O Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fiocruz – CRIS recebeu a reunião do Comitê Assessor de Relações Internacionais da Abrasco na manhã da quarta-feira, 11 de setembro. No Rio de Janeiro estavam Paulo Buss, coordenador do CRIS; Ligia Giovanela, coordenadora da Rede de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde da Abrasco e ainda Carlos Silva, secretário executivo do Cebes. Remotamente, através da internet, participaram Luis Eugenio Portela, conselheiro da Abrasco; Ana Maria Malik, professora na Fundação Getúlio Vargas; Márcia Castro, Departamento de Saúde e População Global da Escola de Saúde Pública de Harvard; Adriano Massuda, Escola de Saúde Pública de Harvard; Karina Ribeiro, International Epidemiological Association – IEA e Naomar Almeida Filho, vice-presidente da Abrasco.
Bem no centro da discussão esteve o panorama da política externa brasileira, com suas atuais dimensões e estratégias de inserção internacional, e ainda as incertezas e desafios à frente. O Comitê debateu os caminhos desta política e seu claro declínio em espiral, com perda de relevância estratégica. Foi discutido ainda o papel da Abrasco no enfrentamento do desmonte das políticas de desenvolvimento social e na perda de capacidade de influência e projeção. Quais os impactos reais desta clara redução dos espaços de manobra do Brasil no cenário internacional? Foi a pergunta que se colocou durante toda a reunião.
Os encontros internacionais de saúde também se colocaram como questões centrais nos próximos passos que o Comitê dará: por ordem cronológica está a 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU 74) – no qual se pronunciam os chefes de Estado e de governo dos Estados-membros – estende-se até 4 de outubro. Dia 23 de setembro serão realizados dois eventos de Alto Nível: a Cúpula do Clima da ONU 2019 e a Reunião de Alto Nível sobre Cobertura Universal de Saúde. Em novembro acontece a reunião anual da APHA – American Public Health Association, de 2 a 6 de novembro, na Filadélfia, EUA. Ainda em novembro acontece em Medellín, na Colômbia, o 5º Congresso latinoamericano e Caribe de Saúde Global, de 14 a 16, organizado pela Alianza Latinoamericana de Salud Global, Facultad Nacional de Salud Pública e Universidad de Antioquia. O Comitê destacou ainda a participação abrasquiana que já se organiza para o 16 º Congresso Mundial de Saúde Pública 2020, que acontecerá em Roma, Itália, de 12 a 17 de outubro.
Para Luis Eugenio, coordenador do Comitê, a Abrasco ainda tem uma atuação bastante tímida diante do potencial que a caracteriza: – “A nossa ideia é reforçar a ação internacional da Abrasco que tem dentre seus associados – sejam eles institucionais ou individuais, uma forte presença no cenário internacional, vamos conjugar esforços para que tenhamos uma atuação mais articulada e talvez mais influente, apoiando a atuação dos abrasquianos de forma mais proativa e coordenada, estabelecendo diálogos e levando a contribuição que o Brasil tem para dar (que não é pequena) aglutinando pessoas, ouvindo ideias e formulando sugestões.” explica o professor.
A onda conservadora vigente em muitos países e que tem representado substancial retrocesso nas políticas públicas, foi a questão principal colocada por Paulo Buss: – “O multilateralismo encontra-se sob fogo cerrado. Os governos dos Estados Unidos e do Brasil são os maiores devedores do sistema ONU. A lenta implementação da Agenda 2030 pode ser resultante desse misto de desencanto e boicote. Os cidadãos do mundo precisam acompanhar esse cenário e posicionar-se. Por isso, é importante que os abrasquianos busquem acompanhar o processo que se estará desdobrando nas Nações Unidas nas próximas semanas.” reforçou.
A Conferência Global sobre Cuidados Primários de Saúde que aconteceu em outubro de 2018, em Astana, capital do Casaquistão, foi o tópico abordado por Ligia Giovanella: – “Foi preciso muito trabalho para que a declaração de Astana mantivesse o espírito de Alma Ata de justiça social e direito universal à saúde. A prioridade deste Comitê precisa ser também mobilizar governos e sociedades para a construção de sistemas universais de saúde públicos e gratuitos, desenhados com base em modelos de APS que contribuam para a redução das desigualdades sociais e a promoção da saúde. É possível observar agora na Declaração que a ideia de sistemas universais perdeu espaço para a defesa da cobertura universal de saúde como forma de garantir a atenção primária. Não se trata apenas de nuances semânticas…” disse Ligia.
O secretário executivo do Cebes – Centro de Estudos Brasileiros de Saúde, Carlos Silva falou sobre a construção de um simpósio a ser realizado na Bahia, em novembro, que contará com o apoio da OPAS – Organização Pan Americana da Saúde e pretende colocar em pauta a cobertura universal e Atenção Primária à Saúde nos países latino-americanos. Para a professora Ana Maria Malik é preciso discutir como o Brasil atua no mapa internacional, “não só como uma jabuticaba mas com o nosso Sistema Único de Saúde.” O professor Adriano Massuda, que atualmente é pesquisador-visitante na Harvard School of Public Health, destacou a retomada dos trabalhos de relações internacionais da Abrasco e se colocou à disposição para incrementar o debate em torno de temas como gestão dos sistemas de saúde, a incorporação das tecnologias e a relação público e privada.”
Ao final do encontro, Luis Eugenio anunciou a adesão dos pesquisadores Nelson Gouveia, Elisabetta Recine e Carlos Coimbra no Comitê Assessor de Relações Internacionais, representando respectivamente os temas da Epidemiologia Ambiental; Alimentação e Nutrição; Saúde Indígena. Os Grupos Temáticos abrasquianos também serão convidados a participar e a secretaria executiva da Abrasco fará em breve o convite a tosos os membros para ampliar a capacidade de intervenção, agregar pessoas e pensamentos. A próxima reunião já está marcada para 18 de novembro.