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Cesar Victora fala sobre os desafios da epidemiologia brasileira para os próximos 15 anos

Flaviano Quaresma

Promover a adoção de indicadores válidos e mensuráveis tendo em vista a expectativa de vida ou prevenção de mortes prematuras; coletar dados de linha de base em 2015; monitorar metas com frequência e qualidade; investir na formação de capacidade epidemiológica onde esta é mais necessária; trabalhar com múltiplos parceiros nos níveis nacional e internacional para criar mecanismos de prestação de contas (como o Countdown to 2015); e traduzir os resultados para audiências leigas e avaliar os impactos das intervenções e programas sob condições de rotina são alguns dos muitos desafios apontados por Cesar Victora em sua Conferência Sérgio Koifman, na abertura do 9º Congresso Brasileiro de Epidemiologia da Abrasco, na noite de 7 de setembro, em Vitória (ES).

 

Com o tema “Os objetivos do desenvolvimento sustentável pós 2015”, Victora proferiu sua conferência sob quatro pilares: os objetivos até 2015, o que aprendemos com esses objetivos, os objetivos pós 2015 e alguns desafios para os epidemiologistas. Segundo o conferencista, os objetivos do milênio eram oito, dos quais, três são da área de saúde: reduzir a mortalidade infantil, a materna, combater a aids, a malária e outras doenças infecciosas. O pesquisador destaca esses três objetivos porque, segundo ele, existem alguns setores da sociedade global que defendiam que a saúde já tinha sido muito contemplada nos objetivos do milênio. “Acontece, que essas metas foram estabelecidas no ano 2000. A primeira peculiaridade para os epidemiologistas é que essas metas tinham como linha de base o ano de 1990. Quer dizer, dez anos se passaram”, explica. O significa que muitos dados que serviram de base para as metas do milênio já estavam datados. O prazo limite dessas metas é 2015, por isso, a importância de se dar tanta ênfase a esse tema e às próximas etapas.

 

A pergunta que se fazia, revela Victora, era “quem monitora esses objetivos: os países? As Nações Unidas? E muitos epidemiologistas defendiam a criação de um órgão de monitoramento dessas metas. Nesse sentido, o conferencista apresentou dados de vários países, a partir de monitoramentos realizados por órgãos como o IPEA, no Brasil. Sobre os dados da mortalidade materna no Brasil, sabe-se que a meta não será alcançada com base em pesquisas de monitoramento bem transparentes. “Isso não quer dizer que aconteça com os outros países”, ressalta Victora. De um lado, informações estatísticas que apontam uma certa unidade. De outro, dados que apresentavam disparidades representativas.

 

Entretanto, as metas do milênio não são as únicas metas, disse Victora. “Será que não estamos vivendo uma epidemia de metas?”. Todas as metas são elogiáveis, afirma o pesquisador, de todos os órgãos que definem as suas prioritárias. De acordo com Victora, o problema de tantas metas não é apenas para o epidemiologista, mas para o gestor que tem que relatar e prestar contas. E a linha de base dessas metas é 2015 e o prazo para a maioria dos objetivos é 2030. Algumas delas não têm prazos estabelecidos. A OMS defendeu o “Acesso universal à saúde” como a única. “Já a IEA propôs uma meta global: a expectativa de vida de diferentes idades porque contempla todas as causas de óbitos, determinantes sociais, ambientais e assistenciais. Mas também exige estratégias diferentes”, explica.

 

Nesse sentido, Cesar Victora sinaliza a emergência de prestar atenção para os desafios que a epidemiologia no Brasil tem para as várias instâncias relacionadas às metas estabelecidas por diversos órgãos, como os diversos objetivos até 2030. “Precisamos compreender que os epidemiologistas brasileiros têm grande papel e uma experiência epidemiológica bastante rica. Isso significa que não podemos falar apenas com nós mesmos. Precisamos internacionalizar nossas experiências, nossos dados, nossa perspicácia nos estudos epidemiológicos realizados no Brasil”, disse. Fazendo uma ponte com o tema do Epi 2014, Victora ressaltou a felicidade da sua escolha: “as fronteiras da epidemiologia contemporânea: do conhecimento científico à ação”, que converge para os grandes desafios que a epidemiologia no Brasil precisa enfrentar nos próximos anos.

 

 

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