Numa demonstração de apoio, coesão e respaldo, a comunidade científica da Saúde Coletiva organizada na Abrasco compareceu ao chamado da diretoria da entidade para a primeira Ágora Abrasco de 2021, realizada em 27 de janeiro.
“Mais do que um painel, estamos aqui num ato de resistência e solidariedade a toda a população da cidade de Manaus e do estado do Amazonas que estão passando por grande dificuldade e seus profissionais de saúde, que heroicamente estão trabalhando em adversas condições. Estamos aqui com os nossos coordenadores de grupos temáticos, comissões e fóruns; aos quais agradecemos muito”, disse Gulnar Azevedo e Silva, saudando os mais de 40 abrasquianas e abraquianos presentes ao espaço virtual, e em diálogo aos tantos outros e outras associados e associadas na audiência.
Para trazer um quadro completo da emergência vivida, a primeira fala do painel “Pandemia na Amazônia: crise e caos” foi proferida por Luiza Garnelo, pesquisadora da Fiocruz Amazônia, integrante da diretoria da Abrasco e do GT Saúde dos Povos Indígenas. Aliando olhar social e conhecimento da realidade sanitária do estado, ressaltou a forma pendular entre capital e interior como funciona o sistema de saúde do estado. “A estimativa é de 55% dos casos da capital e 45% do interior. Com esse percentual, certamente há uma realidade invisível para dentro do estado que não conseguimos enxergar”, disse a abrasquiana.
Do local para o cenário macropolítico para entender como o Brasil chegou nessa situação, o ex-chanceler Celso Amorim relacionou o agravamento das condições sociais brasileiras evidenciadas pela pandemia com um projet de desmonte da soberania e independência brasileira nos fóruns diplomáticos internacionais, conclamando que expressemos diante da situação amazônica um grito de basta. “Não quero fazer figuras poéticas, mas temos de tratar o Amazonas como nossa Guernica. A sociedade brasileira precisa abraçar virtualmente essa importante parte do Brasil”, ressaltou o diplomata de carreira e ex-ministro de Relações Internacionais e da Defesa.
Paulo Buss encerrou o primeiro bloco articulando as relações entre a dimensão epidemiológica, social e ambiental que a emergência sanitária do Amazonas carrega. “Não há diferença entre a epidemia e o contexto. Não é a nova variante. A cadeia de contágio das doenças emergentes dos últimos 20 anos é a exploração da natureza”, arrematou.
Após as exposições, alguns dos coordenadores e representantes das estruturas da Abrasco trouxeram suas contribuições. A denúncia do que as populações indígenas estão passando esteve na fala de Ana Lúcia Pontes, coordenadora do GT Saúde dos Povos Indígenas. Já Alexandre Kalache, coordenador do GT Envelhecimento e Saúde Coletiva, lembrou que Manaus é uma das regiões brasileiras de perfil mais jovem. “Imaginem o cenário de mortalidade se essa região tivesse o perfil etário da Espanha e da Itália?”, levantou Kalache. Carlos Botazzo, do GT Saúde Bucal Coletiva; Adriano de Lavor, do GT Comunicação e Saúde, e Fátima Sueli Ribeiro, do GT Racionalidades Médicas e Práticas Integrativas e Complementares, também fizeram uso da palavra.
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