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Cem mil mortes pelo novo coronavírus no país: cerca de metade delas evitáveis

Thereza Reis

Foto: Agência Brasil

O Brasil registrou  oficialmente 100 mil mortos pelo novo coronavírus, em 8 de agosto. A marca, de uma enorme tragédia humanitária, traduz “o descaso e o desprezo pela vida dos brasileiros por parte das autoridades máximas do país, particularmente do governo federal, que não levam em conta as orientações científicas e das organizações de saúde”. As entidades que compõem a Frente Pela Vida, entre elas a Abrasco, emitiram nota de pesar. De acordo com especialistas, entre 40% e 50% das mortes poderiam ter sido evitadas, caso houvesse por parte do governo federal ações coordenadas com estados e municípios e um plano de enfrentamento à doença.

Em entrevista ao jornal O Povo, Guilherme Werneck, professor da UFRJ e vice-presidente da Abrasco, afirmou que as potencialidades do SUS foram subutilizadas na pandemia. “Tem um sistema de atenção básica, experiência em saúde pública e uma capacidade científica já comprovada. Temos os recursos para enfrentar de uma forma melhor do que foi feita. Estamos em uma posição que poderíamos não estar”, disse.

Domingos Alves, pesquisador da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, estimou ao jornal que, “se medidas de controle tivessem sido tomadas a partir do dia 1º de junho, quando o país iniciou o processo de reabertura em diversos locais, no mínimo 36 mil vidas teriam sido salvas”.

Em relação ao platô na curva epidemiológica que o país se encontra, Werneck afirmou ao jornal O Otimista que há diferentes períodos epidêmicos nas regiões do Brasil, fazendo com que os números se mantenham estáveis, e altos, com cerca de mil mortes diárias. “Uma questão importante para entender este equilíbrio é saber que os dados do Brasil inteiro refletem uma combinação de epidemias instáveis e diversas, que ocorrem de maneira disformes nas capitais, regiões metropolitanas e no Interior”, pontuou.

O docente da Universidade Federal do Maranhão Antonio Augusto da Silva afirmou que o tempo do início da epidemia foi diferente nos estados. “Enquanto quase todos estados do Norte e Nordeste já passaram pelo pico de casos, como é o caso do Ceará, Manaus, Sergipe e Maranhão, lugares como Paraná e Santa Catarina estão enfrentando crescimento”, disse.

O discurso negacionista do governo federal, o endosso a medicamentos e tratamentos sem evidências científicas comprovadas e as desigualdades sociais também agravam a situação da pandemia no país. “Quando se pensa na população mais pobre do País, que tem sido duramente afetada, eles anseiam por um direcionamento e precisam ouvir isso por uma mensagem única e clara. Se muitas pessoas estiverem dizendo coisas diferentes, eles vão se guiar por suas próprias ideias e podem acabar morrendo”, ressaltou Werneck, ponderando que “a testagem continua sendo muito importante para isolar os casos confirmadas e barrar contágios. Sem um trabalho efetivo, fica mais difícil intervir”, finalizou.

Para um trabalho efetivo, é imperativa a mudança no rumo da gestão da crise, como ressaltaram Gulnar Azevedo, presidente da Abrasco, Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil e Zeliete Zambon, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, em artigo publicado em O Globo neste domingo: “A demora em dar respostas contribui para outras perdas irreparáveis, para mais sofrimento e desolação. E ainda, para mais violações do direito de cada pessoa à saúde e à vida digna”.  

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