Esta edição trata da importância do comer bem. O conceito de segurança alimentar e nutricional passa pelo consumo de nutrientes em quantidade e qualidade adequadas para garantir o bom funcionamento do organismo, promover o crescimento e o desenvolvimento apropriado de crianças e adolescentes e fornecer os recursos necessários para a manutenção da saúde e da vitalidade de adultos e idosos.
O Brasil sempre enfrentou desigualdades nutricionais. Em 2014, no entanto, atingiu a meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio de reduzir pela metade a prevalência da subnutrição e, ineditamente, ficou fora do “Mapa da Fome”. Entretanto, houve um rápido empobrecimento da população durante a pandemia de Covid-19. Milhões de brasileiros foram empurrados para a linha da pobreza ou para a pobreza extrema. Em 2022, o II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Covid-19 (II VIGISAN) mostrou que mais de metade (58,7%) da população brasileira convivia com insegurança alimentar em algum grau. E entre 14% e 17% desse contingente passava fome.
Importante dizer que não é a escassez de alimentos que levou o país a regredir a níveis dos anos da década de 1990. E sim, o aumento do desemprego, a crise sanitária, a inépcia política, o desmonte de políticas sociais, a diminuição da renda familiar, a interrupção das cadeias de suprimentos e, por fim, a guerra da Ucrânia impactaram dramaticamente a capacidade das famílias garantirem uma alimentação mínima adequada a seus membros. Perversamente, os preços dos alimentos in natura, como frutas, verduras, legumes, arroz e feijão subiram de preço e perderam espaço na mesa para produtos ultraprocessados (macarrão instantâneo, salsicha, biscoitos etc.), condenando a população mais vulnerável a uma dieta paupérrima em nutrientes e rica em calorias, sódio e gorduras saturadas.
Esse fenômeno não é novo e seu impacto na saúde pública é conhecido. Mas o retrocesso precisa ser objeto de políticas públicas eficazes, imediatas e consistentes. A fome crônica está diretamente relacionada a uma série de agravos à saúde, incluindo atraso no crescimento infantil, baixo peso ao nascer, doenças cardiovasculares, diabetes e a distúrbios mentais, como ansiedade e depressão, associados ao estresse causado pela incerteza alimentar. Proporcionar acesso ao “comer bem” é transformar o futuro, principalmente, de grande parte das crianças brasileiras – filhas da fome e do retrocesso social. Portanto, a segurança alimentar é hoje uma das mais relevantes pautas da saúde coletiva!
Confira alguns artigos temáticos desta edição:
Associação entre capital social e padrões alimentares em mulheres do Sul do Brasil
O estudou verificou a associação entre aspectos psicossociais (capital social) e padrões alimentares em mulheres adultas. Realizou-se um estudo transversal, de base populacional, com uma amostra representativa de 1.128 mulheres, de 20 a 69 anos de idade, residentes na área urbana do município de São Leopoldo, Rio Grande do Sul, em 2015. Os padrões alimentares foram identificados com base na frequência de consumo alimentar e classificados em: saudável (frutas, vegetais e alimentos integrais), de risco (alimentos ultraprocessados) e brasileiro (arroz e feijão), enquanto o capital social foi avaliado por meio de uma escala de eficácia coletiva.
Este estudo tem como objetivo analisar a associação entre a adesão à alimentação escolar e a coocorrência do consumo regular de marcadores de alimentação saudável e não saudável entre adolescentes brasileiros. Foram avaliados 67.881 adolescentes de escolas públicas brasileiras participantes da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2015.
O estudo objetivou examinar a associação entre agrupamentos de atividade física (AF), dieta e tempo de televisão (TV) com o status do peso em uma amostra representativa de estudantes brasileiros. Foram identificadas seis classes com comportamentos positivos e negativos. Adolescentes pertencentes à classe “baixo tempo de TV e alta alimentação saudável” apresentaram maior probabilidade de ter sobrepeso/obesidade em comparação com seus pares na classe “AF moderada e dieta mista”.