Municípios nas periferias das grandes cidades e do interior do país já estão sendo prejudicados pelas mudanças abruptas provocadas no Programa Mais Médicos (PMM). Em matéria publicada nesta quinta-feira (04/04) no jornal Folha de S. Paulo, a repórter Natália Cancian apurou que, dos 7.120 médicos brasileiros que ingressaram nas duas primeiras rodadas de seleção abertas após o fim do acordo de cooperação técnica com o governo de Cuba, 1.052 profissionais – cerca de 15% do universo total – já deixaram ou sequer tomaram posse dos postos de trabalho.
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A taxa de desistência chama a atenção em comparação à média anual dos últimos anos. Entre 2013 e 2017, cerca de 20% dos médicos brasileiros que ingressaram no programa desistiram em até um ano. Agora, em menos de 3 meses das mudanças feitas no programa sob o governo Jair Bolsonaro, o registro já está em 15%. O tempo médio de permanência dos profissionais variou de uma semana a três meses. No anúncio da desistência, alegaram a busca por outros locais de trabalho e por cursos de especialização e de residência médica como motivos para o fim do contrato.
A reportagem ouviu secretários municipais de saúde Embu-Guaçu, interior de São Paulo; e em Manaquiri, no estado do Amazonas. Em ambas as cidades, os médicos não chegaram a ficar sequer dois meses em atividade, retornando a uma situação de desassistência que já havia sido superada com o trabalho dos profissionais cubanos. Dados do Ministério da Saúde apontam que o perfil de cidades onde ocorreram as primeiras desistências varia. O perfil com maior volume de saídas é o de cidades com 20% ou mais da população em extrema pobreza —324 desistências, ou 31% do total. Em seguida estão capitais e regiões metropolitanas, com 209 desistências, ou 20%.
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A reportagem ouviu Mario Scheffer, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo (DMP/FMUSP). “O que garantia a permanência sem rotatividade era a peculiaridade do contrato dos médicos cubanos, que tinha proibição de exercer a medicina fora do vínculo do Mais Médicos.”
Na visão de Scheffer, o aumento na rotatividade já era esperado diante da saída dos cubanos, mas não com tanta rapidez, o que exige maior rapidez na reposição de vagas. “Em cidades menores, a desistência pode ser mais relacionada às condições de trabalho e qualidade de vida. Mas quando essas vagas que estão inseridas em redes, em cidades maiores, há uma competição do mercado de trabalho do entorno. É preciso haver uma política em que a vaga não fique ociosa por muito tempo”, diz. Leia a matéria completa.