Mesmo com distanciamento físico imposto pela pandemia e agravado pela diuturna política de um governo antidemocrático e negacionista, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) realizou eleições para dar sequência à história e iniciar sua 16ª gestão. O pleito – o primeiro 100% virtual – teve ampla participação dos associados individuais e institucionais e validou a chapa Resistir e Avançar, presidida por Rosana Onocko Campos, e as candidaturas ao Conselho Deliberativo. A cerimônia de posse foi realizada nesta sexta, 30, em Assembleia Geral com mais de 170 participantes, marcada por homenagens ao trabalho desenvolvido pela gestão de Gulnar Azevedo Silva e votos renovados à diretoria que se inicia.
A Assembleia foi aberta pela presidente Gulnar, que declarou seu pesar pelas mais de 550 mil mortes motivadas pela Covid-19 e solidariedade às famílias. “Os estudos de nossos colegas da Saúde Coletiva têm demonstrado a atitude deliberada e culposa do governo federal no trato com a pandemia”.
Na sequência, passou a palavra a Rosely Sichieri (IMS/Uerj) que presidiu a Comissão Eleitoral, também composta por Marcia Guimarães (ISC/UFF) e Adelyne Mendes (ENSP/Fiocruz). “Foi um momento muito significativo para reafirmação da relevância da Abrasco numa conjuntura tão desafiadora, e de reconhecimento público da chapa, agora nova diretoria, para nos representar de forma magnífica como a atual gestão”, disse Rosely, que destacou também a lisura do processo e o suporte ofertado pela Secretaria Executiva.
Coube a Thiago Barreto, Secretário Executivo da Abrasco, a leitura do resultado. A Abrasco conta em seu quadro com um total de 2.143 associados individuais adimplentes e 39 associados institucionais adimplentes. Participaram do pleito 787 associados individuais votantes (36,72%); sendo 771 votos na Chapa para a Diretoria (97,97%); 09 votos (1,14%) em branco e 07 votos nulos (0,89%). Dos associados institucionais, foram 27 votantes (69,23%) sendo 26 votos (96,30%) na chapa para a Diretoria e 1 voto (3,70%) em branco. Veja no final da matéria os votos descriminados para a eleição do Conselho Deliberativo.
Ao se despedir da presidência, Gulnar reforçou o sentimento de dever cumprido pelo fortalecimento de uma das principais missões da Abrasco: assegurar o direito universal à saúde e a democracia. “Seguimos firmes, em defesa do SUS e da justiça social. Deixo aqui meus votos de muito sucesso aos que assumem hoje a condução da Abrasco pelos próximos três anos. Particularmente, fico muito honrada de passar esse cargo para outra mulher, e parabenizo Rosana Onocko Campos, que assume a presidência de nossa Associação”, concluiu.
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Gratidão pelo conhecimento, alegria pela luta, esperança no futuro: “Quero começar estas breves palavras me referindo a dois sentimentos com os quais tenho aprendido a andar a vida: a alegria e gratidão”, assim proferiu Rosana Onocko Campos em suas primeiras palavras como presidente eleita da Abrasco 2021. À alegria, lembrou como nos dias atuais esse sentimento é altamente revolucionário. À gratidão, brindou os mestres que conheceu com e na Saúde Coletiva pelos nomes de Ana Maria Malik, Adolfo Chorny e Nelson Rodrigues dos Santos.
“Tenho consciência da responsabilidade que é pegar o leme de nossa instituição, em tempos difíceis e tenebrosos. Mas como diz o poeta, navegar é preciso”. Para essa condução, a presidente destacou a composição de uma nova diretoria marcada pela diversidade de gênero, de raças, de áreas e de regiões, e com grande capacidade de atuação, refletindo a vitalidade da Saúde Coletiva como um campo vivo e sempre renovado.
Dentre as riquezas da coletividade abrasquiana, Rosana ressaltou a representatividade de profissionais e trabalhadores da saúde com um grande engajamento pela defesa dos direitos do povo brasileiro. “A Abrasco nunca se furtou à luta e sempre defendeu e defenderá a democracia, a justiça social e o direito à saúde”. Reforçou ainda a necessidade da Associação manter-se atenta e bem apetrechada na defesa da ciência e tecnologia e das universidades públicas juntamente com as muitas entidades presentes na Assembleia com as quais espera seguir em diálogo e parceria.
Como destacado no programa da chapa, a gestão buscará dinamizar um trabalho interno com maior interseccionalidade e articulação dos GTs, comitês e comissões para assim produzir as contribuições da Abrasco para as respostas aos desafios brasileiros, como a urgência por maior inclusão racial e de gênero, o combate às desigualdades regionais, a defesa da Amazônia e a denúncia da violência policial.
Por fim, ressaltou a esperança como terceiro sentimento central da nova gestão. “A pandemia vai passar, este governo infame vai passar e nós precisaremos estar prontos, com soluções a oferecer para reconstruir sobre as ruínas.[…] A enxurrada de barbaridades a que assistimos todos os dias destina-se a impedir nossa capacidade de pensar, de sonhar, de criar. A ela vamos contrapor o desenvolvimento de ‘um lugar e um tempo’ – como dizia Winnicott – no qual possamos pensar e inventar soluções para os mares mais calmos que aguardam nosso braço pela frente. Porque – parafraseando o poeta – ‘a esperança equilibrista sabe que o show de todo artista deve continuar’.
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Homenagens e história: Numa sessão que contou com os presidentes Gastão Wagner, Luis Eugenio de Sousa, Luiz Augusto Facchini, José da Rocha Carvalheiro, Paulo Gadelha, José Noronha, Rita Barradas e Cecília Minayo, e do secretário executivo da fundação da Abrasco e ex-presidente da Fiocruz Paulo Buss, foram sábios e belos os desejos de sorte e confiança à nova diretoria por eles expressos, destacando também a importância de Gulnar e da gestão que se encerra.
“Ressalto a competência científica e solidária que foi a marca da gestão de Gulnar, que é um orgulho para a Abrasco e para a Saúde Coletiva brasileira, e dou boas-vindas a Rosana, que seguirá essa história com alegria e esperança”, sintetizou Facchini.
Celebraram o novo tempo da Abrasco entidades parceiras da Reforma Sanitária, nas presenças de Lúcia Souto, presidenta do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes); Dirceu Greco, presidente da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB); Fernando Pigatto, presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS); Sonia Acioli, presidente da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn); Priscila Viegas, da coordenação da Associação Brasileira dos Terapeutas Ocupacionais (Abrato) e da Frente Nacional dos Trabalhadores da Saúde (Fentas); e Lenir Santos, do Instituto de Direito Sanitário Aplicado (Idisa). Em todas as falas, os dirigentes reforçaram o papel central que a atual diretoria teve na construção de respostas e mobilizações nesse delicado momento atravessado pelo país, galvanizadas na Frente Pela Vida.
“Diante do período delicado que atravessa o país, vivemos no dia de hoje um momento especial. Nada é mais importante do que essa ação coletiva do nosso campo. A Abrasco terá, com a presidência de Rosana, um papel tão importante quanto a corajosa gestão de Gulnar, incansável na luta em defesa da vida, da democracia e do SUS”, saudou Lúcia Souto.
Da nova diretoria falaram Reinaldo Guimarães, Bernadete Coelho e Diana Anunciação, que prestou uma homenagem a Fran Demetrio, abrasquiana integrante do GT LGBTQIA+ e docente da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), recentemente falecida. Ainda fizeram uso da palavra Cristina Strauss, do GT Saúde do Trabalhador, Nelson Felice de Barros, da Coordenação do Fórum dos Coordenadores de Pós-Graduação, e o abrasquiano e deputado federal Odorico Monteiro, que sintetizou a importância da Associação por sua grande capacidade de mediar, orientar e galvanizar as forças de atores políticos e institucionais nos grandes momentos da história contemporânea da saúde do Brasil, “seja nas lutas pela redemocratização nos anos 1980, culminando na criação do SUS, seja no atual momento de crise sanitária e fragilidade do pacto federativo”. Para os momentos vividos, em curso e para os futuros, salve a Abrasco e sua nova diretoria.
Resultado das Eleições Diretoria Abrasco 2021 – 2024
PARTICIPAÇÃO
Associados individuais
Aptos: 2143
Votantes: 787 (36,72%)
Associados institucionais
Aptos: 39
Votantes: 27 (69,23%)
ELEIÇÃO DIRETORIA
Chapa Resistir e Avançar: 771 votos individuais e 26 institucionais
Branco: 9 votos individuais e 1 institucional
Nulo: 7 votos individuais
ELEIÇÃO CONSELHO
DMP/FMUSP: 684 votos individuais e 25 institucionais
DMS/FM/UFPEL: 655 votos individuais e 24 institucionais
DSC/EE/UFRGS: 644 votos individuais e 23 institucionais
ENSP/Fiocruz: 629 votos individuais e 23 institucionais
FCBS/UFVJM: 679 votos individuais e 24 institucionais
IESC/UFRJ: 591 votos individuais e 23 institucionais
IMS/UERJ: 610 votos individuais e 23 institucionais
ISC/UFBA: 675 votos individuais e 24 institucionais
PPGSC/UEA: 592 votos individuais e 23 institucionais
PPGSC/UFPB: 664 votos individuais e 25 institucionais
PPGSC/UFSC: 627 votos individuais e 23 institucionais