As ideias, os caminhos e os feitos de 40 anos de carreira de um dos cientistas brasileiros de maior produção e reconhecimento internacional em 40 minutos. Numa de suas participações mais pessoais e sem números entre todos os 11 congressos brasileiros de epidemiologia que participou, Cesar Victora brindou a audiência do EPI 2021 e da TV Abrasco na tarde dessa quarta-feira (24), na conferência O que a epidemiologia brasileira nos ensinou em quatro década. A presidência da sessão foi de Maria Fernanda Furtado de Lima e Costa, pesquisadora do IRR/Fiocruz e docente da UFMG, tendo presidido o 2º Congresso Brasileiro de Epidemiologia.
Ao dividir a fala em três tópicos, Victora mostrou a complexidade dessa trajetória. O jovem defensor apaixonado pela ecologia e que escolheu o curso de medicina pelo gosto das coisas do campo, aproximou-se da epidemiologia pela capacidade de ser uma ferramenta de investigação das desigualdades e de resolução de problemas sociais. Aleitamento materno, desenvolvimento infantil e as descobertas dos diferentes Brasis dentro de uma só cidade, Pelotas, na primeira e mais desenvolvida coorte do país, num trabalho que segue orientando no desenvolvimento das crianças e adolescentes de todo o planeta.
O docente que ingressou na nascente vida universitária de Pelotas e bancou a criação de um programa de pós-graduação temático, à época muito criticado pela Capes. A vivência internacional desde o início da formação pós-graduada mostrou que a epidemiologia é muito mais do que um conjunto de métodos. “Já vi tantos métodos nascerem, morrerem, ou serem abandonados. Tem de testar, conhecer e avaliar, mas precisamos ter claro que a epidemiologia é mais do que métodos. Das várias definições da área, as melhores são as que ressaltam seu objetivos em melhorar a saúde pública, minorar as iniquidades em saúde e melhorar a qualidade de vida”.
O pesquisador sênior integrante de uma das pesquisas mais relevantes para a investigação da Covid-19 – o Epicovid -, enfrentou a fábrica de fake news e as milícias digitais e presenciais, tendo equipamentos de pesquisa destruídos na coleta das amostras, sabotagem na apresentação oficial dos dados de pesquisa e suspensão de financiamento, ações que não o intimidaram e só reforçaram a coerência na recusa e renúncia à Ordem Nacional do Mérito Científico, na primeira semana de novembro.
“A reação do governo à pandemia revela um profundo conhecimento sobre os nossos métodos. Eles sabem o que funciona, e fizeram questão de fazer ao contrário, isso ficou muito claro. Os desastres ambientais que presenciamos vão propiciar novas pandemias. Vamos precisar trabalhar muito juntos com nossos colegas das Ciências Sociais e Humanas, de Política e da Comunicação e Saúde. E, embora possamos estar pessimistas, encerro com a mensagem de grande poeta gaúcho”, disse Victora ao exibir seu único slide, com o famoso Poeminha do Contra, de Mario Quintana: “Todos esses que aí estão
Atravancando meu
caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!”