Movidos pelo sentimento de justiça, indignação, luta, resistência e vontade de transformar o modelo de sociedade e de desenvolvimento de nosso país, pessoas de dezenas de organizações decidimos construir a Caravana Territorial da Bacia do Rio Doce logo após o desastre-crime ocorrido com o rompimento da barragem de Fundão no dia 05 de novembro de 2015, envolvendo as empresas mineradoras Samarco, Vale e BHP Billiton.
Tratou-se de uma enorme tragédia anunciada que matou 20 pessoas, desalojou centenas de suas casas destruídas pela lama de rejeitos, contaminou, afetou e destruiu a vida da bacia do Rio Doce, uma das mais importantes da região sudeste e do país, afetando milhões de pessoas que vivem e dependem dessa água e dessas terras. Estamos diante da maior catástrofe socioambiental do Brasil, e talvez a maior da megamineração de ferro no mundo. Como presenciamos na Caravana, os atingidos são muitos e encontram-se em diferentes escalas.
Afinal de contas, que desenvolvimento é este que mata e destrói? Quem é quem neste modelo? Que alternativas temos para construir uma sociedade mais soberana, justa, que respeite a natureza, a cultura e o trabalho de homens e mulheres?
A Caravana Territorial buscou enfrentar essas e outras questões. Ela é um instrumento político-pedagógico construído pelo movimento agroecológico no Brasil, junto com diversas entidades, redes e movimentos sociais. Ela vem sendo trabalhada desde o Encontro Nacional de Diálogos e Convergências entre Agroecologia, Saúde e Justiça Ambiental, Soberania Alimentar, Economia Solidária e Feminismo, realizado em 2011. No processo de preparação do III Encontro Nacional de Agroecologia, ocorrido em 2014, quinze (15) Caravanas foram realizadas em diferentes territórios do país, reunindo diversos/as agricultores/as, professores/as, movimentos sociais, pesquisadores/as, estudantes, coletivos e gestores públicos.
+ Relatos de um caravaneiro da Abrasco na Bacia do rio Doce, por Marcelo Firpo
As Caravanas são viagens de aprendizados, intercâmbios e construção de laços de solidariedade e luta política, que exercitam um olhar conjunto e popular a respeito do território, situando contradições, potencialidades e desafios na construção de uma nova sociedade pautada na agroecologia, na reforma agrária, na saúde coletiva, na economia solidária, na luta das mulheres, no respeito ao conhecimento dos povos e comunidades tradicionais. Buscamos dar visibilidade às denúncias e aos anúncios, aos conflitos sociais e ambientais, às experiências de resistência e de autonomia, de valorização da cultura regional e popular, de organização que marcam os locais por onde as rotas passam e ao final se encontram num local de culminância.
Ao longo de cada rota fizemos visitas, intercâmbios de experiências, observações, aulas e atos públicos, rodas de conversa entre caravaneiros/as e famílias/grupos/coletivos/moradores/as que participaram das atividades. Também celebramos a vida, vivenciamos a cultura, a alimentação solidária e a culinária, a hospitalidade da hospedagem solidária.
ACESSE A CARTA POLÍTICA DA CARAVANA TERRITORIAL DA BACIA DO RIO DOCE NA ÍNTEGRA