Antes do Grande Debate Estado Democrático e Gestão Pública da Saúde, em 30 de julho, o 11º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva prestou sua homenagem a um dos nomes fundadores da Medicina Social contemporânea, Giovanni Berlinguer. Falecido em abril deste ano, a trajetória de Berlinguer influenciou diretamente o campo da Saúde Coletiva brasileira, numa troca rica e profícua por mais de 40 anos. Para a celebração de sua vida e obra, a organização do Abrascão 2015 convidou Sônia Fleury e Gastão Wagner, co-autores com Berlinguer da obra Reforma Sanitária – Itália e Brasil, e Heleno Correia, do Grupo Temático Saúde do Trabalhador (GTST/Abrasco). A condução da cerimônia foi de José da Rocha Carvalheiro, presidente da Associação entre os anos 2006 e 2009 .
Um humanista amplo, que entendia de causas como o feminismo, o socialismo, o direito à vida e ao pensamento. Dessa forma, Sônia Fleury definiu o pensador italiano“A questão central para Berlinguer é a revalorização do homem, de que há um valor intrínseco ao homem. Nesse sentido, ele tem uma interlocução com outras áreas do pensamento, o que o aproxima mais de um caráter humanista do que socialista. Ele nos trouxe a experiência italiana quando esta só estava começando e apontava, desde o início, que a contradição da Reforma Sanitária estaria presente o tempo inteiro, até o seu limite, que é a desmercantilização da saúde e do cuidado numa sociedade em que tudo vira mercadoria, inclusive o útero e demais órgãos do corpo”.
Gastão Wagner destacou a honra de ter sido convidado quando jovem a participar da obra conjunta que influenciou gerações. Já Heleno Correia ressaltou que, se hoje os campos da saúde do trabalhador e da saúde coletiva estão juntos, isso se deve à cooperação internacional proporcionada por Berlinguer em suas inúmeras passagens pelo Brasil. “Durante os últimos 40 anos passamos por inúmeras crises que indicavam que esses campos [Saúde Coletiva e Saúde do Trabalhador] não tinham nada a ver um com o outro. Mas a nossa origem não nos autoriza a esquecer da estreita relação entre crescer, desenvolver a sociedade e partir para uma relação internacionalista, como feito por Berlinguer e tantos outros quando chegaram aqui e comportaram-se como iguais. Se alguma coisa temos construída nessa igualdade, devemos a esse militante aqui homenageado”.
Ao encerrar a celebração a Berlinguer, Carvalheiro destacou o aspecto humano do cientista e do político que, mesmo ocupando a cadeira do Senado italiano, nunca faltou com o carinho e com o interesse a qualquer tipo de pessoa.”Ele passou três meses ao meu convite como professor visitante do Instituto de Estudos Avançados da USP. Até hoje, os trabalhadores mais antigos se recordam da criatura que era Giovanni Berlinguer e da maneira como ele se relacionava com os intelectuais e os mais humildes, inclusive com o jornaleiro da Praça Panamericana, onde ele ia todo o sábado buscar jornais italianos. Ele me retribuiu recebendo-me na casa dele, em Roma. Tive a oportunidade de passar com ele pelo centro daquela cidade e perceber que o carinho e a humildade que vi no Brasil era a mesma coisa: ‘Senatori, senatori’, diziam as pessoas. Era uma criatura espetacular”.