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Com documentários, OAPS fala da produção do conhecimento e do SUS

Todas as formas de produzir conhecimento são válidas, e o audiovisual firma-se no meio acadêmico como uma linguagem capaz de promover novos e diferentes olhares sobre assuntos já conhecidos e assimilados. O Observatório de Análise em Políticas de Saúde (OAPS), sediado no Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA), tem apostado nessa estratégia e lançou em janeiro seu quarto documentário, destacando o olhar dos profissionais de saúde e da docência sobre o SUS e fechando um ciclo de vídeos que mostraram um caleidoscópio de presenças, visões e perspectivas para falar sobre a produção do conhecimento em Saúde Coletiva e do próprio Observatório.

A proposta dos quatro documentários constava entre as metas desde a elaboração e submissão do projeto do Observatório ao CNPq, em 2013. A ideia, segundo Jairnilson Paim, coordenador do OAPS, era buscar uma forma de dialogar sobre o processo político em saúde com quatro grupos: estudantes, tanto de graduação como de pós-graduação, gestores, movimentos sociais e trabalhadores da saúde.

O primeiro vídeo apresenta o OAPS para gestores do setor. “Entendíamos que a produção científica da Saúde Coletiva, especialmente da área de Política, Planejamento e Gestão em Saúde, precisava chegar aos gestores do SUS no sentido de contribuir para a tomada de decisão informada, menos baseada em crença e mais na ciência. Assim, o primeiro documentário não só explica os propósitos do OAPS, mas procura indicar possibilidades de sua utilização pelos gestores” argumenta o docente.

Já no vídeo destinado aos estudantes foi privilegiada uma interlocução que procurou espelhar o papel dos jovens como potenciais defensores do direito à saúde e das liberdades democráticas e como o conhecimento produzido no OAPS poderia servir para suas pesquisas e ações coletivas.

Os dois primeiros vídeos foram realizados em 2017. Os mais recentes foram os dedicados a dar visibilidade aos movimentos sociais da saúde, lançado em maio de 2018, e aos profissionais dos serviços e da docência, fechando o ciclo neste janeiro de 2019. “Em todos os quatro documentários buscamos valorizar a diversidade, montando um amplo mosaico de presenças e vozes, bem como o brilho individual de entrevistadas e entrevistados, apresentando pessoas que defendem suas visões em uma busca existencial de princípios – sejam políticos, científicos – e uma prática racional” diz o diretor Paulo Dourado.

Ex-coordenador da TvUFBA e do Setor de Arte e Cultura da mesma universidade, Dourado destaca a liberdade dada aos entrevistados para extrair o melhor de cada um deles. “Há uma definição clássica do documentário audiovisual que diz que o diretor dorme feliz quando 85% do material gravado não estava no script. O documentarista sabe que o bom planejamento é aquele que muda. Além disso, qualquer preparação pode destruir a espontaneidade dos depoimentos e contaminar o desempenho ‘verdadeiro’ do depoente. É essa ‘verdade’ o que mais vai ser importante na montagem final – o brilho no olho e a energia pessoal. Poderíamos dizer que os depoentes resultam como coautores da peça final”.

Essa ‘verdade’ é expressiva em boa parte das entrevistas realizadas pela equipe nesses quase dois anos de produções. Entre tantos depoimentos, Dourado e Paim destacam a participação do repentista e militante do movimento popular Bule Bule, que dá um belo depoimento sobre o sentido do SUS em sua vida no terceiro documentário. “Para muitos desses segmentos sociais o que se apresenta como mais concreto nos seus depoimentos é o SUS, com todas as suas utilidades, debilidades e potencialidades. E o que mais me entusiasma nesse vídeo é iniciar com uma ênfase no senso comum e no óbvio das filas e os maus-tratos no atendimento, reproduzidos pela mídia hegemônica, e avançar por uma percepção crítica, seja nos versos repentistas do nosso artista popular Bule Bule, seja nas análises espontaneamente elaboradas pelos líderes comunitários. Esse mérito é dos entrevistados, e também do diretor, o professor Paulo Dourado, cuja sensibilidade e experiência possibilitaram tal resultado” expressa Paim.

Dourado também ressalta a “curadoria luxuosa” feita por Paim e Isabela Cardoso Pinto na seleção e edição dos depoimentos e a rotina disciplinada do OAPS, que organizou seminários para que professores e alunos ligados ao Observatório opinassem e questionassem livremente os vídeos antes da finalização das produções.

Tais sessões são entendidas pela coordenação do OAPS como parte do processo formativo do grupo, concatenando nos documentários a contribuição do Observatório para a disputa de sentidos sobre o sistema de saúde brasileiro. “Por mais que nos orgulhemos do SUS que a academia ajudou a conceber, formular e construir, temos que levar às últimas consequências a afirmação muito difundida de que o SUS é patrimônio e conquista do povo. E a história e o papel do SUS precisam ser apropriados, cada vez mais, pelos que defendem a democracia e os direitos humanos, mas sobretudo por todas as brasileiras e brasileiros que usam o SUS, mesmo sem terem a devida consciência sanitária. Devemos ir além de uma postura iluminista ou autocongratulatória, acionando projetos como os da rede de pesquisadores e instituições que constituíram o OAPS, da Abrasco, do Cebes, da Fiocruz, do Conass entre tantos, articulando e recorrendo a diversos meios, incluindo a produção audiovisual e as redes sociais, para que a academia possa radicalizar o seu compromisso com o povo brasileiro” conclui Jairnilson Paim.

O projeto inicial do OAPS foi concluído em novembro de 2018 e o relatório já foi apresentado ao CNPq. Na quinta oficina de trabalho, realizada no final do ano passado, as equipes e os conselhos consultivo e gestor decidiram dar continuidade ao OAPS, utilizando recursos institucionais e buscando novas fontes para assegurar a sustentabilidade das atuais atividades, bem como ampliar voos e possibilitar novos projetos audiovisuais.

Clique e explore os quatro documentários no canal do OAPS no YouTube

 

 

 

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