“Saúde e democracia: a defesa da vida” foi o tema da mesa de abertura da etapa nacional Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde, que aconteceu no último dia 05 de agosto, na Casa de Portugal, em São Paulo. Sob a coordenação de Rosana Onocko, presidente da Abrasco, a atividade trouxe seis lideranças da saúde, representantes de diversas instituições, com diferentes trajetórias, etnias e representatividades – todos unidos pelo direito à saúde e por um SUS 100% público, com políticas integrais e de amplo acesso à sociedade. Confira abaixo os destaques dessas falas:
Luiz Augusto Facchini, da coordenação da Rede APS, discursou sobre o “SUS e Serviços de Referência Territorial”:
“Temos que avançar nos vazios assistenciais do Centro-Oeste, da Região Norte e mesmo em lugares do interior das regiões Sudeste e Sul. A maior concentração de infraestrutura do SUS está na região Sul e na região Sudeste e ainda assim, mesmo nesses territórios, temos vazios, temos carências e temos escassez.”
“Precisamos equalizar toda essa situação de modo que a nossa população desfrute das melhores condições de saúde e de um padrão de excelência do Sistema Único de Saúde, desde a vigilância em saúde articulada com o processo de trabalho das equipes de saúde da família no território até as mais sofisticadas intervenções de modo coordenado em função da atenção básica e atenção primária à saúde.“
Fátima Lima, antropóloga e professora da UFRJ, abordou como a interseccionalidade opera:
“A interseccionalidade hoje habita a academia, mas ela nasceu pela mão das mulheres negras para dizer que não tem como a gente entender uma opressão sem entender que essas opressões estão coordenadas. Raça, classe, gênero, idade, território, tudo isso é o que a gente chama de marcadores sociais e dinâmicos das diferenças.”
“A reencenação colonial é cotidiana nesse país. Nós somos o país que mais mata travestis no mundo, somos um país com índice de feminicídio altíssimo, o racismo não opera sozinho. Ele opera junto com o sexismo, com a LGBTfobia, com o etarismo, com a territorialidade. A gente precisa entender quando um eixo de opressão se torna mais profundo que o outro e quando ele merece atenção.”
Sônia Fleury, liderança do Movimento Sanitário, falou sobre “Democracia e Saúde” e como é necessário incluir as pessoas, sobretudo periféricas, nas discussões:
“Nós temos que voltar a fazer política nos conectando com a população, com a miséria, com o sofrimento. Voltar para o mundo da vida e não ficar apenas no mundo da política institucional. Pensar que a política é o cotidiano, é a fome. A política é a desigualdade, a política é a falta de emprego, e é isso que temos que tratar junto com as pessoas.“
“É preciso incorporar a potência das favelas, das periferias, dos coletivos de jovens, dos coletivos culturais em toda a favela e periferia à nossa luta. Tem que ser feita uma estratégia de saúde com as favelas e periferias porque eles já estão mobilizados, já estão organizados, são potentes e nós temos que estar junto aprendendo e fazendo junto. […] Para isso, precisamos ter comitês populares de saúde que se mantenham organizados para exigir do governo que ele cumpra com os princípios da democracia e do SUS.“
Carlos Ocké, representando a ABrES, falou sobre o “Financiamento e Sustentabilidade do SUS”:
“A aplicação de um programa emergencial em 2023 será decisiva no nosso setor para adotar objetivamente o SUS de condições materiais para reclamar o atendimento às demandas que foram represadas durante a pandemia, bem como atender as pessoas com sequelas da Covid-19 e reestruturar o programa nacional de imunização.“
“Saúde é investimento e sem meios financeiros não há como melhorar a gestão do SUS na União, estados e municípios, tampouco viabilizar sua sustentabilidade no longo prazo.”
Conceição Silva, conselheira nacional de saúde e integrante da Unegro, atentou para a importância da “Participação Popular no SUS”:
“O momento político que vivemos exige de nós unidade, acúmulo de força, organização e mobilização social para barrar os atrasos e retrocessos políticos que ferem o nosso SUS, a nossa democracia e as nossas vidas. É preciso dialogar com as comunidades, com os bairros, com as instituições, com as entidades na formulação das políticas, na participação dos conselhos e das conferências. Mas, sobretudo, reestruturar os comitês de equidade e poder fazer valer o que construímos no nosso bloco da equidade.”
Por fim, Junior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Yanomami e Yekuwana, relatou a negligência do governo com os povos indígenas, em especial os Yanomami:
“O SUS é importante para a saúde nas comunidades do povo indígena, mas muitos povos indígenas estão sem saúde. Esse ano estamos só, o povo Yanomami principalmente, perdendo muitas crianças por falta de atendimento, de médico e de medicamento. Precisamos de apoio de toda a sociedade que defende a democracia para o SUS. Nós já denunciamos muitas vezes: hoje tem muitas comunidades que estão sem profissionais da saúde, sem remédio, sem nenhum tipo de segurança.”
“Desde a entrada do governo, estamos sofrendo invasão à terra indígena Yanomami. Há seis anos que estamos sofrendo. Entraram mais de 30 mil garimpeiros na nossa terra, nos colocando em risco. Contaminaram nossos rios e muitas crianças estão morrendo de febre porque as águas foram contaminadas. Sofremos muito durante a pandemia e o governo não deu nenhum auxílio para nossas comunidades.”
Veja a mesa completa no vídeo abaixo – Confira outras matérias sobre a Conferência no site da Frente Pela Vida