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Brasil realiza primeiro inquérito domiciliar sobre nutrição infantil

Vilma Reis com informações de Paula Fiorito

As medidas de peso e altura das mães também serão coletadas.

Começou no Brasil o primeiro Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil – Enani. O inquérito, inédito no país, coletará informações detalhadas sobre hábitos alimentares, peso e altura de crianças de até cinco anos e realizará exame de sangue nos participantes com mais de seis meses de vida. Pela primeira vez, dados sobre o crescimento e o desenvolvimento infantil e o mapeamento sanguíneo de 14 micronutrientes, como os minerais zinco e selênio e vitaminas do complexo B, serão estudados em todo o território nacional. Informações sobre amamentação, doação de leite humano, consumo de suplementos de vitaminas e minerais, habilidades culinárias, ambiente alimentar e condições sociais da família também serão investigadas.

O coordenador nacional do Enani, Gilberto Kac, membro do Grupo Temático de Alimentação e Nutrição da Abrasco, acredita que um inquérito tão completo como este trará informações novas sobre alimentação infantil e sobre o perfil de deficiência de vitaminas e minerais e auxiliará na elaboração de políticas públicas na área de saúde e nutrição no futuro. “Os dados sobre estado nutricional antropométrico poderão ajudar a responder, por exemplo, se a desnutrição está realmente diminuindo como um problema epidemiológico. Por outro lado o estudo deverá corroborar a acertada definição do Ministério da Saúde em indicar a prevenção da obesidade com prioridade em sua agenda”, pondera.

Serão estudados 15 mil domicílios em 123 municípios de todo o país. Os primeiros estados visitados são Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Rio Grande do Sul, que recebem os entrevistadores do Enani de março a maio. O cronograma nacional segue em ciclos: Distrito Federal, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, em março e abril; Mato Grosso e Paraná em maio e junho; Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima e Tocantins em junho e julho; Goiás e São Paulo em agosto e setembro; Ceará, Maranhão e Piauí de agosto a outubro; Amapá e Pará em setembro e outubro; Alagoas, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe de setembro a novembro.

Encomendada pelo Ministério da Saúde, a pesquisa é realizada com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e é coordenada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Também participam da coordenação a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ao todo, a iniciativa conta com a participação de 60 pesquisadores de 22 instituições acadêmicas públicas e privadas de todas as regiões do país.

Para Inês Rugani, também do GT Alimentação e Nutrição em Saúde da Abrasco e pesquisadora no Enani, o Brasil nunca teve um retrato tão aprofundado da alimentação e nutrição na infância das crianças brasileiras menos de 5 anos, existem pesquisas anteriores de âmbito nacional mas que não estudaram com tanta profundidade: “É muito importante retratar essa parte da população que é muito sensível a mudanças de condições de vida, pois não sabemos o que está acontecendo com eles, nosso mais recente estudo foi em 2006, realizado na última pesquisa nacional de demografia e saúde. Temos enorme necessidade de ter uma atualização deste cenário no Brasil, pois estamos falando de questões muito importantes para a saúde de nossas crianças – enquanto são crianças e ainda saber qual o impacto que a alimentação terá quando ela for adulta, poderemos ver a magnitude da desnutrição, obesidade, anemia, e outras deficiências nutricionais específicas, para traçar um panorama do perfil de alimentação e de consumo alimentar muito detalhado o que vai permitir que a pesquisa subsidie políticas públicas atualizadas para nosso país”, explica Rugani.

Ainda do GT Alimentação e Nutrição da Abrasco participam do Enani os pesquisadores Denise Petrucci Gigante; Maria Teresa Olinto; Pedro Israel Cabral de Lira e Rafael Moreira Claro.

Exames bioquímicos

Os exames laboratoriais realizados serão hemograma completo e marcadores bioquímicos que permitam qualificar a anemia e medir, além do ferro e a ferritina, marcadores de inflamação tais como a proteína C reativa, as vitaminas do complexo B, minerais como zinco e selênio e micronutrientes com papel importante no organismo. Também será armazenada em um biorrepositório uma parcela do sangue para análises posteriores sobre marcadores genéticos e o perfil metabólico.

Gilberto explica que a coleta de sangue para análise é um dos principais diferenciais do estudo, permitindo a obtenção de dados inéditos. “Vamos investigar como certos micronutrientes como as vitaminas do complexo B, o zinco e o selênio podem estar relacionados com o desenvolvimento cognitivo e o déficit de crescimento. Atualmente, temos poucos dados sobre a avaliação do estado nutricional bioquímico. O que há disponível são estudos sobre anemia e carência de vitamina A. Não temos nenhum dado de âmbito nacional para vários dos marcadores que serão estudados”, destaca o pesquisador. Os resultados dos exames serão entregues para as famílias e, em caso de desnutrição, obesidade ou deficiência de micronutrientes, os participantes do estudo serão encaminhados para unidades de saúde próximas às suas casas.

Mães

As medidas de peso e altura das mães também serão coletadas. A pesquisa ainda engloba perguntas sobre licença maternidade e história reprodutiva.

“As informações que teremos das mães serão importantes para auxiliar na compreensão do estado nutricional infantil, visto que são as principais responsáveis pelo cuidado dos filhos. Esperamos conseguir entender alguns dos determinantes da interrupção precoce da amamentação e da introdução precoce de alimentos de baixa qualidade, como os ultraprocessados. Tudo isso é importante para a saúde da família e, sobretudo, da criança”, conta Kac.

Segurança

Todas as etapas serão realizadas por pesquisadores que estarão identificados com camisas e crachás contendo o nome e a fotografia do entrevistador, além do logotipo do Ministério da Saúde. Os dados informados são sigilosos e, em hipótese alguma, os nomes das crianças ou dos seus responsáveis serão identificados.

A participação dos indivíduos é voluntária. No início da pesquisa, o entrevistador explicará todos os procedimentos e entregará aos participantes um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Esse documento informa sobre todos os detalhes do estudo e orienta como o selecionado pode entrar em contato com a central do estudo para tirar quaisquer dúvidas que surjam, incluindo a opção gratuita de ligar para o número 0800 808 0990. A realização da pesquisa segue rigorosa metodologia científica e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFRJ.

Metodologia

A metodologia utilizada seguirá o padrão internacional mais qualificado e atual. A amostra foi calculada para ser representativa por macrorregião, idade e sexo. Um procedimento chamado “amostragem inversa” será utilizado e garantirá três mil domicílios pesquisados para cada uma das macrorregiões.

“A preocupação com a qualidade da obtenção das medidas e entrevistas é muito grande. Serão realizados oito treinamentos de uma semana cada, na qual todos os entrevistadores, supervisores e coordenadores participam, com foco no rigor científico e na obtenção de dados de qualidade”, informa Kac. Ainda estão previstos 27 treinamentos locais, um em cada estado, para capacitação dos entrevistadores na obtenção de medidas antropométricas.

A Sociedade para o Desenvolvimento da Pesquisa Científica (Science) realizou a amostragem dos domicílios e coordenará as 342 equipes responsáveis pela realização da coleta de dados. O laboratório Diagnósticos do Brasil realizará a coleta de sangue por meio de laboratórios parceiros que apresentem perfil adequado à coleta de sangue de menores de cinco anos. As amostras de sangue serão cuidadosamente coletadas, transportadas e analisadas.

Para garantir a qualidade e a segurança das informações obtidas, dois aplicativos serão utilizados: um para a obtenção dos dados do recordatório alimentar de 24 horas e outro para a captura dos dados por meio de um dispositivo móvel de coleta. Os dois sistemas foram exaustivamente testados e envolvem uma série de controles de qualidade. Os questionários aplicados e os indicadores a serem construídos permitirão não só a comparação dos resultados do Enani com os de inquéritos nacionais e internacionais, mas também oferecerão informação inédita sobre a alimentação e nutrição de crianças brasileiras.

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