A modelagem serve para errar, mas também para orientar a ação e fazer a ciência avançar em cenários não conhecidos. Cada a partir de um ponto de partida particular, os expositores Cláudia Codeço (PROCC/Fiocruz), Marília Sá Carvalho (ENSP/Fiocruz), Mauricio Barreto (Cidacs/Fiocruz-Bahia, e Domingos Alves (FMRP/USP) mostraram que essa dimensão da epidemiologia tem sido fundamental e cada vez mais demandada pela sociedade no colóquio Métodos epidemiológicos e estatísticos para definir cenários da progressão da pandemia da Covid-19, transmitido na terça-feira, 14 de abril, dentro da programação da Ágora Abrasco. A coordenação foi de Guilherme Werneck, vice-presidente da Associação.
Editora da Cadernos de Saúde Pública e epidemiologista de formação, Marilia Sá Carvalho falou tanto da centralidade dos modelos conhecidos e clássicos como orientadores dos modelos atualizados, que devem guiar as tomadas de decisão de gestores e profissionais de saúde. “É fundamental tentar entender os padrões epidêmicos e como ele vai se desenvolver”, disse, destacando que qualquer modelagem no Brasil precisa levar em consideração a as desigualdades em nosso país. Ela ressaltou e pautou que a pandemia acabou abrindo a oportunidade de se debater divulgação científica, melhorar os mecanismos de fast track e pré-prints. “Temos de urgentemente de discutir a comunicação pública da ciência, e cabe à Abrasco liderar essa discussão”.
Em seguida foi a vez de Claudia Codeço. Bióloga de formação e à frente do Programa de Computação Científica da Fundação Oswaldo Cruz (PROCC/Fiocruz), Claudia é uma das coordenadoras da plataforma Info Gripe, painel sobre disseminação da gripe no Brasil, ferramenta que tem sido fundamental para a compreensão da atual pandemia, também de natureza respiratória, assim como o vírus da influenza. “Quando olhamos os dados da síndrome gripal no país esse ano, nos impressionou um número de casos muito mais do que vinha acontecendo nos últimos 10 anos.”
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A pesquisadora destacou que partir de modelos emprestados de outras realidades, da China e Europa e EUA faz parte da ciência, e que os grupos brasileiros estão aprendendo a se organizar de maneira virtual e descobrimos nossos espaços. “Ter vários grupos modelando é bom, pois nenhum é unicamente verdadeiro. Mas temos de propagar as incertezas, para ter uma visão crítica do que estamos fazendo. Seria ótimo na epidemiologia que conseguíssemos uma abordagem de síntese a partir dos modelos” disse Claudia.
Domingos Alves, físico e docente do departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, integrante do painel eletrônico de Monitoramento e análises da situação do Coronavírus no Brasil, falou de novas formas de publicação, como relatórios e ações de comunicação voltadas a gestores. “Estamos chegando a um outro patamar de fazer ciência, que para ser compatível com a ansiedade e necessidade exige uma certa agilidade e qualidade de publicação.” No entanto, frisou a necessidade de formas efetivamente solidárias no modus operandi de fazer ciência. “Ainda estamos competindo. Precisamos fazer uma colaboração mais intensiva entre grupos. Inclusive na crítica, no sentido de melhorar os modelos. Frente ao novo cenário, como podemos melhorar o trabalho em grupo entre cientistas brasileiros?” encerrou.
“Nossa questão e desafio é compreender a epidemia”. Assim Maurício Barreto abriu sua participação, concentrada na apresentação da Rede CoVida – Ciência, Informação e Solidariedade, consórcio científico liderado pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos em Saúde, da Fiocruz Bahia, com parceria do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (IS/UFBA). Já são mais de 80 pessoas divididas em 5 grandes grupos de trabalho, alimentando um painel de casos da doença em tempo real, área de notícias e de documentos.
Para alimentar o observatório, toda manhã uma parte da equipe dedica-se à avaliação da produção da ciência em tempo real, com produções relevantes e outras nem tanto. “Percebemos que, por dia, são publicados150 itens científicos, das mais diversas origens. Muitos são meras hipóteses, mas que viram fatos científicos por interesses alheios, vide a vitamina D e a cloroquina”, disse ele, que defendeu a produção do conhecimento atomizado e ação integrada.
No final do debate, a presidente Gulnar Azevedo e Silva destacou o papel da Abrasco em juntar conhecimento experiência e auxiliar a sociedade brasileira na produção de resposta via SUS, calcada no conhecimento científico e promovendo o fortalecimento dos grupos de pesquisa da Saúde Coletiva. Clique abaixo e assista na TV Abrasco.