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Aids: ativistas chamam atenção ao novo governo

Agência de Notícias da Aids

O deputado federal fluminense Jair Messias Bolsonaro, de 63 anos, foi eleito novo presidente da República. Ativistas da lutam contra a aids responderam à Agência Aids o que eles esperam de Bolsonaro quando o assunto é o enfrentamento da doença do Brasil. E foram unanimes: a garantia do acesso aos antirretrovirais no SUS (Sistema Único de Saúde) e a continuidade da política de aids. “O novo presidente tem o desafio de ampliar e fortalecer o Departamento Nacional de HIV e Aids do Ministério da Saúde e garantir ações para reverter o aumento da epidemia. É preciso ter firmeza para romper com forças que violam direitos das populações mais afetadas pela epidemia”, disse o militante Salvador Correa da ABIA (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids). “Em meio ao caos instaurado, espero que as vidas de PVHA (Pessoas vivendo com HIV/aids) não sejam rifadas nas primeiras negociações com bancadas reacionárias do Congresso, ou que o Departamento das IST/aids e Hepatites Virais (DIAHV) seja fechado por um eventual ministro da saúde que pense que ‘pegou HIV que se vire, não é problema meu [Estado]’”, completou Carlos Henrique de Oliveira, do Coletivo Loka de Efavirenz. Leia a seguir:

Moysés Toniolo, da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids e membro da Anaids no Conselho Nacional de Saúde: “Eu espero do novo presidente a manutenção do compromisso assumido pelo Brasil junto a ONU para erradicar a epidemia, com maior investimento para o fortalecimento do SUS, ou seja, acabar com a Emenda Constitucional (EC) 95 e seus efeitos de teto de investimento sobre as áreas sociais, bem como acabar com a EC 86 que buscava na verba do pré-sal mais recursos para a saúde e educação pública, no Brasil. Desejo que se revertam as ações que criminalizam movimentos sociais em nome do combate ao terrorismo, que se faça uma grande pactuação em prol de reordenar a Constituição Federal para voltar a cumprir seus objetivos na seguridade social, com imediata revogação da reforma trabalhista do governo Temer, e se faça um pacto contra a corrupção. Para o Movimento Aids desejo que tenhamos a garantia do acesso universal ao tratamento e assistência pública em saúde com relação as IST/aids/hepatites virais e HTLV, cumprindo com o apoio as OSC no trabalho as populações mais vulneráveis, negligenciadas e excluídas.”

Juliana Corrêa, representante estadual do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas do Amazonas e membro da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+Brasil): “Sou mulher vivendo com HIV há 14 anos e não vou me virar e nem morrer. Queremos a manutenção e a garantia de acesso ao nosso tratamento no SUS (Sistema Único de Saúde), essa é a maior politica pública do Brasil. Queremos ainda que a universalidade, integralidade e imparcialidade aconteçam. A constituição diz que o temos garantia ao direito à vida, por isso, vamos lutar pelo cumprimento da lei. Que o novo presidente tenha ciência da importância da política de aids no Brasil e que precisamos juntos unir forças contra essa epidemia que ainda mata muita gente no Brasil e no mundo.”

Salvador Correa, psicólogo e integrante da ABIA (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids): “É fundamental que o novo presidente assuma o compromisso de seguir os 12 pontos da carta da Anaids em articulação com o legislativo – que representam as demandas do movimento de resposta à aids. É preciso ampliar os recursos para o SUS. É fundamental garantir todos os princípios do SUS, a ampliação de recursos para a resposta a aids, reforçar o papel da sociedade civil e ter peito para enfrentar as patentes de medicamentos. O novo presidente tem o desafio de ampliar e fortalecer o Departamento Nacional de HIV e Aids do Ministério da Saúde e garantir ações para reverter o aumento da epidemia. É preciso ter firmeza para romper com forças que violam direitos das populações mais afetadas pela epidemia, e valorizar os direitos humanos dos grupos em situações de vulnerabilidades, como gays, mulheres trans, travestis, trabalhadoras sexuais, mulheres e jovens negros.”

Vando de Oliveira, da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids: “Nós, pessoas vivendo com HIV/aids, queremos a manutenção da política de aids, da PrEP (profilaxia pré-exposição do HIV), a garantia na distribuição de antirretrovirais, campanhas de informação sobre o HIV/aids, a fidelidade com os dados sobre a doença e a continuidade do SUS na sua integralidade e concepção.”

Jenice Pizão, do Movimento Latino Americano e do Caribe de Mulheres Positivas: “Quero que o presidente eleito democraticamente cumpra com as políticas públicas existentes e/ou crie outras, principalmente na área da saúde e educação, para atender as necessidades da maioria da população, sempre respeitando a realidade desse Brasil continental, com suas desigualdades e diversidades, características da realidade do povo brasileiro. É importante reduzir as desigualdades para que esse povo trabalhador, sempre tão explorado, possa sentir-se respeitado e inserido nessas políticas públicas.”

Beto de Jesus, diretor da AHF (Aids Healthcare Foundation) no Brasil: “Que os direitos das pessoas vivendo com HIV/Aids sejam preservados e ampliados. Não admitiremos nenhum retrocesso! Nosso movimento já mostrou do que é capaz ao longo dos mais de 30 anos da epidemia e não iremos esmorecer.”

Rodrigo Pinheiro, presidente do Foaesp (Fórum de ONGs/Aids do Estado de São Paulo): “Espero que reveja a portaria 3992/17 que baniu a política de incentivo e entenda que a aids continua sendo um problema de saúde pública.”

Carlos Henrique de Oliveira, da Rede São Paulo Positivo e do Coletivo Loka de Efavirenz: “O Brasil chegou literalmente à beira do precipício, com a naturalização do discurso de ódio na campanha eleitoral e com o total rechaço a pautas históricas de direitos sociais e humanos. Inebriados por notícias falsas, sensacionalismos e propagandas dignas de Goebbels, nossa população se conflagra, se enfrenta nas ruas, caminhando para uma fratura social se nada for feito. E em meio ao caos instaurado, espero que as vidas de PVHA (Pessoas vivendo com HIV/aids) não sejam rifadas nas primeiras negociações com bancadas reacionárias do Congresso, ou que o Departamento das IST/aids e Hepatites Virais (DIAHV) seja fechado por um eventual ministro da saúde que pense que “pegou HIV que se vire, não é problema meu [Estado]”. Espero que a próxima presidência da república e o próximo ministério da saúde se comprometam com compromissos firmados com a ONU e com a OPAS e continue com o maior programa público de enfrentamento à epidemia de aids das Américas. Penso que independente do resultado, há um mal que já está instalado: o aumento vertiginoso do estigma e da discriminação do HIV/aids aliado com o racismo explícito e a LGBTIfobia sem disfarces. Nossas vidas já estão em risco maior, seja quem for o vencedor do pleito. Agora, se for a extrema-direita a vencedora, teremos que formar uma resistência social contra o fim do SUS e do tratamento gratuito do HIV/aids e das demais Infecções Sexualmente Transmissíveis. Será de extrema importância a unidade não só dentro do movimento de aids, como com os demais movimentos sociais, tanto na luta pela manutenção dos tratamentos, como na luta contra a criminalização do ativismo.”

Heliana Moura, do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas: “Espero que o novo presidente seja alguém que respeite as pessoas independentemente da raça/cor, gênero, credo, religião, orientação sexual, identidade de gênero, patologia, entre outros. Que seja alguém com um plano de governo onde a democracia e os direitos sociais prevaleçam. Que fortaleça o SUS e o SUAS. Que pense na saúde, educação e segurança como áreas de investimento constante e prioritárias. Que não julgue a população e invista para que todos tenham acesso à educação e saúde. Que seja um governo de amor. Que dê um basta ao ódio e a intolerância. Que seja honesto e cordial. Que não seja favorável à tortura, ao armamento e muito menos a diminuição da idade penal. Que tenha mulheres, negros e LGBTs em seu governo. E que incentive e ouça os movimentos sociais. São tantas demandas, mas o importante é que tenhamos a garantia do acesso aos tratamentos cde IST/HIV/aids, hepatites virais, câncer, diabetes, entre outras patologias crônicas e de alto custo de forma contínua e universal. E que minha liberdade de expressão seja respeitada. Esse é o presidente que quero e que mereço.”

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