A Mesa Redonda “Soberania e privatização na saúde: destinos da universalidade e equidade no SUS”, que aconteceu no último dia do 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, reuniu três pesquisadores das questões relativas à financeirização da saúde: a professora Ligia Bahia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o economista Celio Hiratuka e o professor José Carlos de Souza Braga, ambos do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Os grandes investimentos de instituições financeiras na área de saúde, especialmente os internacionais, é recente e vem criando conglomerados no setor, que são o objeto de estudo destes pesquisadores. Ligia Bahia ressaltou que não há injeção de capital somente em hospitais, mas que, por meio de fusão e aquisição, acaba-se por englobar laboratórios de exames, planos de saúde, clínicas de serviços especializados e até mesmo drogarias e farmácias. “Nossa grande questão ao estudar esse assunto era: como se produz capitalismo no setor de saúde?”.
Para Bahia, uma conclusão sobre o assunto é que não se deve olhar a dominação financeira como um mal absoluto: “Parece que há um vilão na história, se nós eliminarmos o fator renda, o capital, o dinheiro vai pra saúde pública e mais gente vai ter acesso aos serviços e isso, obviamente, não é verdade”. A professora ainda destacou o fato de que os conglomerados de saúde são grandes anunciantes, “de uma certa forma, essas empresas também controlam a mídia”.
Celio Hiratuka aproveitou sua fala para fazer um apelo aos colegas economistas. Para ele, é essencial que haja mais profissionais de Economia preocupados com o social, uma vez que é possível atuar com um pensamento no desenvolvimento do Estado e não das instituições privadas. Hiratuka apresentou dados de seu trabalho “Mudanças recentes no setor de serviços de saúde privado brasileiro: internacionalização e financeirização”, no qual demonstra como a penetração de capital estrangeiro dita o desenvolvimento do setor privado de saúde.
O economista falou sobre o capitalismo financeiro, cujo mote é a busca incessante por novos mercados e recursos. “Hoje, os investimentos vão para o setor da saúde porque é onde se vê maior possibilidade de crescimento, onde o mercado pode se expandir de forma rápida”, explicou. Porém, é preciso ter cuidado com o impacto da financeirização da saúde. “Com a gestão de hospitais, por exemplo, na mão das empresas o que interessa não é a qualidade do serviço, mas a valorização patrimonial, ou um aumento no valor das ações, mesmo que isso signifique contratar mão de obra menos qualificada ou comprar material mais barato”, afirmou Hiratuka.
Braga fechou a Mesa com uma exaltação da necessidade de estudos sobre o capitalismo financeiro. O professor acredita que “se tivermos uma visão realista da atualidade esta será, necessariamente, pessimista”. Embora isso não signifique não é seja possível lutar. “O pessimismo analítico não é determinismo, não quer dizer que jogamos a toalha”. Braga finalizou com um alerta: “As políticas sociais não podem estar subordinadas ao economicismo, às políticas econômicas, quando isso acontece temos, por exemplo, a austeridade que vemos hoje no setor de saúde, e isso é uma derrota para todos”.