ 15 mil, dependendo da estrutura e do estágio da gestação. Três médicos relataram à Folha casos de mulheres que já tomaram essa decisão. Todas são casadas, têm educação de nível superior, boas condições financeiras e tinham planejado a gravidez, mas se desesperaram com a possibilidade de a criança desenvolver a má-formação“, explicou Claudia.