Durante o 11º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva foi realizada a mesa Comissão da Verdade e Saúde que contou com participação da presidente da Comissão da Verdade da Reforma Sanitária Anamaria Testa Tambellini, do professor da Faculdade de Saúde Pública da USP e membro da Comissão da Verdade da Associação Paulista de Saúde Pública Carlos Botazzo, do professor aposentado da Universidade de Campinas (Unicamp) Heleno Corrêa Filho, e do diretor do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde Humberto Trigueiros. Na ocasião foi apresentada uma proposta para a construção de um relatório que possa auxiliar a nova diretoria da Associação Brasileira de Saúde Coletiva a subsidiar políticas na área.
Durante a mesa Heleno Corrêa fez um depoimento emocionante sobre o difícil período de sua vida durante a ditadura militar. Ele foi preso no início dos anos 70, quando ainda era um jovem estudante de medicina a mando do vice-reitor da universidade na época. “Naquele momento meu maior medo não era mais a prisão e sim a repressão sobre a vida e o medo fora daquele lugar”. O professor fez um paralelo sobre as situações do passado e do presente e lamentou que os mesmos mecanismos da época da ditatura estejam sendo repetidos atualmente.
A presidente da Comissão da Verdade Anamaria Tambellini destacou a parceria e apoio irrestrito da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), da Abrasco e do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) no processo de construção e consolidação da Comissão da Verdade. Anamaria expôs que boa parte dos relatos recebidos através do Sistema de Informação estão concentrados na região sudeste e que é preciso que as pessoas que sentiram a ditadura na pele se pronunciem.
“Sei o quanto é doloroso, porque passei por isso, mas não podemos nos calar, precisamos mostrar os absurdos que aconteciam na ditadura. A saúde coletiva está na dívida de investigar as mortes que aconteceram naquela época. Precisamos saber também o que aconteceu com a saúde da população brasileira durante a ditadura. Pretendemos consolidar um relatório com todas essas informações para que toda sociedade saiba o que aconteceu em nosso país”.
O diretor do Icict Humberto Trigueiros pontuou que atualmente a questão Direitos Humanos é muito presente em nosso país, porém, o Brasil é o país mais atrasado em resgatar, tornar público e tomar medidas para dar continuidade ao trabalho. “Precisamos pensar em uma ação transformadora. A ideia é trabalhar para enfrentar os problemas. O trabalho da Comissão da Verdade conta com muitas contribuições, e serve para não deixar a história morrer”, afirmou o diretor.
Na ocasião Carlos Botazzo apresentou uma proposta para a construção de um relatório que possa auxiliar a nova diretoria da Abrasco a subsidiar políticas na área. Ele destacou também que é preciso organizar uma linha de trabalho que investigue o que acontecia dentro dos hospitais na época da ditadura. Por fim, o membro da Comissão da Verdade da Associação Paulista de Saúde Pública pontou quatro características que nasceram na ditadura, mas que insistem em continuar nos assolando, a produção do silenciamento, a transmissão do pânico, o número crescente de suicídios e a quebra da ética.
A Comissão da Verdade e o Sistema de Informação para relatos
A Comissão da Verdade da Reforma Sanitária, que conta com o apoio irrestrito da ENSP, da Abrasco e do Icict, foi lançada durante o 6º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, em novembro de 2013. Seu principal objetivo é registrar a repressão política aos trabalhadores da saúde, durante a última ditadura militar no país, de 1964 a 1985. Atualmente a Comissão conta com um Sistema de Informação desenvolvido pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, cujo objetivo é receber o relato de qualquer pessoa que sofreu violação de seus direitos no período da ditadura militar.
Segundo Anamaria Tambellini, o sistema visa buscar em todo o país os trabalhadores que sofreram violação de seus direitos do ponto de vista da saúde, o que inclui família, condições de vida e moradia. “Pretendemos buscar relatos em todo Brasil de pessoas que sofreram qualquer tipo de violação de direitos. O sistema ajudará muito na busca por esses trabalhadores, além de conseguir mapear os trabalhadores da área da saúde”, explicou a presidente
Os relatos de trabalhadores da saúde que sofreram perseguições, violações, torturas, sequestros e assassinatos durante a ditadura podem ser feitos pela internet, através do Sistema de Informação (ACESSE AQUI). Para incluir o relato, é necessário fazer login e criar uma senha no site
Mesmo respeitando a deliberação dos servidores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), tomada em assembleia realizada em 23/7, que decidiu pela greve na Fiocruz, a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca participa ativamente do 11º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, que acontece de 28 de julho a 1º de agosto, em Goiânia (GO). Pesquisadores, docentes e estudantes da ENSP estão presentes nas mais diversas atividades, tais como: oficinas, conferências, debates, mesas-redondas e palestras do Abrascão 2015. A equipe de jornalismo da Coordenação de Comunicação Institucional da Escola também está realizando a cobertura do congresso. Os servidores da ENSP presentes no 11º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva têm demonstrado total mobilização pela causa – que pleiteia um reajuste que compense, ao menos, as perdas inflacionárias dos últimos anos.
As matérias feitas pelos jornalistas Pedro Leal David, Tatiane Vargas Barreto de Carvalho e Guilherme Yudi Kanno Correia – serão publicadas em breve no Portal ENSP.