A Carta de Curitiba incorpora um espírito de comprometimento local e global com a democracia, equidade e justiça. Promove os direitos sociais e “saúde para todos” em um mundo inclusivo e sustentável. Esta Carta representa a voz de pesquisadores, profissionais de saúde, membros de movimentos sociais e formuladores de políticas, que participaram da 22ª Conferência Mundial de Promoção da Saúde da União Internacional de Promoção da Saúde e da Educação (UIPES), realizada em Curitiba, em maio de 2016. A Carta de Curitiba traz as recomendações dos participantes da conferência, e enfatiza como o fortalecimento da promoção da saúde e maior equidade podem melhorar a vida das pessoas, independente de onde vivam, trabalhem, brinquem e aprendam.
Queremos lembrar que equidade é reconhecidamente um pré-requisito para a saúde e um objetivo essencial da promoção da saúde há pelo menos três décadas. Como o processo para criação dos indicadores de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável já está concluído, devemos reconhecer que alcançar equidade em saúde não é uma meta isolada. Equidade é a meta; a continuidade da iniquidade em gênero, raça e etnia é um sinal de falha do sistema.
Os participantes da 22ª Conferência Mundial de Promoção da Saúde da UIPES reconhecem seu papel e o da sociedade internacional na busca de uma agenda comum e de vínculos de solidariedade, que defenda coletivamente a priorização da democracia e dos Direitos Humanos como condições essenciais para promoção da saúde e equidade.
Todos atores envolvidos nas arenas local, nacional e internacional, devem tentar trabalhar juntos para produzir direções comuns, que levem em consideração seus respectivos papeis.
Conclamamos as organizações internacionais a reconhecer que:
1. Austeridade causa iniquidade: Saúde é um direito humano, e não deve ser tratada como mercadoria.
2. Um sistema social e econômico que acelera a acumulação de capital e resulta em concentração extrema de riqueza, é inconsistente com o alcance de metas de equidade.
3. Muitas pessoas vivem em ambiente hostil e ameaçador, e é necessário agir para eliminar práticas trabalhistas de empresas que prejudicam a saúde, causam dano ao meio ambiente, e comprometem a coesão social.
4. Elas têm um papel de apoiar os países a implementar e exigir cobrança de imposto de renda progressivo, para abordar a equidade em saúde e fortalecer o papel do Estado na promoção de políticas sociais.
Pedimos aos governos, em todos os níveis, que:
5. Implementem políticas que promovam equidade de gênero e raça/etnia como objetivo principal e medida de avaliação.
6. Reconheçam que a participação de cidadãos em decisões de saúde é um direito, e não uma concessão.
7. Utilizem estratégias inovadoras que fortaleçam e protejam o direito universal à saúde e ao bem-estar da população mundial em todos os momentos, e especialmente durante quaisquer crises financeiras.
8. Expandam a compreensão das ameaças que afetam populações vulneráveis e marginalizadas.
9. Demonstrem um uso melhor e mais transparente da política e do poder.
Reconhecemos que o setor saúde deve:
10. Estar pronto para aprender, e não simplesmente ensinar aos outros setores.
11. Elaborar políticas de promoção da saúde efetivas, e investir mais na capacidade dos sistemas de promoção da saúde de modo a implementá-los.
12. Estimular outros setores a reconhecer o impacto de suas políticas sobre a saúde humana e o bem-estar, que afeta principalmente as populações
vulneráveis.
Defendemos que cidadãos sejam convidados a:
13. Participar de uma reflexão crítica sobre seu papel como participantes ativos no exercício da cidadania.
14. Exercer seu grande potencial transformador para mobilizar e pressionar as autoridades locais para incluir equidade em saúde em sua agenda.
Estimulamos os profissionais da saúde e pesquisadores a:
15. Adotar novos processos para alcançar participação social efetiva, inclusão, ação intersetorial, e abordagens interdisciplinares.
16. Reconhecer que a prática da promoção da saúde é influenciada direta e indiretamente por políticas e ideologias.
17. Utilizar evidências como instrumento para mudança social positiva.
Precisamos de ciência com compaixão, e com abordagem intercultural para:
18. Desempenhar um papel fundamental, através do uso de múltiplas intervenções, na geração de um meio ambiente possível, e de condições que garantam apropriação dos métodos e ativação das pessoas com quem trabalham.
Ainda defendemos que TODOS – parceiros internacionais, governos, setor saúde, profissionais da saúde, pesquisadores e cidadãos – devem reconhecer:
19. Sua influência na mudança e na eliminação de todas as formas de discriminação e exclusão.
20. O potencial e a capacidade da promoção da saúde durante toda a vida.
21. Que os objetivos da Promoção da Saúde só serão plenamente atingidas através da incorporação dos quatro princípios básicos: equidade, Direitos Humanos, paz e participação.
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